"O Concílio não trouxe
apenas uma renovação da Igreja. Não é uma questão de renovação, mas um desafio
para tornar a Igreja cada vez mais viva. O Concílio não renova, ele rejuvenesce
a Igreja. A Igreja é uma mãe que sempre vai em frente. O Concílio abriu as
portas a um maior amadurecimento, mais sintonizado com os sinais dos
tempos."
Jackson
Erpen - Cidade do Vaticano
“Um
acontecimento de graça para a Igreja e para o mundo. Um evento cujos frutos não
se esgotaram”. Não poucas vezes ao longo de seu Pontificado o Papa Francisco
destacou a importância do Concílio Vaticano II para a vida de Igreja, cujo 60º
aniversário de abertura foi recordado com uma Missa por
ele presidida na Basílica de São Pedro em 11 de outubro de 2022.
No prefácio do
livro “João XXIII. Vaticano II, um Concílio para o mundo”,
lançado pouco antes, o Papa afirma que “que o último Concílio Ecumênico ainda
não foi totalmente compreendido, vivido e aplicado. Estamos a caminho, e uma
etapa fundamental deste caminho é a que vivemos com o Sínodo e que nos pede
para sair da lógica do "sempre se fez assim", da aplicação dos mesmos
velhos esquemas, do reducionismo que acaba querendo sempre enquadrar tudo no
que já é conhecido e praticado.”
Ou seja, as
mudanças ocorridas passo a passo na vida da Igreja desde o evento conciliar,
ajudam a viver melhor o processo sinodal, que “se faz sobretudo de escuta,
envolvimento, capacidade de dar lugar ao sopro do Espírito, deixando-lhe a
possibilidade de nos guiar.”
Francisco
voltou a destacar esses aspectos do Concílio em uma entrevista publicada em
fevereiro de 2023, que é o tema deste nosso programa. Pe. Gerson
Schmidt*:
"Por
ocasião do décimo aniversário de seu pontificado, o Papa Francisco concordou em
conceder uma entrevista a
Emmanuel Van Lierde. Na primeira parte desta entrevista exclusiva ao
semanário belga Tertio/CathoBel, Francisco falou sobre o Concílio Vaticano II.
A entrevista foi publicada pelo periódico CathoBel, em 28/02 deste ano. A
pergunta do jornalista entrevistador foi a seguinte: “O nome que você escolheu
como Papa também incluiu um programa. Nos passos de Francisco de Assis, você
quer reconstruir e renovar a Igreja, preocupa-se com os pobres e a terra,
trabalha pela paz e importa-se com o diálogo inter-religioso. Outro fio condutor
para entender o seu pontificado é o Concílio Vaticano II (1962-1965), mesmo que
você seja o primeiro Papa a não ter participado dele fisicamente. Por que a
busca pela realização deste Concílio lhe é tão importante? O que está em
jogo?”.
A pergunta
do repórter já nos remete a adentrar em nosso espaço memória histórico 60 anos
do Concílio. A resposta do Papa Francisco foi a seguinte. Palavras textuais de
nosso querida Papa:
“Os
historiadores dizem que é preciso um século para que as decisões de um Concílio
entrem plenamente em vigor e sejam implementadas. Então temos mais 40 anos pela
frente… Estou tão preocupado com o Concílio porque este evento foi na verdade
uma visita de Deus à sua Igreja. O Concílio foi uma daquelas coisas que Deus
faz na história através de pessoas santas. Talvez quando João XXIII o anunciou,
ninguém percebeu o que iria acontecer. Dizem que ele mesmo pensou que estaria
concluído em um mês, mas um cardeal reagiu dizendo: “Comece a comprar os móveis
e tudo mais, porque levará anos”. Ele levou isso em conta, mas João XXIII foi
um homem aberto aos apelos do Senhor. É assim que Deus fala ao seu povo. O
Concílio abriu as portas a um maior amadurecimento, mais sintonizado com os
sinais dos tempos” – reinterou o Papa Francisco. O Papa afirmar que o evento do
Concílio foi na verdade uma visita de Deus à sua Igreja soa para nós como algo
muito maravilhoso. Deus não abandona sua Igreja e a visita e assiste
constantemente.
Continua o
Sumo Pontífice, em entrevista à revista semanal belga:
“E
ali – no Concílio – Ele (Deus) realmente nos falou. O Concílio não trouxe
apenas uma renovação da Igreja. Não é uma questão de renovação, mas um desafio
para tornar a Igreja cada vez mais viva. O Concílio não renova, ele rejuvenesce
a Igreja. A Igreja é uma mãe que sempre vai em frente. O Concílio abriu as
portas a um maior amadurecimento, mais sintonizado com os sinais dos tempos.
A Lumen Gentium, por exemplo, a Constituição Dogmática sobre a
Igreja, é um dos documentos mais tradicionais e, ao mesmo tempo, um dos mais
modernos, porque na estrutura da Igreja o tradicional – se bem entendido – é
sempre moderno. Isso ocorre porque a tradição continua a se desenvolver e a
crescer.
Como disse
o monge francês Vincent de Lérins no século V, os dogmas devem continuar a se
desenvolver, mas de acordo com esta metodologia: “Ut annis scilicet
consolidetur, dilatetur tempore, sublimetur aetate” (“Que sejam
consolidados pelos anos, expandidos pelo tempo, exaltados pela idade”). Ou
seja: a partir da raiz, continuamos sempre a crescer”.
São
palavras profundas do Papa nessa entrevista falando sobre o concilio, que
rejuvenesce a Igreja e talvez precise ainda 40 anos para aplicar um Concilio. O
documento Lumen Gentium, que nesse espaço há meses estamos aprofundando
amplamente, tem uma estrutura tradicional e outra moderna. A doutrina
dogmática, como disse o monge francês supracitado, precisa ser consolidada
pelos anos, expandida pelo tempo, exaltada pela idade. Como já dizia o Papa
Bento XVI não há ruptura, mas continuidade da Igreja milenar. Assim se
expressou Papa Francisco: “O Concílio deu esse passo adiante, sem cortar a
raiz, porque isso não é possível se queremos produzir frutos. O Concílio é a
voz da Igreja para o nosso tempo, e neste momento, por um século, estamos
colocando-o em prática”.
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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