"Ainda que os fiéis passem
como peregrinos pelo vale deste mundo, muitas vezes de lágrimas, de cruzes, de
perseguições, de martírios, mas a vista para o alto, onde está Jesus à direita
do Pai dá força para prosseguir os caminhos duros deste mundo. O Senhor está
sempre presente pela prática da paz, e do amor a Deus, ao próximo como a si
mesmo. A Ascensão de Jesus é a vitória humana sobre o mal, porque à direita do
Pai está o Senhor com natureza humana."
por Dom
Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)
Após quarenta
dias de sua ressurreição, Jesus elevou-se ao céu, onde está sentado à direita
do Pai, sendo a sua entrada na glória de Deus. É também a exaltação da natureza
humana, a vitória humana sobre o pecado e a morte pela vida de Jesus. A
Escritura diz de uma forma clara: “Jesus foi elevado, à vista deles, e uma
nuvem ocultou aos seus olhos” (At 1,9). Jesus Cristo entrou novamente na glória
de Deus Pai com a natureza humana exaltada. Ele voltou ao Pai de onde estava
desde sempre com Deus. A seguir dar-se-á uma visão a respeito da Ascensão do
Senhor a partir dos Padres da Igreja os primeiros escritores cristãos.
A festa do oitavo dia
A Igreja
dos primeiros séculos celebrava em um conjunto a Páscoa do Senhor pela sua
morte, ressurreição e a sua glorificação[1].
A Carta a Barnabé, do século II afirmou que era celebrada com festa alegre o
oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar,
subiu aos céus[2].
A festa da Ascensão não era mencionada, mas havia uma celebração única pelo
oitavo dia que era o domingo, dia do Senhor e a Ascensão do Senhor era
celebrada pela comunidade dentro da dimensão de sua subida aos céus, à direita
de Deus.
A exaltação do Senhor
Santo
Agostinho de Hipona, bispo nos séculos IV e V afirmou que o Senhor após a
ressurreição foi exaltado além dos altos céus, sentando-se à direita do Pai.
Desta forma exortava os fiéis para dar louvores a Deus em Jesus Cristo porque a
Igreja como corpo é chamada a ir à glória com o Senhor, visando a participação
um dia como membros vivos, porque todos são chamados à unidade em um só corpo,
cuja cabeça é o Senhor Jesus[3].
Quarenta dias após a ressurreição do Senhor
São Leão
Magno, papa no século V afirmou que a Ascensão ocorreu após quarenta dias da
Ressurreição de Jesus. Foram dias santificados, dispostos segundo um plano
sagrado e empregado para a instrução, contando a partir da bem-aventurada
ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, pois o poder divino reergueu no
terceiro dia, o verdadeiro templo de Deus, Jesus Cristo[4].
O Senhor prolongou a sua presença corporal neste espaço de tempo para dar
provas necessárias à fé, à sua ressurreição. Ele apareceu às mulheres, aos
apóstolos e outros discípulos demonstrando a verdade de sua nova realidade, a
sua ressurreição e depois voltou para a glória do Pai.
A morte de Jesus
São Leão
Magno disse que a morte de Jesus turbou os corações dos discípulos pelo fato de
que eles estavam cheios de tristeza, por causa do suplício da cruz, pelo último
suspiro e do sepultamento do Mestre Jesus. Quando as santas mulheres anunciaram
que a pedra tinha sido deslocada no túmulo, o sepulcro estava vazio e os anjos
testemunharam que o Senhor estava vivo, suas palavras não receberam muito
crédito por parte dos apóstolos[5].
O Papa
afirmou que o Espírito da Verdade não permitiu que a vacilação proveniente da
fraqueza humana penetrasse na mente de seus discípulos, em vista dos
fundamentos da fé cristã, católica. Assim eles viram de modo que instruíram
outras pessoas, ouviram, deram a sua instrução, tocaram de modo que confirmaram
a vida e a pessoa de Jesus[6],
o enviado do Pai e ele voltou ao Pai, pela Ascensão.
A Ascensão, motivo de alegria para os discípulos
São Leão
disse também que os discípulos ficaram alegres pela Ascensão de Jesus aos céus.
Decorridos os dias entre a ressurreição e a Ascensão do Senhor, a Providência
de Deus estabeleceu diante dos olhos e dos corações dos discípulos, o
reconhecimento do Senhor Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitado, como
verdadeiramente ele havia nascido, crescido, sofrido e morrido. Os apóstolos,
atemorizados com a morte do Mestre na cruz e oscilantes da fé na ressurreição,
fortaleceram-se com a evidência da verdade que a subida do Senhor aos céus não
só entristeceu por verem Jesus subindo, mas encheu-os de grande alegria (Lc
24,52)[7].
A natureza humana elevada
O Papa
disse que era grande e inefável motivo de júbilo a elevação da natureza humana
na presença acima da dignidade de todas as criaturas celestes, ultrapassar as
ordens angélicas, dos santos anjos, e subir mais alto que os arcanjos,
atingindo o termo de sua ascensão, sendo assentada junto do eterno Pai, sendo
assim associada ao trono de glória Daquele a cuja natureza estava sempre em
unidade com o Filho[8].
