A MAIOR DOR DOS JOVENS
O mal-estar
dos jovens, sua inquietude, as dificuldades que vivem quando entram no mundo
“adulto”. Costumamos achar que são frágeis, incapazes de sacrifício e esforço.
E se o problema fosse todo o bem que carregam no coração?
Silvio
Cattarina* 22.06.2023
Cada vez com mais frequência, fico refletindo
sobre o mal-estar dos jovens. Não tanto sobre a sua vastidão e
dramaticidade ou sobre as inúmeras formas de manifestação que ele assume, mas
sim sobre sua possível origem e seu significado.
Fomos levados a pensar – e boa parte da
psicologia leva para isso – que o mal-estar e o medo de viver aparecem no jovem
por causa de suas muitas fragilidades e das inumeráveis dificuldades que
ele encontra ao entrar no mundo “adulto”, na realidade. Enfim, a causa do problema dos jovens é sua própria pessoa e os
obstáculos espalhados em seu caminho. Ou seja, o mal, o negativo, a
fadiga, o sacrifício.
Cada vez mais penso que, pelo contrário, a causa do problema são o bem e o belo que há nele, dos
quais seu coração é feito, e também a grandeza, a imensidão que ele enxerga na
realidade. Desde que o mundo é mundo, o jovem nunca pensa demais em seus
limites, nem tampouco nos obstáculos que se interpõem a ele. O jovem – em certo sentido – é o poderoso e também o todo-poderoso
por excelência.
Por essa razão, pode ser sensato pensar
que a verdadeira questão com a qual ele se enfrenta é realmente o bem.
Ou seja, o mar de expectativa, desejo e amor que
ele sente e gostaria de ter para si. Benedetta – uma das nossas garotas de “O
imprevisto” – exclamou um dia: «Como fui tola até agora, sempre pensei e disse
que era uma garota vazia, que dentro de mim havia um grande vazio. Mas sempre
estive cheia de mil e uma coisas, desejos, projetos, sonhos… No entanto, o vazio existe, mas não está dentro de mim, está fora
de mim!»
Apenas – e este é o grande drama da situação
atual – inúmeros jovens pensam e acreditam que não
merecem o desejo de vida que existe dentro deles, que não são dignos
dele, que nunca poderão realizar o que anseiam.
Além do grande bem que ele sente e vê dentro de
si, o jovem descobre e vê que também na realidade existe a
possibilidade de uma grandeza infinita, mas ele acha e acredita que isso nunca
será, nunca poderá ser para ele… no fundo, acha que não existe, que
não é verdade… Que não dura, que não cabe a ele e não o aguarda.
O jovem pensa de si mesmo e da realidade de
forma tão limitada, desanimadora e decepcionante porque ele não sabe – não foi educado, não lhe foi ensinado
– esperar, admitir, imaginar, conceber algo mais, algo além, uma
surpresa, um imprevisto, um presente, um chamado. O drama mais
agudo, mais intenso da juventude atual – e também de muitos “adultos” – é que
eles não são capazes de esperar por uma novidade.
O coração dos jovens não está aberto, não está
disposto a olhar, a deixar entrar tudo o que vive na realidade, a profundidade,
a altura da vida. Não sabem ver, não sabem olhar. Não
estão disponíveis para uma grande surpresa. É um coração fechado e surdo.
Então, é necessário pensar que o caminho a seguir é aquele que pode levar a uma abertura.
É uma questão de conhecimento se a vida do jovem é tão miserável, pequena,
mesquinha, pobre, inútil, como ele pensa de si mesmo.
Compreende-se então que a maior dor não é o mal, mas sim o bem, é o amor. Se
não há amor, se não o conhecem, se não o encontram, se ele não os chama,
certamente ocorrem grandes problemas e, por fim, o jovem fica irritado,
torna-se agressivo e violento. Eles são assim, duros, maus… Porque têm medo.
De quê? Do seu coração e da vida, da
imensidão da vida, da realidade. Estão cheios de dúvidas… Não sobre
as suas capacidades, mas em relação à positividade da vida, do Ser.
Em última análise, têm medo de não serem dignos
de Deus, de não merecerem a Deus. A maior dor é não saber amar.
*Educador e fundador da comunidade “O
imprevisto”, de Pésaro
Fonte: https://portugues.clonline.org/
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