26 de maio
São Filipe Néri
Filipe Néri
nasceu em San Pier Gattolino, próximo à cidade de Florença,
Itália, no ano de 1515. Sua família era rica. Ficou
órfão de mãe muito cedo, e ele e sua irmã Elisabete foram educados pela
madrasta. Criança, era conhecido pela alegria,
lealdade, inteligência e bondade, ganhando o apelido de Pippo il Buono, “Filipe
o bom”.
Estudou e
trabalhou com o pai, um tabelião, e embora frequentasse
normalmente a igreja, não aparentava vocação religiosa. Quando
fez 18 anos, recebeu o convite de um tio para trabalhar em São Germano, na região de Monte Cassino, sul de Roma. Ali, por contato e influência dos monges beneditinos da famosa abadia
de Monte Cassino, decide, ao contrário do jovem rico que não seguiu Jesus (Mt 19,16-30), abandonar as riquezas para se entregar a
Deus.
Foi para
Roma sem dinheiro e sem projeto algum, confiando na Divina Providência. Foi
recebido por uma família, na qual ajudou a criar os dois filhos, que se
tornaram sacerdotes. Estudou Filosofia e Teologia
com os agostinianos, e passou a viver austeramente, alimentando-se só de pão,
água e legumes, dormindo pouco e dedicando-se longamente à oração e adoração. Por
fim vendeu sua biblioteca, deu os bens aos pobres e passou a viver a
maior parte do tempo nas igrejas e catacumbas.
Iniciou o
hábito da “Visitação das Sete Igrejas” – Giro delle Sette Chiese. Passava a maioria das suas noites nas catacumbas da cidade. No
tempo livre, dedicava-se com alegria à ajuda e pregação aos pobres, órfãos,
doentes e prisioneiros.
Certa
noite, a caminho de levar alimentos a um desvalido, foi salvo pelo anjo
da guarda de cair num profundo buraco – não o seu anjo, mas o da pessoa a quem
ia ajudar: Deus quis assim mostrar quanto Lhe era agradável a
esmola que ia fazer.
Em 1544,
na Vigília de Pentecostes, na catacumba da Basílica de São Sebastião, pediu ao Espírito Santo os
Seus dons; uma bola de fogo entrou-lhe pela boca e fez
arder de tal modo o seu coração, que este se dilatou, deslocando duas
costelas (fato constatado por uma autópsia) e formando uma
protuberância visível no seu peito. Mas ele nunca sentiu qualquer dor.
Fundou a Irmandade da Santíssima Trindade, em particular
para acolher os romeiros que visitavam a cidade, particularmente os doentes e
pobres, oferecendo hospedagem e tratamento gratuitos, com o auxílio de 15
companheiros. No início de cada mês, Filipe convidava o povo para a
Adoração Eucarística, e embora fosse leigo pregava admiravelmente; muitas eram
as esmolas recebidas para a Irmandade, à qual ficavam honrados de pertencer
cardeais, bispos, reis, princesas, generais e ministros. Seu
exemplo estimulou muitas vocações religiosas; e Santo
Inácio de Loyola, que o conheceu, dizia que ele parecia um sino,
levando todos para dentro da Igreja, enquanto ele mesmo não entrava… Filipe
achava-se indigno.
Afinal, com
36 anos, obediente ao seu confessor, foi ordenado sacerdote em
1551 e designado para a igreja de São Jerônimo da Caridade. E
desejou ir para as Índias e morrer como mártir. Mas São João Evangelista apareceu-lhe para dizer que sua missão era em
Roma.
Assim, fundou ali a Congregação do Oratório, chamando outros
homens distintos pelo saber e piedade para participarem. A origem foi o Oratório do Divino Amor, onde reunia jovens para
cantar e rezar, ele mesmo um apaixonado da poesia e música; o drama lírico com
coro e orquestra foi desenvolvido. Nas reuniões dos adultos,
frequentadas por todo o clero e pelos fiéis, fazia profundas reflexões a partir
da Summa Teológica de São Tomás de Aquino, seus estudos
universitários e experiência particular.
Seu sucesso
despertou a inveja, e daí a perseguição, que culminou
numa falsa acusação às autoridades eclesiásticas: Filipe foi suspenso das
suas ordens sacerdotais e impedido de celebrar a Missa, ministrar a Eucaristia
e pregar. Em resposta, dizia: “Como Deus é bom, que assim me humilha!”. Mas,
seu principal inimigo, cardeal Virgílio Rosario, acabou por se retratar,
publicamente, e se tornar seu discípulo. A suspensão foi retirada,
e o Papa, São Pio V, quis torná-lo cardeal,
oferta que Filipe recusou.
