O sofrimento que tanto causa horror ao homem
moderno é um dos meios mais eficazes de conferir celebridade. É o que
encontramos nestas linhas sobre Santa Rita.
Redação (22/05/2021 10:37, Gaudium
Press) A obediência é uma das virtudes mais difíceis de
serem praticadas, pois obedecer significa contrariar a própria vontade para
fazer a de outrem, mortificando de modo especial a natureza humana, que recebeu
de Deus a liberdade.
A
História nos revela inúmeros belos exemplos de obediência. O mais sublime, sem
dúvida, é o de Jesus, o qual, para redimir o gênero humano, “fez-se obediente
até a morte, e morte de cruz”.
Abaixo
do Salvador, o mais excelso modelo de obediência é Maria Santíssima, a perfeita
discípula de seu Filho Divino, nesta como em todas as outras virtudes.
Convido
o leitor a passear comigo, neste artigo, pela vida de uma santa que sorveu
desde menina o cálice da obediência, seguindo o exemplo supremo de Jesus e
excelso de Maria: Santa Rita de Cássia.
Sua
festa se celebra no dia 22 de maio. Ela é invocada especialmente como protetora
das causas impossíveis, pelo motivo que o leitor verá adiante.
Menina privilegiada
Embora
já de avançada idade, Antônio Mancini e sua esposa, Amanta, não cessavam de rogar
a Deus, confiante e insistentemente, a bênção de terem um filho que lhes
alegrasse o lar. Viviam eles na pequena aldeia de Rocca Porena, em Cássia, na
Úmbria.
Para
atender às preces desse piedoso casal, realizou Deus o primeiro “impossível” da
vida de Santa Rita: seu nascimento no dia 22 de maio de 1381.
Era
uma encantadora menina. E desde sua mais tenra idade, a Divina Providência
começou a manifestar especiais desígnios a seu respeito. Segundo narra uma
tradição, enquanto ela dormia na cestinha que lhe servia de berço, com
frequência apareciam umas raras abelhas brancas que esvoaçavam em torno dela e
depositavam suavemente mel em seus lábios, sem feri-la ou despertá-la. Um dos
camponeses vizinhos, presenciando a cena por primeira vez, quis afastar os
insetos com a mão aleijada que tinha. No mesmo instante sua mão ficou curada.
Depois
da morte de Santa Rita, essas mesmas abelhas brancas começaram a aparecer
anualmente no mosteiro das agostinianas, onde ela passou os últimos anos de sua
vida. Lá chegavam na Semana Santa e permaneciam até o dia 22 de maio. Depois se
retiravam, para retornarem na Semana Santa seguinte. Até hoje podem ser vistos
pelos peregrinos os buraquinhos feitos por elas nas paredes do mosteiro.
Infância marcada pela piedade e obediência
Desde
pequena, demonstrava Rita grande inclinação para a piedade. Seus pais, apesar
de não saberem ler nem escrever, ensinaram-lhe o Catecismo e a história de
Jesus. Dedicava-se com grande gosto à oração, meditava sempre sobre a Paixão de
Nosso Senhor. Não sabia ler nem escrever. Entretanto, “lia” continuamente o
mais magnífico de todos os livros: o Crucifixo.
Além
de ser especialmente devota de Nossa Senhora, escolheu como padroeiros São
João Batista, Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino. Procurava abster-se
de brinquedos e travessuras próprias à idade infantil, como mortificação para
consolar a Jesus Crucificado.
O
maior anseio de sua alma era ser religiosa. Exatamente neste ponto, exigiu
dela a Providência um enorme ato de obediência, aceitando um estado de vida
oposto ao chamado religioso que sentia na alma. Com apenas 12 anos de idade,
foi obrigada pelos pais a contrair matrimônio com o noivo por eles
escolhido, chamado Paulo Ferdinando.
Sofrimentos na família
O
marido logo revelou-se um homem agressivo, de mau gênio, beberrão e dissoluto,
o que fazia Rita sofrer tremendamente. Ela, entretanto, não só lhe foi sempre
fiel, como também suportou tudo isso com extrema paciência, durante 18 anos,
sempre rezando e oferecendo esta espécie de martírio pela conversão dos pecadores,
sobretudo de seu detestável marido.
E
mais uma vez o “impossível” se realizou na vida dessa mulher exemplar. Teve
ela, afinal, a alegria de ver o esposo converter-se e pedir-lhe perdão por
todos os maus tratos e pela vida devassa que havia levado. Quão oportuna foi
esta conversão! Pouco tempo depois de reconciliar-se com Deus, pelo Sacramento
da confissão, Paulo Ferdinando foi assassinado por alguns dos maus companheiros
que tivera.
Os
filhos do casal, dois gêmeos, então com 14 anos, juraram vingar a morte do pai.
Vendo Santa Rita quanto os filhos haviam herdado as más tendências do pai, e temendo
pelo destino eterno dos dois, dirigiu a Deus uma súplica: preferia ver seus
filhos mortos a seguirem o caminho da perdição. Logo demonstrou o Pai de
Misericórdia seu comprazimento com essa súplica de uma mãe verdadeiramente
católica. Em menos de um ano, os dois ficaram doentes e faleceram, perdoando
os assassinos de Paulo Ferdinando.
