Dom Dirceu de Oliveira Medeiros
Bispo de Camaçari (BA)
Estamos em junho. Mês marcado pela devoção aos
Santos Juninos e de modo particular a São João Batista. No Nordeste dizemos: “é
São João!” Cabe uma palavra sobre a riqueza da religiosidade popular. A
premissa do Documento de Aparecida é clara: “a piedade popular é lugar de
encontro com Jesus Cristo.” O Documento destaca a rica e profunda religiosidade
popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos, e a apresentou
como “o precioso tesouro da Igreja Católica”. Entre as expressões dessa
espiritualidade contam-se: as festas patronais, as novenas, os rosários e
vias-sacras, as procissões, os cânticos do folclore religioso, o carinho para
com a Mãe de Jesus, aos santos e aos anjos, as promessas, as orações em
família, dentre outras.
Durante muito tempo e também sob uma leitura
rasa do Concílio Vaticano II, a religiosidade popular foi vista com
desconfiança ou como algo a ser superado. Mas eu diria: ao contemplar
esse rico patrimônio, recordamos da doutrina do Logos Spermátikos, isto é, a concepção de que encontramos, nos meandros de cada
cultura, as sementes do Verbo de Deus. Naturalmente que esse processo está
conectado à receptio do Querigma.
Aqui, salvo melhor juízo, não se trata nem de
demonizar e nem mesmo de exaltar de modo acrítico a piedade popular como se ela
não carecesse de purificação e não estivesse sujeita a absorver elementos
estranhos à fé cristã. O próprio Documento diz: “Quando afirmamos que é
necessário evangelizá-la ou purificá-la, não queremos dizer que esteja privada
de riqueza evangélica”.
Mas voltemos ao São João. Salta aos olhos a
força dessa festa no querido Nordeste. Não se trata de algo periférico à
cultura, mas de algo abrangente e capaz de influenciar profundamente as
expressões culturais. Poderíamos dizer que o São João alcança os cinco
sentidos, portanto, um evento enraizado na cultura e de profunda relevância
popular. Alcança o paladar, pois as comidas típicas são apreciadas e fartas,
alcança os ouvidos, afinal é inegável a beleza da música. Igualmente alcança o
tato, o olfato, a visão, uma vez que as danças, o espocar dos fogos e as
fogueiras encantam a todos.
Finalmente atinge a fé. Dizem que ao visitar
as casas o fiel pergunta: “São João passou por aqui”? Essa pergunta lhe dá o
direito de saborear a comida boa e em grande quantidade, variada em sabores
oferecida por todos. Algo semelhante com o mercado de Isaías (Is. 55, 1-2) A
festa da abundância e da fartura.
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