31 de maio
Santa Camila Batista da Varano
Camila, nascida em 1458, era filha ilegítima do Duque de Camerino, na Itália, gerada antes do seu casamento com Joana Malatesta. A madrasta a acolheu com amor, e Camila cresceu na corte, bela, inteligente, de espírito vivo, caridosa e piedosa. Gostava de cantar e dançar, e tinha dom para a filosofia e teologia. Ainda criança, ouvindo uma pregação sobre a Paixão de Jesus, fez um voto de toda sexta-feira derramar ao menos uma lágrima recordando os Seus sofrimentos; mas isto era difícil de conciliar com sua vida divertida, e ela se sentia mal por toda a semana quando não conseguia chorar esta lágrima.
Adolescente, recebeu e interessou-se pelas atenções de um pretendente,
mas um sermão na Quaresma a inclinou para Deus;
e com o auxílio de Frei Francisco de Urbino começou a amadurecer sua
vocação religiosa, contra a qual na verdade relutou. A família,
especialmente o pai, desejava para ela um casamento de vantagens políticas para
o ducado. Mas Camila recusou, e após sete meses de grave
doença, compreendeu o chamado de Deus e se decidiu pela vida religiosa.
Em 1481,
com 23 anos, finalmente entrou no mosteiro das Irmãs Pobres
de Santa Clara de Urbino, adotando o nome de Irmã Batista. Fez os
votos definitivos em 1483, e redigiu “As Recordações de Jesus”,
registrando as instruções e admoestações de Jesus que Dele recebera ainda no
palácio paterno.
No ano
seguinte, seu pai constrói um mosteiro em Camerino, movido por
saudades, e Irmã Batista, com outras oito irmãs, nele funda uma nova comunidade
de clarissas, sob a regra própria de Santa Clara e não das
urbinistas. Ali foi humilde, servindo atentamente às
necessidades das irmãs; várias vezes foi eleita abadessa, e viveu anos de intensas
experiências místicas centradas na Paixão e Morte de Cristo, mas
também com visões de Nossa Senhora, Santa Clara e dos anjos.
Entre 1488
e 1490, sofreu grande crise espiritual, e escreveu livros. "As
Dores Mentais de Jesus na Sua Paixão", de 1488, serviu como guia de
meditação para grandes santos, e deve ter sido baseado nas revelações que o Senhor dignou-Se a lhe mostrar sobre todos os
tormentos da Sua agonia. Seu confessor, Beato Domenico de Leonessa, a instruiu a escrever sua
autobiografia, chamada “A vida Espiritual”, redigida em 1491.
Outras obras se seguiram, como “Instruções ao Discípulo”,
dirigida ao sacerdote franciscano João de Fano.
Em
1501, os tumultos políticos na Itália da época atingiram Camerino. O
devasso Papa Alexandre VI excomunga o pai de Camila, Júlio,
por interesses políticos, e seu general, César Borgia (que inspirou o livro “O
Príncipe” de Maquiavel, por causa da sua infame conduta), prende Júlio e seus
três irmãos. Camila e outra irmã clarissa, parente dos Varano, fogem
refugiadas para Fermo, e depois seguem a pé para Atri, onde são recebidas pela
duquesa Isabel Piccolomini.
Também
conseguem escapar a mãe de Camila, seu irmão mais novo João Maria
e seu sobrinho Sigismundo. Em 1503 Júlio e irmãos foram
assassinados, mas após a morte de Alexandre VI e portanto com o
fim do apoio a César Borgia, os Colonna e o papa Júlio II ajudaram João Maria a
retomar Camerino. A abadessa Camila Batista perdoou os
inimigos, retornando à cidade. Em 1505 retorna a Fermo para
fundar um mosteiro clarissiano por ordem do Papa. Em 1511 morre
sua amada mãe adotiva, Joana Malatesta.
A
triste decadência dos costumes eclesiásticos, nesta época, que
aliás serviriam em parte como motivo para a heresia protestante de
Martinho Lutero em 1517, levava Irmã
Batista a um tão grande desejo de correção na
Igreja que, de acordo com uma irmã, não conseguia dormir nem comer, ficando por isso gravemente
doente.
Em 1521,
vai a São Severino, nas Marcas, para fundar um novo mosteiro. Ficou conhecida
como reformadora da Ordem de Santa Clara por observar
com radicalidade a sua Regra, por exemplo
cultivando com empenho a pobreza pessoal e comunitária. Por
esta época, escreveu “A Pureza do Coração”,
a pedido de um religioso, um itinerário de perfeição a
partir da sua experiência de vida.
Irmã
Batista escreveu em Latim e majoritariamente no seu dialeto da Umbria, um legado
místico famoso e notável pela originalidade, espiritualidade e linguagem
vividamente pictórica. Por isso foi considerada uma das maiores
eruditas do seu tempo e admirada por São Filipe Néri e Santo Afonso. Contribuiu
também para a instituição dos Capuchinhos,
intercedendo ao Papa Clemente VIII em favor da
aprovação deste ramo franciscano em 1524; o beato Mateus de Bascio, seu
fundador, antes de ser frade havia sido protegido dos Varano.
Em
1524, na festa de Corpus Christi, 31 de maio, irmã Batista
faleceu em decorrência da peste que assolou a Itália. A exumação do corpo, 30 anos depois, o revelou em perfeito estado de
conservação. Nova exumação em 1593 expôs a língua ainda fresca
e vermelha.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Há um
aspecto especialmente importante na vida e espiritualidade de Santa Camila
Batista, que a permitiu escolher uma vida de seguimento radical e árduo a Deus
sob uma Regra monástica, ser profundamente caridosa, sempre atenta às
necessidades do próximo, e inclusive perdoar os assassinos da sua família. Um
aspecto que raramente se vê hoje em dia, infelizmente: a sensibilidade para
Deus, para a Sua Paixão, e para a Sua Igreja. Pode ser que uma menina ainda
inocente (como deve ser mesmo a infância) sinta como ela um desejo legítimo de
chorar sempre os sofrimentos do Senhor na Sua Páscoa, mas ficar de fato
verdadeira e seguidamente triste por não o conseguir já não seria comum ou
normal. Sensibilidade, ainda mais para as coisas de Deus, e mesmo entre
crianças e jovens, parece ser muito mais raro do que deveria, em especial nos
lares ditos católicos… e igualmente pouco valorizada ou mesmo lembrada.
Ouvimos, como Camila, sermões na Quaresma e na Páscoa, durante anos a fio.
Alguma vez será preciso também escutá-los com os ouvidos da alma, se de fato
desejamos nos converter para participarmos da Ressurreição de Cristo. É sim
necessário nos adoentarmos pelos sofrimentos do Senhor, também no Seu Corpo
Místico que é a Igreja, que sofre com os golpes do exterior e ainda mais com as
infecções interiores; pois se não participarmos dos sofrimentos de Jesus, para
consolá-Lo e reparar por eles, morreremos na alma da peste da indiferença, que
nada mais é do que uma expressão da soberba, do orgulho que transformou um anjo
no diabo.
Oração:
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