A Igreja celebra hoje, 30 de maio, o martírio de
Santa Joana d’Arc. Dotada por Deus de um altíssimo chamado, a pequena pastora
de Domremy não mediu esforços para cumprir a vontade Divina, a ponto de ser,
por este motivo, perseguida, caluniada e martirizada.
Redação (30/05/2022 08:34, Gaudium
Press) Santa Joana d’Arc nasceu provavelmente em
1411, ou talvez 1412, em Domremy, cidade do interior da França. Segundo uma
piedosa tradição, veio à luz na noite da Epifania, a 6 de janeiro. Filha de
Jacques d’Arc e Isabel, católicos e possuidores de boa reputação, foi educada
desde a mais tenra infância na prática da Lei de Deus. Segundo testemunhas de
sua época, gostava de ir à Igreja e de confessar-se. Sempre que tinha
condições, dava esmolas aos pobres. Em geral, passou a infância pastoreando
animais, o que fazia com muito agrado. Em nada se distinguia das jovens de sua
idade. Entre os seus mais próximos, era conhecida como Jeannette, a
pequena Joana.
Porém,
a partir dos treze anos, alguns fatos mudarão a vida da pequena pastora: Deus
passa se comunicar com ela por meio de aparições sobrenaturais. Desde então,
via e ouvia São Miguel Arcanjo, Santa Catarina e Santa Margarida, os quais, ao
longo de três anos, preparam-na para o cumprimento da missão que lhe estava
destinada: libertar a França do poder dos ingleses, e fazer com que Carlos VII
fosse sagrado rei.
Fiel
ao chamado de Deus, Joana partiu pressurosa para a cidade de Chinon, a fim de
cumprir as ordens Divinas.
Tinha
tão somente 16 anos, quando o rei Carlos lhe confiou o comando de uma brigada;
a ela que desconhecia por inteiro as leis da guerra… Em oito dias, no fim do
mês de maio, a jovem guerreira encerrou o cerco de Orleans, cidade sitiada
havia sete meses, obrigando os ingleses a debandarem. E, no seguinte mês,
julho, após tantos esforços por ela por ela empregados, Carlos VII, em Reims,
foi sagrado rei da França.
O calvário
Contudo,
após tantos êxitos, fatos aparentemente inexplicáveis darão início ao seu
“calvário” que durará quase dois anos: o rei, que tanto a amparava e protegia,
abandona-a à sorte dos inimigos. Se isto não bastasse, no dia 23 de maio de
1430, ela foi capturada e feita prisioneira, sendo vendida cinco meses depois
aos ingleses. Começam então as maquinações.
Procuram
de todos os modos matá-la, mas necessitam conservar aparências de legalidade,
pois um prisioneiro de guerra não pode ser levado à força para morte. Nisto,
põem-se de acordo com o bispo local, Pierre Cauchon, e julgam-na por “heresia”,
“bruxaria” e “idolatria”.
Todavia,
primeira ilegalidade: Santa Joana esteve sempre mantida prisioneira pelos
ingleses, e jamais colocada numa prisão da Igreja custodiada por mulheres, como
pediria um mínimo de respeito pela sua condição feminina, e pelo tipo de
“processo” que simularam contra ela.
Com
efeito, inúmeras vezes a pucelle, a virgem – como era conhecida até
entre seus inimigos – se queixará por estar agrilhoada e vigiada dia e noite
por grupos de cinco soldados que a odiavam. Em várias ocasiões, foi agredida
pelos carcereiros com a intenção de atentar contra seu pudor. Nada disso,
contudo, moveu a compaixão dos eclesiásticos.
Deste
modo, traída, presa e repudiada por aqueles mesmos que ela defendia, é julgada
“em nome da Igreja” por um bispo, coadjuvado de um cardeal e mais de 120
clérigos, os quais põem-se a serviço de interesses alheios à salvação das
almas, submetendo-se aos invasores ingleses, para perder a inocente Joana.
Contra
Santa Joana d’Arc, utilizaram todos os recursos que a impostura pode conceber,
chegando até a se atentar contra o sigilo de confissão, em vistas a obter
alguma acusação digna de crédito, que os permitisse conduzir a virgem de
Domremy à fogueira. Não faltaram falsificação de documentos, maquinações para
atentar contra sua virgindade, ameaças de tortura e outras crueldades.
