O estudo e a formação despertam
interesse e admiração, mas é a coerência da vida cristã que atrai, disse
Francisco na Audiência Geral referindo-se à missão do jesuíta que, superando
dificuldades e perigos, conseguiu entrar no grande país asiático há 500 anos e
anunciar a fé cristã, modelo de inculturação.
Mariangela
Jaguraba - Vatican News
A catequese
do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (31/07), teve como
exemplo de zelo apostólico o pe. Matteo Ricci, italiano que foi à China.
"Natural
de Macerata, na região das Marcas, depois de ter estudado nas escolas dos
jesuítas e de ter entrado na Companhia de Jesus, entusiasmado pelos relatórios
dos missionários, como muitos outros jovens, seus companheiros, pediu para ser
enviado para as missões do Extremo Oriente. Depois da tentativa de Francisco
Xavier, mais vinte e cinco jesuítas procuraram, sem sucesso, entrar na
China", sublinhou o Papa.
De acordo
com Francisco, "Matteo Ricci e um de seus confrades se prepararam muito
bem, estudando cuidadosamente a língua e os costumes chineses, e no final
conseguiram estabelecer-se no sul do país. Foram necessários dezoito anos, com
quatro etapas em quatro cidades diferentes, antes de chegar a Pequim, que era o
centro. Com constância e paciência, animado por uma fé inabalável, Matteo Ricci
conseguiu superar dificuldades e perigos, desconfianças e oposições. Ele
seguiu sempre o caminho do diálogo e da amizade com todas as pessoas que
encontrou, e isto abriu-lhe muitas portas para o anúncio da fé cristã".
Comportamento de inculturação
A sua
primeira obra em língua chinesa foi precisamente um tratado "Sobre a
amizade", que teve grande ressonância. Para se integrar na cultura e na
vida chinesas, num primeiro período vestia-se como os bonzos budistas, conforme
o costume do país, mas depois compreendeu que a melhor maneira era assumir o
estilo de vida e os trajes dos eruditos. Estudou profundamente os seus textos
clássicos, a fim de poder apresentar o cristianismo em diálogo positivo com a
sua sabedoria confucionista e os usos e costumes da sociedade chinesa. Isso
se chama um comportamento de inculturação. Estes missionários souberam
“inculturar” a fé cristã em diálogo com a cultura grega.
Segundo o
Papa, "a sua excelente preparação científica suscitava o interesse e a
admiração dos homens cultos, começando pelo seu famoso mapa-múndi, o mapa de
todo o mundo então conhecido, com os diferentes continentes, que revela aos
chineses, pela primeira vez, uma realidade fora da China muito mais vasta do
que pensavam".
De acordo
com o Papa, "os conhecimentos matemáticos e astronômicos de Ricci e de
seus seguidores missionários contribuíram para um encontro fecundo entre a
cultura e a ciência do Ocidente e do Oriente, que então viverá uma das suas
épocas mais felizes, no sinal do diálogo e da amizade. Com efeito, a obra de
Matteo Ricci nunca teria sido possível sem a colaboração de seus grandes amigos
chineses, como os famosos “Doutor Paulo” (Xu Guangqi) e o “Doutor Leão” (Li
Zhizao)".
A coerência dos evangelizadores
"No
entanto, a fama de Ricci como homem de ciência não deve obscurecer a motivação
mais profunda de todos os seus esforços: o anúncio do Evangelho. A
credibilidade obtida mediante o diálogo científico conferia-lhe autoridade para
propor a verdade da fé e da moral cristã, que ele debate de modo aprofundado
nas suas principais obras chinesas, como O verdadeiro significado do
Senhor do Céu", sublinhou Francisco. "Esses missionários
rezavam, pregavam, se moviam, faziam jogadas políticas, tudo isso, mas rezavam.
É o que alimenta a vida missionária, uma vida de caridade, ajudavam os outros,
humildade e um total desinteresse por honras e riquezas que levam
muitos dos seus discípulos e amigos a aceitar a fé católica porque viam
um homem tão inteligente, tão sábio, tão astuto, no bom sentido da palavra,
para fazer as coisas e tão fiel, que diziam: O que prega é verdadeiro, é uma
personalidade que dá testemunho", disse ainda o Papa.
“Testemunha com a própria vida o
que anuncia. Esta é a coerência dos evangelizadores. Isso cabe a todos nós
cristãos que somos evangelizadores. Eu posso rezar o Credo de cor, posso dizer
todas as coisas que acreditamos, mas se a vida não for coerente com isso, não
serve a nada. O que atrai as pessoas é o testemunho de coerência. Nós cristãos
vivemos o que pregamos. Não fazer de conta de viver como cristãos e depois
viver como mundanos. Fiquem atentos! Olhando para esses missionários, esse era
italiano, a força maior é a coerência. Eles são coerentes.”
"Matteo Ricci faleceu em Pequim, em 1610, aos 57 anos. Um homem que dedicou toda a sua vida à missão. O espírito missionário de Mateo Ricci é um modelo vivo atual. O seu amor pelo povo chinês é um modelo, mas o que é uma estrada atual é a coerência de vida, o testemunho de sua vida como cristão. Ele levou o cristianismo à China. Ele é grande porque é um grande cientista, ele é grande porque é corajoso, ele é grande porque escreveu muitos livros, mas sobretudo é grande porque foi coerente com a sua vocação, coerente com o desejo de seguir Jesus Cristo. Irmãos e irmãs, hoje nós, cada um de nós, se pergunte: "Sou coerente ou sou um pouco mais ou menos?", concluiu Francisco.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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