Entrada na vida religiosa
Viúva,
sem filhos, livre de tudo que poderia atá-la ao mundo, Rita desejava fazer-se
religiosa. Pediu para ser aceita no mosteiro das freiras agostinianas de
Cássia, onde sempre quisera ter estado. Mas – oh decepção! – a superiora lhe
disse que infelizmente não podiam aceitar viúvas na congregação, a qual era
destinada apenas a virgens.
Imagine-se
sua desilusão e tristeza ao voltar para casa!… Mas ela era uma mulher santa.
Enquanto tal, em vez de deixar-se abater ou desanimar, decidiu seguir com mais
ardor ainda do que antes sua vida de oração e penitência.
Acorreram
em seu auxílio seus padroeiros, Santo Agostinho, São João Batista e São
Nicolau de Tolentino, obtendo da Medianeira de todas as graças a realização de
mais um “impossível” em favor de sua protegida.
Conta-se
que numa noite, estando ela imersa em oração, apareceram-lhe estes três Santos
e convidaram-na a segui-los. Em êxtase, ela os acompanhou. Quando voltou a si,
estava dentro do mosteiro das agostinianas… Havia entrado lá milagrosamente,
pois todas as portas e janelas encontravam-se perfeitamente fechadas.
Na
manhã seguinte, a madre superiora reconheceu nesse prodigioso fato uma clara
indicação da vontade divina e decidiu acolher Rita como noviça nessa santa
congregação.
Obediência recompensada pelo milagre
Já
revestida do hábito, a nova religiosa foi um exemplo de virtude para todas as
suas irmãs de vocação.
Dos
três votos da religião, aquele em que mais se esmerava era o de obediência,
fazendo sempre a vontade das outras em tudo, até mesmo no que poderia parecer
ridículo e insensato. Por exemplo, a superiora mandou-lhe regar todos os dias
uma parreira que já estava seca e morta. A obediente freira cumpriu
rigorosamente a ordem durante um ano. Uma vez mais o que parecia impossível se
realizou: do tronco morto brotaram sarmentos que cresceram e produziram flores
e frutos! Existe ainda essa “videira de Santa Rita”, que produz uvas de um
sabor especial, as quais amadurecem em novembro.
Partícipe das dores de Jesus coroado de espinhos
Durante
a Quaresma de 1443, o grande pregador Santiago de Monte Brandone fez em Cássia
um magnífico sermão sobre a Paixão de Jesus, destacando sobretudo o episódio da
coroação de espinhos. Depois de ouvir esse sermão, Santa Rita sentiu-se tomada
do desejo de participar dos sofrimentos de Nosso Senhor nesse lance de sua
Paixão.
Rezando
diante de seu crucifixo, viu espargir-se dele suavemente uma luz, e um espinho
desprender-se da coroa e cravar-se em sua fronte, provocando-lhe uma ferida
que a fez sofrer durante seus últimos 15 anos de vida. Além de exalar mau odor,
essa provocava-lhe muitas enfermidades. Assim, teve ela atendido deu desejo de
ser verdadeiramente partícipe das dores de Jesus coroado de espinhos.
Morte santa, a recompensa
Santa
Rita teve uma morte santa, sendo obediente à vontade de Deus até o fim.
Estando
já muito enferma, pediu a Jesus um sinal de que seus filhos estavam no Céu. Em
meio a um rigoroso inverno, recebeu uma rosa colhida no jardim de sua antiga
casa, em Rocca Porena… Pediu um segundo sinal e, no fim do inverno, recebeu um
figo, também de seu jardim. Com a realização desses dois “impossíveis”, Deus,
por assim dizer, mostra seu comprazimento em que essa grande Santa seja
invocada como a “Advogada dos impossíveis”.
No
dia 22 de maio de 1457, voou para o Céu a bela alma de Santa Rita.
A
chaga de sua fronte transformou-se em uma mancha vermelha como um rubi, de onde
se exalava uma agradável fragrância. Sua cela ficou iluminada por uma luz
celestial e os sinos, sozinhos, repicaram num toque de júbilo e glória.
Foi
velada na igreja, aonde acorreu uma multidão de pessoas para vê-la e venerá-la.
De seu santo corpo emanava um tal perfume que nunca foi enterrado. Permanece
incorrupto até hoje, exposto à veneração dos fiéis no convento de Cássia.
Mensagem de Santa Rita para os dias atuais
Qual
é a mensagem que esta grande Santa nos transmitiria nestes dias em que vivemos?
Creio
que a resposta está nas palavras proferidas pelo Santo Padre João Paulo II, em
20 de maio de 2000, saudando os devotos de Santa Rita que faziam a peregrinação
jubilar:
É
uma mensagem que brota de sua vida: a humildade e a obediência foram o caminho
que Rita percorreu para uma semelhança cada vez mais perfeita com Cristo
crucificado. O estigma que brilha em sua fronte é a autenticação de sua
maturidade cristã. Na cruz com Jesus culminou o amor que já havia conhecido e
expressado de modo heroico em seu lar e mediante a participação nas
vicissitudes de sua cidade.
Seguindo
a espiritualidade de Santo Agostinho, fez-se discípula do Crucificado e
‘especialista em sofrimento’, aprendeu a compreender as penas do coração
humano. Deste modo, Rita se converteu na advogada dos pobres e dos
desesperados, obtendo inumeráveis graças de consolo e fortaleza aos que a
invocam nas mais diversas situações.
Que
Santa Rita de Cássia nos ajude a compreender os desígnios de Deus para cada um
de nós individualmente, e a sorver até a última gota o cálice da obediência à
sua vontade santíssima, ao longo de nossa existência.
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