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sexta-feira, 9 de junho de 2023

“A graça de Deus salvador: livre, suficiente, necessária para nós” (5/6)

El Greco, Retrato de São Paulo, Casa y Museo de El Greco, Toledo

Arquivo 30Dias – 06/07 – 2009

“A graça de Deus salvador: livre, suficiente, necessária para nós”

Com essas palavras, Giovanni Battista Montini, em suas notas sobre as Cartas de São Paulo, escritas quando ainda jovem sacerdote, sublinha a experiência e a mensagem do Apóstolo.

de padre Giacomo Tantardini

3. O Evangelho que Paulo transmitiu
Duas breves observações sobre o anúncio de Paulo.

O que Paulo anuncia? Em primeiro lugar, o que ele, por sua vez, recebeu. Como é bonito! Paulo não inventa nada, anuncia aquilo que ele mesmo recebeu.

Vou ler 1Cor 15, 1ss. Estes versículos contêm todo o anúncio de Paulo. Todo o anúncio de Jesus Cristo.
“Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que recebestes, no qual permaneceis firmes, e pelo qual sois salvos, se o guardais como vo-lo anunciei; doutro modo, teríeis acreditado em vão. Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze”. Paulo anuncia o testemunho de Jesus. “O testemunho de Deus” (1Cor 2, 1). O testemunho que Deus deu ressuscitando Jesus dos mortos. O testemunho que Jesus Cristo deu de ter ressuscitado, mostrando-se aos discípulos. Faz parte da essência do anúncio cristão a manifestação visível do Ressuscitado às testemunhas que Ele escolhe. Se não se tivesse tornado visível às testemunhas, se Ele mesmo não tivesse dado testemunho de ter ressuscitado, o testemunho dos apóstolos teria sido uma invenção deles.

Heinrich Schlier, que, na minha opinião, é o maior exegeta que a Igreja teve no século passado, insiste muito nesse fato! É Jesus que, dando-se a ver, dá testemunho de Si mesmo. É Jesus que, dando-se a ver aos apóstolos, deixando-se tocar e comendo com eles, testemunha a realidade da Sua ressurreição: “Tomé, vê e põe teu dedo aqui” (cf. Jo 20, 27). “Visus est, tactus est et manducavit. Ipse certe erat / Foi visto, foi tocado, comeu. Era realmente Ele”, diz Santo Agostinho num discurso contra os gnósticos, comentando a aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos a partir do Evangelho de Lucas (Lc 24, 36-49).

É Jesus que, dando-se a ver, testemunha ter ressuscitado, estar vivo. O testemunho dos apóstolos é um reflexo de Seu testemunho. Como isso é importante! A luz da Igreja é apenas uma luz refletida. “Lumen gentium cum sit Christus / É Cristo a luz dos povos”. A Igreja reflete essa Sua luz como num espelho. Uma das frases mais belas de Paulo, muito valiosa para mim, diz: “E nós todos que, com a face descoberta, refletimos como num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados nessa mesma imagem [o reflexo de Jesus é eficaz: muda a vida], cada vez mais resplandecente, pelo Espírito do Senhor” (2Cor 3, 18).

Paulo anuncia o que recebeu, o que o próprio Jesus Cristo testemunhou a Seus apóstolos.
Faço uma segunda observação a respeito do anúncio de Paulo. Esta coisa belíssima também pode ser lida na Primeira Carta aos Coríntios (2, 1ss). O anúncio de Jesus traz consigo a prova da sua verdade. A questão não é que nós demonstremos que Jesus está vivo. É o próprio Jesus que, mostrando-se, agindo, demonstra estar vivo. Do contrário, aumentamos a dúvida, nossa e dos outros. É Jesus que, agindo, e portanto mostrando-se, demonstra estar vivo. A demonstração da verdade do cristianismo é a ação e a manifestação de Jesus no presente.

Schlier diz isso usando uma expressão belíssima: “O kerygma e os dons, o kerygma e os milagres são uma coisa só”. E Paulo o diz de maneira ainda mais simples que o grande exegeta: “Eu mesmo, quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com o prestígio da palavra ou da sabedoria para vos anunciar o mistério de Deus [o testemunho que Deus deu]. Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. Estive entre vós cheio de fraqueza [como é bonito isso!], receio e tremor; minha palavra e minha pregação nada tinham da persuasiva linguagem da sabedoria [não queria demonstrar ele que Jesus era real], mas eram uma manifestação do Espírito [ou seja, do fato de que Jesus ressuscitado se manifesta] e poder [de Sua ação, de Sua manifestação], a fim de que a vossa fé não se baseie sobre a sabedoria dos homens, mas sobre o poder de Deus” (1Cor 2, 1-5).

A fé só pode basear-se na força de Deus, ou seja, na ação de Jesus, na manifestação de Jesus. Não vencemos o medo da morte (cf. Hb 2, 15) com os argumentos de sabedoria, com os nossos discursos. O medo da morte é vencido quando Jesus, agindo no presente, se dá a reconhecer vivo. Jesus demonstra ser real, estar vivo, quando se mostra. Quando mostra a Sua ação, quando mostra a Sua força. “Dando uma prova totalmente Sua”, escreve Schlier, que experimentamos “como realidade tangível”.

Fonte: http://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF