Paixão de Cristo (Vatican News) |
Entramos
na Semana Santa. Neste final de Quaresma, façamos uma profunda
reflexão-preparação espiritual.
Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça – Diocese de
Nova Friburgo
Quem tem medo da cruz? Resposta: todos nós. Não
fomos feitos para a cruz. Fomos gerados para a luz, para a vida. A cruz
assombra, assusta, frustra, entristece. Faz fenecer todo sonho, o brilho dos
olhos, a paz do coração. Faz perecer o voo, o projeto da ave, agora amarrada e
sangrada. A cruz é terrível. É o nada travestido de dor, o vazio do abandono, o
frio do desmonte existencial.
Quem tem medo da cruz? Todo ser sensato tem. Mas a
pergunta é outra: quem ou o que venceria o Amor? O que ou quem derrotaria a
Luz? E a Luz e o Amor tem nome - Jesus, o Homem-Deus Salvador. Não que a cruz
não pese ou não doa. Mas, a presença do seu Amor é mais forte do que a morte! O
que é a dor do parto em relação à infinita alegria do filho-fruto? O que é a
dor do sofrimento terreno perante a alegria estrondeante da eternidade que já
pulsa e vibra dentro de nós?
Cristo venceu a cruz, porque era todo Amor. Ele
sabia que o Pai não o deixaria. Até por um momento de solidão estremeceu e
oscilou na segurança. Mas seu espírito estava entregue. Ele era plena comunhão
de Amor e de Luz com o seu Pai. E o Espírito estava com Ele. Ele atravessou o
deserto da fome e da sede, do calor e do vento gélido. Ele perseverou fiel na
dureza das tentações. Sempre nos nossos momentos de fraqueza aparecem as portas
largas do fácil e do mal. É mais cômodo jogar a toalha. É mais prático também
mais covarde abandonar o navio, a luta, a causa. Perder os princípios,
compactuar com a mentira. Fazer o jogo, vender a alma, ganhar tesouros, curtir
o egoísmo-prazer. Adorar o poder, garimpar o dinheiro. É o movimento-alucinação
do mundo, do nosso mundo roleta russa. Salve-se quem puder!
Ao contrário, o Mestre sustentou a caridade com a
fibra do despojamento e da humildade, com a força divina da constância. A
estabilidade do Bem, sem máscara, sem terceiras intenções, sem hipocrisia, sem
autopromoção. A generosidade sempre pronta daquele que tinha no cotidiano de
cada dever-missão o tempero do sentido maior do coração: a felicidade do outro,
o crescimento do irmão-amigo, a salvação da amiga-irmã. A cruz só prevalece
quando não temos a Luz e o sentido! Quando possuímos um porquê, então fazemos a
oferenda, entregamos o sacrifício. Cada dor é doação, é oferta. É "por
eles" que caminhamos. É "por eles" que sofremos. É "por
eles" que não desistimos e enfrentamos tudo e não cedemos à infidelidade.
É "por eles", gratuitamente, já nos dispensando do
"obrigado" e da necessidade lógica da gratidão e do retorno. Como é o
Amor de Cristo, puro e gratuito, só para que todos nós nos libertássemos. E
isso já é uma imensa felicidade!
Se pudermos plantar a semente e fazer crescer
alguém, isto já é um bálsamo de Deus que diz a nós ao ouvido e ao coração:
"É por aí! Vai, continua, sê feliz!" Não importa o peso do madeiro,
mesmo que diário. Transcenderemos o calvário, os chicotes, as cusparadas, as
zombarias, a lança da traição, a sensação de abandono... Não fugiremos da
missão, pois o nosso sangue é semente, nossa vida é geradora de tantas vidas e
esperanças. Se a cada passo o Amor ilumina, a cruz que era nada, se torna
instrumento-caminho do Tudo. O que era fim se transforma em meio. O que
aniquilava, agora amadurece e reforça o valor da meta. O muro aparentemente
intransponível é, na verdade, somente um obstáculo para o corredor que tem como
ideal a coroa de louros da vitória. E assim nos libertamos e corremos no
certame que nos é proposto rumo à realização eterna de Deus.
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