Sua vida
sacerdotal era exemplar. Passava grande parte do dia no
confessionário. Suscitou vocações, como a de César Barônio (†
1607), autor de “Anais Eclesiásticos”, obra de extremo valor histórico e
espiritual por compilar com exatidão fatos pretéritos da Igreja. Para não
entrar em êxtase, o que era frequente, Filipe pedia companhia
para rezar a Liturgia da Horas. Podia ver a santidade no rosto dos outros, como
disse por exemplo para São Carlos Borromeu e Santo Inácio de Loyola.
Fez vários
milagres, o principal a ressurreição do jovem e doente Paolo Massimo, em 16 de
março de 1583. Atrasado para lhe ministrar os últimos sacramentos,
encontrou o rapaz morto, mas ao falar o seu nome ele voltou à vida; recebendo
o viático e as últimas assistências espirituais, o moço morreu.
Assim, aos poucos Roma foi se transformando, afastando-se da devassidão e
paganização, e Felipe Néri ficou conhecido
como “Apóstolo de Roma”.
Por seus
jejuns e orações, acompanhado por Barônio, confessor do Papa Clemente
VIII, conseguiu que este perdoasse pela segunda vez a heresia calvinista
do rei Henrique IV, evitando assim que toda a França caísse na
apostasia.
No final da
vida, entrava em êxtase durante a celebração da Santa Missa,
ficando seu corpo elevado até 45 cm do chão. Por isso, o Papa o consultava em decisões importantes, e também
quis beijar as suas mãos.
Em 1594,
idoso e doente, cria-se que em breve morreria. Mas os médicos, saindo do seu
quarto, ouviram sua exclamação: “Ó minha Senhora, ó dulcíssima
e bendita Virgem! Não sou digno, não sou digno de Vós, ó dulcíssima Senhora,
que venhais visitar-me!”. Voltando, encontraram Filipe elevado
sobre o leito: “Não vistes a Santíssima Virgem, que me livrou
das dores?”.
Levantou-se,
curado, e só veio a falecer no ano seguinte, no dia de Corpus Christi, após
prever o horário de sua morte. Deitou-se na cama, em perfeita
saúde, e disse “Eu preciso morrer”.
Três horas depois, faleceu serenamente, assistido pelo cardeal Barônio.
São Filipe Néri é conhecido como o santo da alegria e da caridade,
e padroeiro dos educadores e comediantes.
Colaboração:
José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
São Filipe
Néri foi exemplar como leigo, por saber abandonar as riquezas passageiras
(ainda que legítimas) e pela imensa caridade no auxílio ao próximo, tanto na
formação e assistência imateriais quanto nos auxílios materiais, e igualmente
como sacerdote, pela pregação e ministério específico, particularmente no
Sacramento da Confissão. Mas o que o singulariza dentre outros santos que assim
também procederam é sem dúvida a sua alegria e bom humor. Seu lema, “Peccati e
melancolia, fuori di casa mia”, “Pecados e melancolia, fora da casa minha”, é
já uma declaração da sua confiança e abandono em Deus, ou seja, de um caminho
concreto de santidade. E só a santidade pode trazer a verdadeira alegria. Nem
sempre ela se manifestará em risos, é fato, mas quando além desta paz e
serenidade internas que existem na comunhão (ainda que discreta) com Deus se
traduz de forma mais perceptível, enorme é o seu poder de levar as almas para
Deus. O verdadeiro bom humor, que tem sua origem e constância no seguir a
Jesus, é apanágio dos santos, e parece ser especialmente recompensado por Deus
(cf. São Jonas e São Baraquísio, em Santo do Dia - São Jonas e São Baraquísio
(ou Barachiso) - Reze no Santuário Nacional (a12.com) ). Outro destaque em São
Filipe Néri é que, apesar das suas grandes obras assistenciais, os seus maiores
auxílios foram indiscutivelmente espirituais. Este é o sentido maior, aliás, do
sacerdócio, e foi depois de abraçá-lo que a obra caritativa de Filipe tornou-se
ainda maior, gigantesca. Talvez o melhor exemplo seja o caso de Paolo Massimo:
receber os últimos sacramentos era de tal modo importante que Deus concedeu-lhe
a ressurreição por meio do padre Filipe, para apenas em seguida levá-lo Consigo
– o que talvez pudesse não ser o seu destino, sem esta ação espiritual. Devemos
estar sempre atentos, clero e fiéis da Igreja, para a primazia do espiritual,
pois é efetivamente desta dimensão existencial que teremos, ou não, a Vida
infinita, e alegre, no Paraíso.
Oração:
Senhor Deus, que és e doais a Vida, concedei-nos por intercessão de São Filipe Néri dilatar o coração para Vós, abraçando a riqueza que é Vos servir na obediência e oração e na caridade aos irmãos, ainda que no corpo soframos as fraturas das imperfeições inerentes à nossa condição de pecadores; pois só assim chegaremos à alegria infinita de participar da Vossa Ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
Fonte: https://www.a12.com/
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