“No decurso dos séculos a Igreja
refletiu sobre a cooperação de Maria na obra da salvação, aprofundando a
análise da sua associação ao sacrifício redentor de Cristo. Já Santo Agostinho
atribui à Virgem a qualificação de ‘cooperadora’ da Redenção."
Jackson Erpen
- Cidade do Vaticano
Temos
ressaltado entre outros, nesta série de programas sobre a mediação de Maria,
que a Constituição Dogmática Lumen Gentium do
Concílio Vaticano II não teve a pretensão de "propor toda a doutrina
acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas
pelos teólogos". Neste sentido, o n. 54 esclarece que,
"conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas
católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois
de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós”.
São João
Paulo II, em 1997, destacou que "o ensinamento da Igreja sublinha
com clareza a diferença entre a Mãe e o Filho na obra da salvação, ilustrando a
subordinação da Virgem, enquanto cooperadora, ao único Redentor. o ensinamento
da Igreja sublinha com clareza a diferença entre a Mãe e o Filho na obra da
salvação, ilustrando a subordinação da Virgem, enquanto cooperadora, ao único
Redentor."
Mais
recentemente, o Papa
Francisco chamou-nos a atenção para outro aspecto,
afirmando que "São Bernardo disse-nos que quando falamos de Maria, nunca
são suficientes o louvor, os títulos de louvor, mas eles em nada tocavam este
seu discipulado humilde. Discípula! Fiel ao seu Mestre, que é o seu Filho, o
único Redentor, jamais quis reter para si algo do seu Filho. Nunca se
apresentou como corredentora. Não, discípula!".
A mediação
de Maria vem sendo o tema das reflexões do Pe. Gerson Schmidt*, que
no programa de hoje destaca outros aspectos levantados pelos Padres da Igreja,
teólogos e Pontífices:
"São
Luís Maria Grignon de Montfort resume todo o fundamento da doutrina católica
acerca da participação da Mãe de Deus na redenção da humanidade, afirmando
assim: "Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e
é também por Ela que deve reinar no mundo". Como em Deus não há movimento
nem mudança, a sua vontade permanece sempre a mesma para todos os efeitos [4].
Ora, Ele escolheu livremente ter uma mãe segundo a carne humana e manter-se
submisso aos seus cuidados durante a maior parte de sua vida terrena. Não é difícil
concluir, portanto, que essa maternidade divina continua no Céu. A própria
Sagrada Escritura nos confirma isso em inúmeras passagens, em especial, nos
relatos de São João sobre as últimas palavras de Cristo pregado à cruz: Maria é
dada como mãe para toda a humanidade (cf. Jo 19, 25-27; Gn 3, 15; Ap 12, 1-18).
E é por meio da cooperação dessa mesma Mãe que nos devem chegar todas as graças
da salvação, ou seja, o próprio Jesus Cristo. Estamos plenamente de acordo com
estas palavras do eminente mariólogo Pe. Marceliano Lamera: “A Corredenção é
uma função maternal, ou seja, é adequada a Maria que a exerce em sua condição
de Mãe. Ela é Corredentora por ser mãe. É Mãe Corredentora” […][1].
Santos de todas as épocas dão crédito a essa doutrina. Falando sobre a
cooperação de Nossa Senhora na obra da Redenção, Santo Irineu disse:
"Obedecendo, Ela tornou-se causa de salvação para si e para todo o gênero
humano". A Virgem Santíssima completou na própria carne as dores que
faltaram à Cruz de Cristo. Algo semelhante escreveu um discípulo de Santo
Anselmo: "Deus é Senhor de todas as coisas, constituindo cada uma delas na
sua própria natureza pela voz do seu poder, e Maria é Senhora de todas as
coisas, reconstituindo-as na sua dignidade primitiva pela graça, que lhes
mereceu". E para que não reste qualquer dúvida dessa cooperação de Maria,
citemos a profecia de Simeão acerca da espada de dor com a qual Ela seria
ferida (cf. Lc 2, 35). A Virgem Santíssima completou na própria carne as dores
que faltaram à Cruz de Cristo, segundo o ensinamento de São Paulo (cf. Col 1,
24). No último século, o Magistério ordinário da Igreja também falou repetidas
vezes sobre o mesmo assunto.
Santos de todas as épocas dão crédito a participação de Maria como
corredentora. Falando sobre a cooperação de Nossa Senhora na obra da Redenção,
Santo Irineu disse: "Obedecendo, Ela tornou-se causa de salvação para si e
para todo o gênero humano". Leão XIII, por exemplo, redigiu 13 encíclicas
para ressaltar o valor da oração do Rosário. É de sua pena esta belíssima
prece, na qual o grande pontífice pede que a Virgem "restitua a tranquilidade
da paz aos espíritos angustiados; apresse enfim, na vida privada como na vida
pública, o retorno a Jesus Cristo": "Que, no seu poder, a Virgem Mãe,
que outrora cooperou por seu amor no nascimento dos fiéis na Igreja, seja ainda
agora o instrumento e a guardiã da nossa salvação".
O Papa Pio XII que, conforme contam algumas testemunhas, teria visto o
milagre do sol nos jardins do Vaticano, ensinava: "Se Maria, na obra da
salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio
de salvação, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi
escolhida para Mãe de Cristo 'para lhe ser associada na redenção do gênero
humano'". Palavras semelhantes são encontradas também nas cartas de Pio X,
Bento XV, Pio XI, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II.
Paulo VI afirmou assim: “A reforma pós-conciliar considerou a Virgem
Maria com uma perspectiva adequada no mistério de Cristo; reconheceu-Lhe o
lugar singular que Lhe compete no culto cristão, enquanto alma cooperadora do
Redentor”.
São João Paulo II, logo após, afirmou assim: “Maria, enquanto concebida
e nascida sem a mancha do pecado, participou de forma admirável nos sofrimentos
do seu divino Filho, a fim de ser Corredentora da Humanidade”[2]. Continua João Paulo II afirmando em outra
audiência geral em 1997: “No decurso dos séculos a Igreja refletiu sobre a
cooperação de Maria na obra da salvação, aprofundando a análise da sua
associação ao sacrifício redentor de Cristo. Já Santo Agostinho atribui à
Virgem a qualificação de ‘cooperadora’ da Redenção. […] Aplicado a Maria, o
termo ‘cooperadora’ assume, porém, um significado específico. A colaboração dos
cristãos na salvação atua-se depois do evento do Calvário, cujos frutos eles se
empenham em difundir mediante a oração e o sacrifício. O concurso de Maria, ao
contrário, atuou-se durante o evento mesmo e a título de Mãe; estende-se,
portanto, à totalidade da obra salvífica de Cristo. Somente Ela esteve
associada deste modo à oferta redentora, que mereceu a salvação de todos os
homens. Em união com Cristo e submetida a Ele, colaborou para obter a graça da
salvação à humanidade inteira”[3]."
*Padre
Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além
da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em
Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
_______________________
[1] LAMERA, OP, Marceliano.
María, Madre corredentora o la maternidad divino-espiritual de María y la
Corredención. In: Estudios Marianos. Madrid. N.7 (1948); p.146.
[2] SÃO
JOÃO PAULO II. Audiência, 8/9/1982.
[3] SÃO
JOÃO PAULO II. Audiência geral, 9/4/1997.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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