Além
disso, ao longo do processo, os esbirros muitas vezes “omitiram” as noções
básicas do direito natural. Certa vez, Jean Beaupère, um dos mais arditi pela
morte de Joana, compareceu ante ela com o bispo Couchon, e indagou-lhe: “Sabes
se estás na Graça de Deus?”. Cabe recordar um célebre adágio da Santa Madre
Igreja que diz: “De internis non iudicat Ecclesia”. Isto é, sobre a
consciência, nem mesmo a Igreja julga. Entrementes, inspirada pelas vozes
celestes que sempre a auxiliavam, Joana respondeu: “Se não estou, que
Deus ma conceda. Se estou, que nela me conserve! Eu seria a pessoa mais infeliz
do mundo se soubesse não estar na Graça de Deus”.
A execução
Todavia,
por quê tamanho ódio suscitado contra uma jovem de 19 anos, a qual, aos olhos
dos homens, como descreve Régine Pernoud, “era ela uma simples mulher
que, na guerra, se mostrava mais experimentada que um capitão, uma camponesa
ignorante que agia como se soubesse mais do que esses doutores possuidores da
chave da ciência, uma mocinha de menos de vinte anos que pretendia ser fiel às
suas visões”?!
Mas
a sanha do mal não poupou esforços. Joana foi em seguida excomungada e
condenada à morte no dia 30 de maio de 1430, na Praça do Mercado Velho, de
Rouen (França). Antes de sua morte, porém, sucedeu-se algo inexplicável: ela,
que estava excomungada, pediu para se confessar e comungar, e foi atendida em
ambos os pedidos.
No
dia de sua execução, todos os que desejavam assistir sua morte compareceram à
praça. Mais de 800 soldados, com lanças e machados de guerra, asseguravam a
tranquilidade da execução. A multidão toda presenciou a lenta e dolorosa morte
da virgem imaculada, sobre cuja cândida testa puseram um chapéu de irrisão com
os dizeres: “herética, apóstata, relapsa, idólatra”.
Impertérritos,
ouviram-na exclamar diversas vezes, “Jesus! Jesus” Jesus!” e “As
vozes não mentiram!”. Após pronunciar pela última vez o nome de “Jesus”,
entregou sua alma a Deus; e, segundo o depoimento de uma testemunha insuspeita
(um soldado inglês que a odiava), ao exalar o último suspiro, uma pomba branca
saiu de seu corpo em direção ao céu. Suas cinzas foram lançadas ao rio,
juntamente com seu coração, ainda incorrupto e latejante.
O que
aconteceu aos perseguidores?
Entretanto,
a mão de Deus se abateu sobre os que perseguiram sua enviada: aqueles que foram
culpados por sua morte, em poucos dias foram chamados a prestarem contas diante
do Criador.
Os
três principais fautores conheceram um trágico fim: Cauchon, morreu subitamente
enquanto lhe faziam a barba; D’Estivet, íntimo amigo de Cauchon, o promotor da
causa, desapareceu misteriosamente, e seu cadáver foi encontrado num esgoto;
Nicolas Midy, foi atingido pela lepra pouco tempo depois do processo, teve de
abandonar os benefícios que seu “devotamento” lhe proporcionara, e, comido pela
sua doença, morrer num leprosário.
Morte
súbita, morte ignorada, morte de lepra. Trágico fim terreno dos que,
mundanamente, pensaram ter apagado o nome da enviada de Deus das linhas da
história. Ela figura no catálogo dos santos. Eles, unicamente, nas sinistras
páginas dos êmulos de Judas.
A
Santa Igreja, contudo, pelas mãos de seus fiéis ministros, vinte anos mais
tarde, declarará a inculpabilidade da virgem de Domremy. E, 500 anos depois,
Bento XV reconhecerá sua santidade de vida, incluindo-a no catálogo dos Santos.
Por
Guilherme Maia
Cf. PERNOUD, Régine. Vie et mort de Jeanne d’Arc. Paris: Hachette, 1953.
Fonte: https://gaudiumpress.org/
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