REVER NOSSO ESTILO DE VIDA
Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Frequentemente, escutamos dizer que
estamos vivendo uma crise de valores, que faltam referências e autoridades
morais para orientar a sociedade do cansaço e a era do vazio. De fato,
percebe-se uma inversão de valores, segundo a qual competir é mais importante
do que cooperar, enganar o outro para tirar vantagem parece normal, e acreditar
e frequentar a religião parecem ser opções de quem entregou sua liberdade para
uma dimensão abstrata da fé.
Ocorre, contudo, que a opção por uma vida mais
livre, sem limites e sem pressões está causando uma saturação da existência e a
ansiedade toma conta de muitos corações. Oferecemos valores como o sucesso, a
usurpação, a mentira e o lucro como balizas para pautar a existência. Contudo,
o que mais cresce é o número de pessoas insatisfeitas, desorientadas e
desconfiadas. E a ansiedade toma conta, perde-se o equilíbrio, bem como a
sabedoria de contar os dias que passamos nesta Terra. Alguns se abrigam sob o
guarda-chuva do pessimismo e da tristeza crônica, ou de uma euforia
passageira.
É claro que cada um de nós sabe a beleza e o
peso de viver nesse momento histórico. Cada um carrega seus sonhos e decepções,
seus traumas e suas realizações. Mas onde estão os modelos e exemplos de
pessoas que vivem os valores que sustentam uma vida mais equilibrada e sadia?
Em primeiro lugar, é preciso recordar que
muitas civilizações, no passado, experimentaram tempos obscuros. Para superar
esse tempo no qual parece que os malvados, debochados e aproveitadores estão
vencendo, é preciso mais que inteligência; é necessário ser sábio, ser capaz de
aceitar viver nesse nevoeiro sabendo que irá passar. Assim, a humanidade
recuperará um ponto de vista superior, ao criticar essa inversão de
valores.
Já avançamos, em alguns aspectos, nesse
sentido. Procuramos denunciar e condenar a discriminação, a exclusão e o
preconceito. Sabemos que toda pessoa tem uma dignidade singular que deve ser
respeitada e acolhida. É verdade que ainda testemunhamos posturas contrárias a
essas condutas, mas elas ainda são rejeitadas pela maioria.
Para recuperarmos valores e referenciais,
cabe-nos ajudar, sobretudo, os educadores a promover valores justos, humanos e
fraternos. Somos chamados a crer na esperança de que dias melhores virão.
Pode ser que a nossa geração seja incapaz de dar um passo e superar a
violência, o medo e a injustiça. Mas essa tendência não é um determinismo que
condena toda a humanidade a esse vale de lágrimas.
Na fé judaico-cristã, crer na promessa é viver
o presente esperando um futuro que já se tem certeza que se cumprirá. Somos
todos herdeiros de grandes valores como a humildade, a honestidade, o
bom-senso, o equilíbrio, a sobriedade, etc. Desde a sabedoria de Salomão,
passando pela compaixão de Jesus Cristo, até chegar à simplicidade de Francisco
de Assis, aprendemos que outro modo de viver é possível.
As novas gerações nos interpelam criticando o estilo de vida que a maioria está vivendo. Elas reclamam mais empatia, respeito e comprometimento. Escutar esses apelos pode nos educar para rever a forma como estamos cultivando nossos valores. Eles não perderam sua validade, nós é que nos distraímos buscando felicidade efêmera e falsas seguranças. Ainda é tempo de cultivar os valores que não são do passado, mas do futuro.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário