A ORAÇÃO DO ROSÁRIO
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
A ORAÇÃO DO ROSÁRIO (TERÇO) – I
(...) Os cristãos católicos
valorizam diversas formas de oração. Além das celebrações litúrgicas oficiais,
surgiram, através da história, maneiras de rezar, de cunho mais popular e
devocional. Uma delas é a oração do rosário ou do terço, enriquecendo a vida
orante da Igreja, de modo simples, mas profundo e envolvente, sendo recomendada
seguidamente pelo próprio magistério, como veremos mais adiante. Ultimamente
esta oração, surgida da piedade popular, está recebendo nova valorização,
sobretudo, pelo chamado Terço dos Homens, também crescente em nossa
diocese.
No programa de hoje, vamos refletir sobre a
origem histórica do santo rosário (ou do terço) como uma das devoções que mais
se difundiu, a partir da Idade Média até os nossos tempos. Nos primeiros
séculos do cristianismo os mistérios da paixão-morte e ressurreição de Jesus
Cristo, narrados pelos evangelistas, centralizavam a vida de oração e meditação
da Igreja. É justamente a partir do mistério pascal do Senhor que foi surgindo
o Ano Litúrgico da Igreja, com suas celebrações, enriquecidas ao longo da
história. Mas a profundidade do mistério pascal nem sempre se tornou tão
acessível a todo povo cristão, por motivos diversos. Na Idade Média, por
exemplo, o clero e os monges tinham acesso à liturgia oficial e com ela nutriam
sua espiritualidade, mas o povo simples, que não mais entendia a língua usada
na liturgia (latim) e suas complexas cerimônias, nutria a piedade com diversas
devoções, normalmente paralelas às cerimônias oficiais. Esta realidade se
acentuaria até o Concílio Vaticano II (1962-1965). Privado, de certa forma, do
alimento da Palavra de Deus e da participação consciente e ativa nas
celebrações litúrgicas, o povo recorreu a formas alternativas ou substitutivas
de oração. Tentou concentrar sua fé e piedade em torno dos mistérios essenciais
da redenção: encarnação, paixão e ressurreição. Neste contexto surgiram o
rosário (terço) com seus mistérios, o ângelus com o toque dos sinos, a
via-sacra e outras devoções. Estas se difundiram rapidamente, sobretudo através
dos pregadores itinerantes (dominicanos e franciscanos), respondendo a uma
necessidade pastoral da época. Outro elemento que favoreceu a rápida difusão do
rosário foi a tendência à repetição na liturgia da época. Neste contexto, os
mistérios da encarnação (presépio), da paixão e morte (via-sacra) receberam
atenção especial pelo realismo cênico e pelo toque da sensibilidade dos fiéis
para com a humanidade de Jesus Cristo e da Virgem Maria.
Já nos primórdios da era cristã, nós encontramos,
entre os monges do antigo Egito, a prática de orações repetidas e contadas por
grãos ou pedrinhas e, mais tarde, se faz referência ao uso de cordinha com
grãos (KLEIN A., Il Culto di Maria Oggi, p. 265ss). A partir do
século X era prescrita, aos religiosos iletrados, a repetição de Pai Nossos, em
lugar do ofício coral (RUFFINI E., Esercizi di Pietà – Nuovo Dizionario
di Spiritualità – p. 518), prática também prescrita por S. Francisco
de Assis (RnB 3 e Rb 3). No século XII começou a difundir-se rapidamente a
oração da Ave-Maria e com ela o “Psalterium Beatae Mariae Virginis”
(Saltério da Beata Virgem Maria), o qual consistia na recitação de 150
Ave-Marias, o correspondente aos 150 salmos da Bíblia. Para tal era prático
usar um cordãozinho com nós ou algo semelhante. No século XV a escola de oração
dominicana acrescentou o Pai-Nosso e criou a relação dos diversos mistérios,
como nós conhecemos hoje. Após o Concílio de Trento (Séc. XVI), o rosário
tornou-se oração contemplativa muito comum na Igreja e para torná-la mais
acessível, aos poucos, foi reduzida a um terço, isto é, a cinco
dezenas.
Conhecendo um pouco mais a história do rosário (terço), vejamos nas próximas mensagens sua valorização pelo magistério da Igreja e seu sentido em nosso tempo.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário