A DIMENSÃO PASTORAL DAS FESTAS JUNINAS
Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)
O mês de junho, de norte a sul do Brasil, é
caracterizado pelas festas folclóricas, mas com uma forte roupagem religiosa.
Por isso, nas aglomerações festivas de rua e nas instituições ressalta-se
naturalmente a figura dos santos do mês de junho celebrados pela Igreja
Católica, como: Santo Antônio (dia 13), São João Batista (dia 24), São Pedro e
São Paulo (dia 29). Mas o folclore ultrapassa o aspecto religioso, por isso, em
muitos lugares, falar da festa de Santo Antônio ou de São João não significa um
evento religioso da Igreja Católica.
Verdade, é que todos os anos talvez na maioria
das nossas comunidades, paróquias, instituições religiosas, escolas católicas
etc., acontecem as festas juninas. É um marco muito significativo que mobiliza,
com antecedência, muitas pessoas e é sempre uma festa esperada com alegria. Há
casos, em que ela tem conotação puramente econômica, em outros contextos, o
grande objetivo é promover a confraternização, o espírito de comunhão, a
amizade, a experiência festiva para animar as pessoas.
Oportunidade pastoral
Independente das tendências do caráter das
festas juninas, creio que estamos diante de uma oportunidade pastoral,
sobretudo, quando esses eventos acontecem dentro dos ambientes institucionais
católicos. A razão de ser da Igreja é a evangelização. Evangelizar é apresentar
a pessoa de Jesus e a beleza dos valores do Reino de Deus.
Tudo o que a Igreja faz, deve ser um exercício
de evangelização, uma prática que visa despertar e estimular a fé, a catequese,
a formação humana, atitudes éticas. Cada festa junina é uma enorme oportunidade
para a pregação da Palavra de Deus através das múltiplas atividades e elementos
típicos do folclore junino.
A evangelização está comprometida com a
promoção da dignidade humana; portanto, evangelizar requer também estimular o
acolhimento, a fraternidade, a solidariedade, a partilha; evangelizar é ainda
abraçar a promoção do sentido da vida: o viver com alegria, evitar excessos,
fazer o bem, ser ético, ser solidário, evitar vícios. Por isso, durante as
horas de uma festa junina, a sensibilidade pastoral pode generosamente
disseminar bons conceitos, divulgar boas ideias, provocar compromissos sobre o
sentido da vida e a importância da fé.
O clima das festas juninas, naturalmente nos
convida para a importância do aprofundamento de valores como a familiaridade, a
amizade, a afetividade, a cordialidade, proximidade, harmonia nas relações. A
evangelização e a catequese, não acontecem somente através da pregação
explícita, mas também por meio de atividades como festas, o esporte, a música,
a dança, o turismo religioso, a experiência de serviço voluntário
etc.
Elementos das festas juninas e a vida
cristã
Nas festas juninas há uma série de elementos
típicos, sempre presentes, que podem ser objeto de reflexão e assim, despertar
a atenção, provocar a consciência, incentivar a reflexão dos brincantes.
Recordemos alguns desses elementos: a decoração, trajes, músicas e danças,
comidas e bebidas típicas, a fogueira, a imagem dos santos, as brincadeiras
etc.
A decoração do ambiente, os enfeites e
os trajes, nos alertam para dar atenção ao extraordinário, que supera
o cotidiano e a rotina. A vida cristã é chamada a ser decorada pela beleza das
virtudes; a atratividade da decoração das festas juninas nos recorda a beleza
das virtudes da vida cristã que enfeitam a nossa vida. O cristão é chamado a
trajar as virtudes de Jesus Cristo. Por isso São Paulo nos
alerta: “vistam-se de sentimentos de compaixão, bondade, humildade,
mansidão, paciência… E acima de tudo, vistam-se com o amor, que é o laço da
perfeição” (Cl 3,12-14); e São Pedro: “revistam-se de humildade no
relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a graça aos
humildes.” (1Pd 5,5); para entrar no céu precisamos do traje da Caridade! (cf.
Mt 25,31-46).
Nas festas juninas há músicas e danças
animadas: são atividades artísticas que nos recordam a harmonia, o
louvor, o dinamismo da vida cristã; a espiritualidade cristã é integrada,
harmônica, motivadora, estimulante, equilibrada; música e dança devem estar em
harmonia, assim como na Igreja a fé e as atitudes; fé e vida não se separam.
