02 de maio
Santo Atanásio
Atanásio, de
raríssima inteligência, nasceu em Alexandria do Egito
no ano de 296. Esta cidade era na época o mais importante
centro comercial e cosmopolita do Império Romano. Em 319, o bispo Alexandre ordenou Atanásio diácono; ele
já conhecia a língua grega, bem como gramática e retórica, em função de sua boa
formação e educação.
Em 325,
como secretário e assessor deste mesmo bispo, Atanásio participou do I
Concílio Ecumênico de Nicéia, que condenou a heresia ariana (o
arianismo afirmava erroneamente que Cristo não tinha a mesma substância do Pai,
sendo inferior a Ele). Seus discursos, embasados em perfeita
argumentação bíblica e com doutrina lúcida, expuseram todos os erros dos
hereges, condenando irrevogavelmente seus falsos ensinamentos. Definiu-se
assim solenemente o Credo rezado até hoje. O brilho,
clareza e evidência na sua contestação da heresia deixou
a todos admirados, e despertou o ódio dos arianos.
Três anos
depois, com a morte de Alexandre, o povo e o clero colocaram Atanásio como seu
sucessor. Seu bispado, de 45 anos (328 a 373), teve 17
deles no exílio em cinco ocasiões diferentes, por causa das perseguições
promovidas sob quatro imperadores diversos, pela influência dos
arianos, ainda ativos, e dos quais era o mais vigoroso opositor.
Além
disso, por cerca de seis vezes teve que fugir para não ser morto pela
população da cidade. Nos primeiros anos, ainda teve a oportunidade de visitar as igrejas da sua diocese (que
incluía o Egito e a Líbia) e de se encontrar e conviver com
eremitas e monges do deserto, como São Pacômio e Santo Antão.
O primeiro exílio ocorreu entre 335 e 337. Melécio de Licópolis e
seguidores, que não haviam aceitado o Concílio de Nicéia, o acusou de maus
tratos, e Eusébio de Nicomédia, ariano, o depôs no I Concílio de
Tiro de 335; o caso foi levado ao imperador Constantino I em
Constantinopla, onde Atanásio foi acusado de interferir com o
suprimento de cereais do Egito (!) e exilado sem julgamento
formal pelo imperador, em Augusta dos Tréveros (Tréveris, Alemanha), na Gália
Bélgica.
Segundo
exílio (339 a 346): com a morte de Constantino, Atanásio voltou à Alexandria,
mas em 338 Constâncio II, filho e sucessor do imperador, renovou o
banimento. Atanásio foi para Roma, protegido por
Constante, imperador romano do Ocidente, e pelo Papa Júlio I, que num sínodo de
341 inocentou Atanásio. Este foi então para Sárdica, encontrar-se
com Santo Ósio e participar de um Concílio, mas Eusébio e seguidores
convenceram Constâncio II a ordenar a pena de morte se Atanásio voltasse para
Alexandria. Mas em 346 Constante garantiu a volta à sua Sé,
onde foi recebido como herói e iniciou uma década de paz e prosperidade.
A morte de
Constante em 350 tornou Constâncio II o único imperador, e ele impôs ao santo
bispo o terceiro exílio (356 a 361), no Alto Egito, para onde Atanásio
fugiu, escondendo-se em diferentes mosteiros e eremitérios. Voltou em 361
depois da morte do imperador, e convocou um concílio tratando da
Trindade, que definiu penas leves para os bispos arianos arrependidos e outras
severas para os líderes heréticos.
O quarto
exílio (362 a 363) foi determinado pelo novo imperador
Juliano o Apóstata, e passado no Alto Egito até a morte dele, em 363. Dois anos depois, outro imperador ariano, Valente, exilou ainda
pela quinta vez Atanásio, entre 365 e 366, até que autoridades
locais conseguissem a suspensão da pena. Durante esse tempo, Atanásio escondeu-se no túmulo de sua família nos subúrbios da
cidade, saindo apenas às noites para cuidar do seu rebanho.
Estas idas
e vindas, e seguidas perseguições, originaram a expressão latina “Athanasius contra mundum” ("Atanásio
contra o mundo").
Nos seus
últimos anos, o santo bispo cuidou dos prejuízos causados
por tanto tempo à sua Sé. Retomou seus escritos e pregações,
sedimentando as conclusões do Concílio de Nicéia sobre a divindade de Cristo e
a Trindade. Em 373, tendo consagrado seu sucessor, Pedro
II de Alexandria, faleceu aos 2 de maio, dormindo, com 77 anos, e reconhecido
por toda a Igreja.
