A ORAÇÃO DO “ANGELUS DOMINI” (ANJO DO SENHOR)
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
Caros diocesanos. A geração pós-conciliar está
habituada a ouvir que a liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e
a fonte donde emana toda sua força (cf. SC 10), portanto, primeira e mais
necessária fonte de espiritualidade, pois ela torna presente o mistério pascal
na realidade da vida humana, mesmo não sendo a única forma de vida espiritual
(cf. SC 12). Nos tempos pré-conciliares, à medida que a liturgia foi deixando
de ser a principal fonte da vida cristã, distanciando-se dos fiéis pelo limite
da língua latina e outros, o Povo de Deus, impedido de participar ativa,
consciente, frutuosa e plenamente, como reflete o Concílio Vaticano II (cf. SC
11, 21, 30…), foi encontrando, a seu modo, outras formas para expressar a fé e
a vivência de sua espiritualidade. Estas apareceram através da história e
tornaram-se modalidades de externar, com simplicidade e fervor espiritual, ao
lado ou junto da liturgia oficial, a fé e o amor às Pessoas da Trindade, a
devoção aos santos e às santas – especialmente à Virgem Maria – e outras
expressões penitenciais, de louvor e de súplica. A dificuldade de entender a
oração litúrgica fez o povo recorrer a fórmulas mais simples, sensíveis e
repetitivas de oração. Dentro desse contexto, surgiram o Angelus,
o Rosário (terço), a Via-Sacra e outras formas de
devoção popular.
O Documento de Aparecida apresenta a piedade
popular como verdadeiro lugar de encontro com o Senhor; sendo um precioso
tesouro da Igreja católica latino-americana (cf. DAp 258-265): “É uma
espiritualidade encarnada na cultura dos simples, que nem por isso é menos
espiritual, mas que o é de outra maneira” (DAp 263). O Concílio Ecumênico
Vaticano II propõe que as práticas de piedade popular sejam harmonizadas com o
Ano litúrgico, a fim de que se inspirem na liturgia e a ela conduzam o povo
cristão (cf. SC 13). Toda espiritualidade cristã deve ter como centro o
Mistério pascal de Jesus Cristo. Portanto, as formas devocionais paralelas, ou
as que sofreram desvios, sejam purificadas e reorientadas conforme as indicações
da Igreja.
Hoje abordamos a oração do Angelus
Domini (Anjo do Senhor), que tem sua
origem no contexto histórico, acima refletido. Constitui-se num pequeno Ofício
Divino (Liturgia das Horas), de forma popular, inspirado na devoção de
São Francisco de Assis pelo mistério da encarnação. Nele os três Salmos
do Ofício são substituídos por três Ave-Marias, motivadas pelo
mesmo número de antífonas, as quais recordam o evangelho da anunciação (cf. Lc
1, 26-39); seguindo o versículo e a oração final. No Angelus Domini contemplamos a atitude de
fé da Virgem Maria, e igualmente nossa, diante do mistério da encarnação. A
oração final do Angelus é uma síntese admirável que liga o
mistério da encarnação ao mistério da Páscoa. Os fiéis são convidados pelo
toque dos sinos a recitar esta oração de encontro com Cristo, por Maria, três
vezes ao dia: de manhã, ao meio-dia e no entardecer, permeando o tempo diário
com a oração. O Angelus contém extraordinária riqueza, pois em
cada versículo do mesmo contemplamos a figura de Maria, integrada no plano
salvífico, em profunda relação com a Palavra de Deus. Afirma Paulo VI sobre
o Angelus Domini (Anjo do Senhor): “Sua estrutura simples,
o caráter bíblico, … a abertura para o Mistério Pascal, … fazem com que ele, à
distância de séculos, conserve inalterado o seu valor e intacto o seu frescor”
(Marialis Cultus 41). É um belo exemplo de oração popular que não quebra a sua
relação com o espírito da liturgia. Dela procede e a ela conduz.
Concluímos com a invocação do rico versículo mariano do Angelus: “Rogai por nós, Santa Mãe de Deus – para que sejamos dignos das promessas de Cristo”.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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