Assim como se dança no compasso da música, na Igreja vivemos no compasso da
Palavra de Deus, do magistério da Igreja, das orientações pastorais.
Nas festas juninas comemos e bebemos: há comidas
e bebidas típicas; também na Igreja, há “comidas e bebidas típicas”: é
o Pão da Palavra, o Banquete da Eucaristia, a festa do convívio fraterno… É
importante convidar os participantes da festa a refletirem sobre o que os
alimenta; não basta o alimento que se perde, alerta Jesus (cf. Jo 6,22-29). É preciso
alimentar a alma, o coração, a inteligência!
As imagens dos santos, nos convidam a sermos autênticos discípulos de
Jesus Cristo; os santos são modelos de virtudes, são nossos intercessores; nos
indagam sobre a necessidade da santidade, da vida exemplar, da tradução da fé
em atitudes concretas. Nas festas juninas poderíamos falar mais das virtudes
dos santos para estimular o povo a cultivar bons ideais.
Outro elemento expressivo nas festas juninas
é a fogueira; em alguns lugar ela é até eletrônica! Não
importa! Certo é que há uma realidade que nos recorda a luz; o fogo é símbolo
da presença do Espírito Santo que tudo ilumina, aquece, transforma, purifica; Jesus Cristo é a luz do mundo;
cada cristão é chamado a ser luz, e convidado a manter aceso dentro de si, o
fogo do amor, da fraternidade, da paz, da justiça. O fogo é também um convite a
saída da escuridão, das trevas, da maldade, da violência, e toda forma de
pecado…
Algumas preocupações práticas
O zelo para com a dimensão pastoral das festas
juninas e de outros eventos, não se improvisa; a consciência dessa necessidade
deve estar presente no projeto e no programa de atividades. Em nossas festas
juninas e em outros eventos devemos sempre nos preocupar com o saldo pastoral,
ou seja, que além do evento em si, seus participantes recebam algo que perdure
no tempo e os enriqueça. Enfim, a Igreja vive para evangelizar e, pensar
criativamente e com a devida sutileza a questão, é necessário. Vejamos algumas
preocupações concretas:
É preciso ter critério para a escolha das
músicas, danças, brincadeiras; quanto às músicas é preciso dar atenção à letra
e nem toda dança é conveniente; por outro lado, há brincadeiras que geram
confusão, pois nem todos sabem brincar;
Em cada festa é necessário um grupo de
locutores habilitados, com sensibilidade catequética, capazes de reflexão; as
festas juninas das Instituições Católicas devem ter um diferencial específico,
um clima e conteúdo educativos;
A festa junina é sempre um evento afetivo,
envolvente e aprazível; assim também devem ser todas as nossas comunidades; por
isso a festa junina é uma ocasião para se estimular o espírito de família, de
comunhão, participação, envolvimento, corresponsabilidade, de amizade na Igreja
e sinodalidade;
Ao longo da festa junina, animadores
bem-preparados, podem muito bem com serenidade e sutileza apresentar a
instituição (paróquia, comunidade, escola…) com suas atividades, formas de
engajamento, projetos, ofertas de serviços; estimulando o
voluntariado;
A comemoração do santos juninos é um convite
para ressaltar e refletir sobre as virtudes deles, repropondo aos participantes
o ideal da fé, da esperança, da vida espiritual, do chamado à santidade, do
amor à Igreja, da paixão por Deus, da Caridade;
A festa é sempre espaço para semear mensagens
de otimismo, valores éticos, boas atitudes, estímulos de formação humana,
cuidado com a família etc.
Em algumas instituições costuma-se escolher um
tema para a festa; é uma boa ideia e pode ser uma fonte de conteúdo a ser
veiculado ao longo da programação.
Festa por festa e forró por forró, tem em todo
lugar; por isso somos chamados a promover algo diferente zelando pelo clima
humano, assegurando conteúdo edificante e mensagens estimulantes que tocam o
coração. Vale a pena nunca perdermos a oportunidade de festejar
evangelizando.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
Você acha importante essa preocupação pastoral
nos nossos eventos festivos?
Por que muitas vezes, o aspecto econômico ou
puramente lúdico, suprime a preocupação pastoral?
Quais outras preocupações práticas contribuem para o fortalecimento da dimensão pastoral das festas juninas e de outros eventos?
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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