A Ascensão de Cristo é a nossa exaltação
A Ascensão
do Senhor é, portanto, a exaltação humana e é para lá onde precedeu a glória da
Cabeça, é atraída a esperança do Corpo. É fundamental exultar, repletos de
alegria com piedosa ação de graças, porque não só o ser humano foi firmado como
possuidor do paraíso, mas até ele foi penetrado com Cristo no mais alto dos
céus, tendo obtido pela inefável graça de Cristo, muito mais do que foi perdido
no início da criação. O Filho de Deus colocou a natureza humana junto de si, à
direita do Pai[9].
Páscoa e Ascensão
Para São
Leão Magno as duas solenidades estão bem relacionadas, interligadas. Se na
solenidade pascal, a ressurreição do Senhor foi causa da alegria para as
mulheres, aos discípulos e para a humanidade, a sua Ascensão aos céus é motivo
presente de alegria, enquanto faz-se memória e venera-se aquele dia em que a
humildade da natureza humana em Cristo foi elevada acima de todas as
milícias celestes, das ordens dos anjos, além das potestades, ao trono de Deus
Pai[10].
É preciso ter fé neste mistério porque ele exalta o ser humano além do que é
visível, para estar no invisível.
A felicidade da Ascensão
Cristo deu
ao ser humano a felicidade porque tendo consumado a pregação evangélica e tendo
cumprido os mistérios do Novo Testamento, no quadragésimo dia após a
ressurreição, diante de seus discípulos, elevou-se aos céus (Lc 24,52; Mc
16,19). Ele pôs fim à sua presença corporal, pois permanece à direita do Pai
até decorreram os tempos determinados por Deus, na propagação da Igreja pelos
seus filhos e filhas e ele volte para julgar os vivos e os mortos, com o mesmo
corpo com o qual ele subiu[11].
Para o Papa Leão tudo o que havia de visível no Redentor da humanidade, passou
para os mistérios[12].
A fé na Ascensão de Jesus fez muitas pessoas no passado e também no presente a
dar a vida pelo Senhor[13].
A sua presença junto ao seu povo
O Senhor
Jesus pela sua Ascensão está na majestade paterna de modo que pela maneira
inefável começou a estar mais presente pela divindade. São Leão Magno reforçou
o dado bíblico que quando Jesus subiu aos céus dois anjos falaram para os
discípulos para que vivessem a missão junto ao povo, pois o Senhor virá da
mesma forma que ele subiu aos céus (At 1,1)[14].
Jesus garantiu a sua presença no meio do povo de Deus, para que a sua missão na
Igreja continuasse nas pessoas deles, através da fé, da esperança e da
caridade.
São Leão
Magno afirmou que é preciso levantar os olhos dos corações humanos às alturas
onde Cristo se encontra. Os desejos da terra não deprimam os espíritos chamados
para o alto. Ainda que os fiéis passem como peregrinos pelo vale deste mundo[15],
muitas vezes de lágrimas, de cruzes, de perseguições, de martírios, mas a vista
para o alto, onde está Jesus à direita do Pai dá força para prosseguir os
caminhos duros deste mundo. O Senhor está sempre presente pela prática da paz,
e do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A Ascensão de Jesus é a vitória
humana sobre o mal, porque à direita do Pai está o Senhor com natureza humana.
[1] Cfr.
V. Saxer - .S. Heid. Ascensione. In: Nuovo Dizionario
Patristico e di Antichità Cristiane, diretto da Angelo Di Berardino. Genova-Milano,
Marietti, 2006, pg. 569.
[2] Cfr. Carta
de Barnabé, 15,9. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus,
1995, pg. 310.
[3] Cfr.
Agostino. Le Lettere, II,142,1-2 (A Saturnino ed Eufrate).
In: La Teologia dei Padri, vol. 4. Roma, Città Nuova
Editrice1982, pg. 20.
[4] Cfr. LXXIII
Sermão. Primeiro Sermão na Ascensão do Senhor, 1. In: Sermões. Leão
Magno. São Paulo, Paulus, 1996, pg. 168.
[5] Cfr. Idem,
pg. 168.
[6] Cfr. Idem,
pg. 169.
[7] Cfr. Idem,
2, pgs. 170-171.
[8] Cfr. Idem,
4, pg. 171.
[9] Cfr Idem,
4, pg. 171.
[10] Cfr. LXXIV.
Segundo Sermão na Ascensão do Senhor, 1. Idem, pgs. 172-173.
[11] Cfr. Idem,
2. pg. 173.
[12] Cfr. Idem,
pg. 174.
[13] Cfr. Idem,
3, pg. 174.
[14] Cfr. Idem,
4, pg. 175.
[15] Cfr. Idem, pg. 176.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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