Além da sua
firmeza na ortodoxia da Fé e sua heroica perseverança em defendê-la diante de
todas as perseguições, pessoalmente Santo Atanásio
demonstrava igualmente inúmeras virtudes santas. Era humilde, verdadeiro,
acessível a todos, doce, compassivo, afável e sem cólera, amável nas prédicas e
na conduta; caridoso com os pobres, condescendente com os humildes, intrépido
contra os soberbos; repreendia com doçura, era indulgente sem
fraqueza, firme sem dureza; fervoroso e assíduo nas orações, jejuava
austeramente, sendo incansável nas vigílias. Para tudo isso, preparou-se na meditação do mistério da Encarnação de Cristo, dos
Seus sofrimentos e morte, de modo a imitá-Lo na conduta.
Outra grande contribuição de Santo Atanásio foi impulsionar, no Ocidente, a vida monacal. No seu exílio em Roma, foi acompanhado por dois monges santos e exemplares, Amônio e Isidoro, que conquistaram mesmo os não fiéis, e assim o monaquismo começou a florescer a partir das Gálias, sob a influência do santo bispo.
Atanásio
foi um profundo e fecundo escritor, apesar das dificuldades criadas
pelos frequentes deslocamentos. Sua primeira obra, em dois volumes, anterior a 319,
foi "Contra os Pagãos - Sobre a Encarnação do Verbo de Deus",
as primeiras obras clássicas de teologia clássica mais desenvolvida.
A "Carta sobre os Decretos do Concílio de Nicéia" (“De
Decretis”) é uma referência histórica e teológica importante. Outras cartas
são: "Cartas a Serapião", tratando da divindade
do Espírito Santo, com base na Tradição, na Fé e ensinamentos dos Apóstolos e
dos santos padres; carta a Epiteto de Corinto, que antecipa a futura
controvérsia sobre a divindade de Cristo; e uma carta ao monge Dracônio,
instando-o a assumir o bispado.
Entre 346 e
356, uma década de paz, escreveu “Apologia Contra os
Arianos”, "Quatro Orações contra os Arianos", "Apologia
a Constâncio", "Apologia por sua Fuga" e "História dos
Arianos". Em 367, na "39ª Carta Pascal",
foi o primeiro a listar os 27 livros do Novo Testamento reconhecidos pela
Igreja Católica. Sua
obra mais conhecida é a biografia de Santo Antão ("Vita
Antonii” ou “Antônio, o Grande"), importante para popularização do
ascetismo e traduzida em diversas línguas. Atanásio foi o primeiro
patriarca de Alexandria a escrever não só em Grego mas também em Copta.
Suas obras
são reconhecidas pela Igreja, que o declarou Doutor. Grande
teólogo, grande na Fé e nas obras, São Gregório de Nazianzeno o chamou
de “Pilar da Igreja”; é também reconhecido como Pai da Ortodoxia. Como
o seu cânon do Novo Testamento é o mais parecido com o das modernas igrejas
protestantes, muitos dos seus teólogos o chamam de "Pai do
Cânon".
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
A vida de
Santo Atanásio é grandiosa, e imensa a sua obra em favor da Igreja. Na oração e
na ação, sempre exemplar, mostra como devemos conhecer e defender a Fé e a
Doutrina, não importa quais sejam as dificuldades. Essencialmente, o que ele
fez foi imitar a Cristo, o que também nós devemos buscar, incansável e
perseverantemente, de modo a obtermos as graças necessárias de Deus para agir
coerentemente a ele nesta vida. Constância e aprofundamento no conhecimento e
serviço de Deus, eis um seu legado para a nossa vida prática.
Oração:
Pai de amor constante e zeloso por nós, Seus indignos filhos, concedei-nos por intermédio de Santo Atanásio a firmeza para exercermos as nossas obrigações nesta vida, tudo direcionando para Vós que sois a Verdade, de tal modo que, escrevendo no exílio deste mundo a apologia das obras de caridade pelo exemplo e serviço ao próximo e à Igreja, mereçamos a Vossa acolhida infinita no reconhecimento de ter “nosso nome contra o mundo” e a Vosso favor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
Fonte: https://www.a12.com/
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