Por Pe. Nilton Cesar Boni, cmf
Jó, o lutador sofrido.
Jó é um dos personagens bíblicos mais importantes,
cujo livro nos faz meditar sobre o sentido da vida. Não existe uma definição
para seu nome, mas, alguns especialistas o vincularam à ideia de “inimizade” ou
“inimigo inveterado” (raiz hebraica); na raiz árabe seria “arrependido” ou
“penitente”. É considerado um homem “justo e honrado, religioso e separado do
mal” (Jó 1,1); um sábio, que se sente hostilizado e perseguido pelas pessoas e
por Deus. Ele é o protótipo do sofredor que está em constante diálogo e
conflitos com o transcendente.
Quem se decide pela leitura do Livro de Jó deve
levar em consideração o contexto de sua vida e suas lutas. Normalmente, as
pessoas desistem de lê-lo devido ao diálogo sem coordenação no desenvolvimento
do discurso. Parece haver incoerência nas falas e isso se explica pela
constante tensão do autor com as perdas existenciais e as mudanças que lhe são
imputadas. Os conflitos descritos por Jó fazem referência à integridade humana
na tentativa de se reconstruir diante da graça. Ele aborda o tema do sofrimento
de maneira natural e vivencial que mistura fé, esperança, indignação, revolta,
medos, temas próprios de cada ser humano que se questiona diante dos desafios e
quer superá-los com a força de Deus.
Não é pelo fato de ser justo e coerente que está
livre do sofrimento e do mal que o mundo promove. Ele sentiu na pele a dor de
quem ama a Deus e quer fazer de tudo para caminhar na luz. Diante das perdas
materiais e espirituais, Jó larga as ilusões de uma vida de sucesso, rejeita as
interpretações dadas por seus amigos a respeito de seu destino, não se sente
culpado pelos fracassos, pois sabe que não agiu contra os desígnios de Deus.
Ele é um homem correto que segue sua luta em sintonia com Deus, tem claros seus
valores e é sensível ao sofrimento e às consequências de seus dramas.
A vocação de Jó ilumina o ser humano de cada tempo
a buscar respostas aos seus mistérios sem conformar-se com os preconceitos e as
respostas prontas que mais o fazem distanciar-se do potencial de vida do que
encontrá-los. É preciso ter a coragem de Jó para passar pelas trevas e
manter-se unido ao caule da vida que nos dá outra compreensão da existência.
Ele viveu o despojamento como sinal de maturidade e liberdade. Essa é a
sabedoria que Jó encontra: tudo está inter-relacionado e é Javé quem a possui.
Deus é providente e “Se aceitarmos de Deus os bens, não vamos aceitar os
males?” (Jó 2,10). A confiança em Deus faz com que Jó receba de volta todas as
suas posses, tornando-se mais rico ainda. Isso quer dizer que seu sofrimento
foi redentor e ele o compreendeu, integrou e fecundou, tornando seus últimos
dias repletos de sentido e compaixão. Foi um longo e maduro processo de entrega
e mudança interior envolvendo um querer humano e divino.
Vida bem-sucedida é antes de tudo restabelecer a autoestima diante dos confrontos e reafirmar os valores que são eternos. Deus não abandona Jó, mas se deixa interpelar. Deus está sempre pronto a responder ao que nosso coração busca.
Fonte: https://revistaavemaria.com.br/
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