Basílica de Santo Agostinho em Roma | Presbíteros |
Mitos litúrgicos
Mito 29: “O que importa é o coração”
Não exclusivamente.
Aos que afirmam que “o que importa é o coração”, vale lembrar que aqui
não cabe a aplicação deste princípio, pois isso implicaria colocar-se em
contraposição com grandes parte das normas litúrgicas da Santa Igreja, bem como
com os diversos sinais e símbolos litúrgicos (paramentos, velas, flores,
incenso, gestos do corpo, etc), que partem da necessidade de se manifestar com
sinais externos a fé católica a respeito do que acontece no Santo Sacrifício da
Missa, bem como manifestar externamente a honra devida a Deus. A atitude
interna é fundamental, mas desprezar as atitudes externas é um erro.
A este respeito, escreveu o saudoso Papa João Paulo II: “De modo
particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no
culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da Presença Real de Cristo,
tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o
comportamento no seu todo. (…) Numa palavra, é necessário que todo o modo de
tratar a Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis seja caracterizado por
um respeito extremo.” (Mane Nobiscum Domine, 18)
O ser humano é corpo e alma, e faz parte da natureza humana manifestar a
disposição interior por meio de gestos (abraçar, dar presente, se vestir bem,
arrumar a mesa para uma festa). E a Sagrada Liturgia é perfeitamente compatível
com a natureza e as necessidades do ser humano.
É preciso haver um equilíbrio no sentido de que a disposição interna é
expressa pelos gestos externos, e os gestos externos, por sua vez, reforçam a
disposição interna. É um círculo vicioso.
Os gestos externos sem a disposição interior são um erro (farisaísmo); a
disposição interior sem a atenção aos gestos externos também é um erro, pois se
contrapõe à elementos fundamentais da Sagrada Liturgia (afinal, somos alma e
corpo, não somos o “Gasparzinho”).
Por exemplo: como vamos convencer o mundo que Nosso Senhor Jesus Cristo
está verdadeiramente presente no Santíssimo Sacramento, se tratarmos a Hóstia
Consagrada como um alimento qualquer?
É preciso frisar aqui a importância do vestir-se com solenidade na
Sagrada Liturgia. O Catecismo da Igreja Católica (n. 1387) afirma, sobre o
momento da Sagrada Comunhão: “A atitude corporal – gestos, roupa – há de se
traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se
torna nosso hóspede.”
É preciso evitar, então, primeiramente as roupas que expõe o corpo de
forma escandalosa, como decotes profundos, shorts curtos ou blusas que mostrem
a barriga. Mas convém que se evite também tudo o que contraria, como afirma o
Catecismo, a alegria, a solenidade e o respeito – isto é, banaliza o momento
sagrado.
O bom senso nos mostra, por exemplo, que partindo d princípio da solenidade,
é melhor que se use uma calça do que uma bermuda. Ora, na nossa cultura, não se
vai a um encontro social solene usando uma bermuda!
O bom senso nos mostra também que, partido do princípio do respeito e da
não-banalização do sagrado, é melhor que se evite roupas que chamam atenção
para o corpo ou para elementos não relacionados com a Sagrada Liturgia. É
melhor que uma mulher, por exemplo, utilize uma blusa com mangas do que um
blusa de alcinha; é melhor que utilize uma calça discreta, saia ou vestido do
que uma calça “mulher-gato” (isto é, apertadíssima); também é melhor que se
utilize, por exemplo, uma camisa ou camiseta discreta do que uma camiseta do
Internacional ou do Grêmio.
São Josemaria Escrivá, em um de suas fantásticas homilias, recorda seus
tempos de infância, dizendo: “”Lembro-me de como as pessoas se preparavam para
comungar: havia esmero em arrumar bem a alma e o corpo. As melhores roupas, o
cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até com um pouco de
perfume. Eram delicadezas próprias de gente enamorada, de almas finas e retas,
que sabiam pagar Amor com amor.” Afirma ainda: “Quando na terra se recebem
pessoas investidas em autoridade, preparam-se luzes, música e vestes de gala.
Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira não devemos
preparar-nos?” (“Homilias sobre a Eucaristia”, Ed. Quadrante)
Vivemos em uma sociedade de imagens, e uma imagem fala mais do que mil
palavras…
Fonte: https://presbiteros.org.br/
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