Ser e tornar-se irmãos na convivência sociopolítica
Uma das
novidades mais importantes da encíclica “Fratelli Tutti” é o vínculo que ela
postula entre a fraternidade e o bem comum político. Oferecemos o estudo de
Maria Aparecida Ferrari, publicado no boletim Romana.
04/05/2023
A santidade
na vida cotidiana afeta todas as ações do cristão: “Pensem, por exemplo, na
atuação que têm como cidadãos na vida civil. Um homem ciente de que o mundo — e
não só o templo — é o lugar do seu encontro com Cristo, ama este mundo, procura
adquirir um bom preparo intelectual e profissional, vai formando — com plena
liberdade — seus próprios critérios sobre os problemas do meio em que se
desenvolve; e, por consequência, toma suas próprias decisões, as quais, por serem
decisões de um cristão, procedem além disso de uma reflexão pessoal, que tenta
humildemente captar a vontade de Deus nesses detalhes pequenos e grandes da
vida”.
Com estas
palavras de São Josemaria abrimos a nossa reflexão sobre o que significa ser
irmãos na convivência sociopolítica, à luz dos ensinamentos da encíclica Fratelli
Tutti. Na primeira parte deste estudo iremos examinar o bem comum político
numa perspectiva relacional, com a ideia de mostrar que todos os cidadãos são
chamados a alcançá-lo, cada um de acordo o seu lugar na sociedade. As seções
posteriores, seguindo o fio condutor do documento pontifício, evidenciarão o
sentido em que é pertinente identificar a fraternidade, no âmbito social e
cívico, como um dos princípios éticos básicos dos quais é derivado o bem comum
político.
Não é
costume apresentar a fraternidade como um dos princípios estruturadores da
convivência política. Tanto a doutrina social da Igreja como o pensamento
filosófico-político enfatizam antes outros princípios como configuradores do
bem comum: a inalienável dignidade da pessoa, a justiça, a solidariedade, a
subsidiariedade, a liberdade de associação etc. A fraternidade aparece
sobretudo em outros âmbitos, como o familiar, o religioso, e o das relações de
amizade. De fato, uma das novidades mais importantes da encíclica Fratelli
Tutti é o vínculo que ela postula entre a fraternidade e o bem comum
político.
Não são, de
fato, dimensões independentes umas das outras, pois “para tornar possível o
desenvolvimento de uma comunidade mundial capaz de realizar a fraternidade a
partir de povos e nações que vivam a amizade social, é necessária a melhor
política colocada a serviço do verdadeiro bem comum” (FT 154).
Maria Aparecida Ferrari*
Professora Associada de Ética Aplicada na Faculdade de Filosofia da Pontifícia
Universidade da Santa Cruz (Roma)
Fonte: https://opusdei.org/pt-br
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