O cardeal prefeito do Dicastério
para a Doutrina da Fé falou em uma conferência dedicada à audácia do documento
do Papa Montini: ideologias que rompem o vínculo entre liberdade e natureza
abriram caminho para a desumanização da sexualidade.
Alessandro
De Carolis – Vatican News
Uma visão
"antropológica integral" sobre o amor e a sexualidade humana,
entendida de acordo com o plano de Deus, que 55 anos depois de sua publicação
continua a propor uma sublime verdade negada por décadas de "antropologia
contraceptiva", que dividiu aquela visão unificada. Esse é o valor
da Humanae Vitae, a Encíclica de Paulo VI publicada em julho de 68,
destacada pelo cardeal Luís Francisco Ladaria Ferrer, prefeito do Dicastério
para a Doutrina da Fé. O cardeal falou hoje, 19 de maio, no Augustinianum, na
abertura de um estudo de dois dias dedicado ao documento, organizado pela
Cátedra Internacional de Bioética Jérôme Lejeune.
Conexão inseparável
"A
audácia de uma Encíclica sobre sexualidade e procriação" é o título da
conferência e, para o cardeal Ladaria, a audácia do que Paulo VI escreveu
"é muito mais profunda" do que ter resistido "às pressões"
que exigiam "a aprovação do uso de anticoncepcionais hormonais nas
relações sexuais dentro do matrimônio católico". A coragem da Humanae
Vitae, disse o cardeal, é de "caráter antropológico" porque mostrou a
vocação divina da sexualidade, ou seja, "a conexão inseparável que Deus
quis" entre "os dois significados do ato conjugal: o significado
unitivo e o significado procriativo".
Não mais um dom, mas um produto
Pelo
contrário, continuou o prefeito do Vaticano, a moral contraceptiva que se
afirmou em contraste com a Encíclica coloca a natureza, o próprio corpo, em
oposição a um conceito de liberdade que pretende mudar as "condições do
amor conjugal". De acordo com essa visão, argumentou o Cardeal Ladaria, o
que importa é uma "união afetiva" e o ato sexual não é importante que
responda "a um significado preexistente, natural ou estabelecido por Deus,
mas simplesmente que seja um ato livre". Nesse sentido, disse ele, o corpo
"reduzido à pura materialidade" abriu caminho, ao longo do tempo,
para uma série de desvios, em particular "uma diminuição alarmante dos
nascimentos e uma multiplicação do número de abortos". O controle da
natalidade por meio do uso de contraceptivos "evoluiu", ele
estigmatizou, "para a manipulação artificial da transmissão da vida por
meio de técnicas de reprodução assistida". Primeiro foi aceita a
sexualidade sem filhos, depois foi aceita a produção de filhos sem o ato sexual.
A vida produzida não é mais considerada, em si mesma, como uma 'dádiva', mas
como um 'produto' e é valorizada em termos de utilidade".
Liberdade e natureza são unidade, não contraste
Uma manipulação constante, continuou o cardeal, encontrada tanto na ideologia de gênero - na qual não é o corpo que identifica uma pessoa, mas sua orientação - quanto no "transumanismo", no qual a pessoa que está sendo "reduzida à sua mente" pode transferir sua essência "para outro corpo humano, para um corpo animal, para um ciborgue, para um simples arquivo de memória". E dessa antropologia, insistiu o Cardeal Ladaria, "o ciborgue aparece como sua plena realização", uma vez que aceita a "construção do corpo e do sexo por meio da biotecnologia", um mundo - em uma síntese extrema - "sem maternidade" e, portanto, "pós-humano". Em vez disso, a Encíclica Humanae vitae, concluiu o chefe do dicastério, permanece "ainda válida", de fato profética, porque, ao rejeitar aqueles que se apresentam como "verdadeiros anti-humanismos", propõe "uma antropologia capaz de unir a liberdade com a natureza".
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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