São Cirilo seguiu o apóstolo São
Paulo no aprofundamento dos divinos mistérios nas quais as pessoas recebiam o
sacramento da eucaristia, para que assim elas se tornassem um só corpo e um só
sangue com Jesus Cristo.
Dom Vital
Corbellini, Bispo de Marabá – PA
São Cirilo
de Jerusalém, bispo do século IV, destacou-se pelas suas catequeses
mistagógicas dadas aos que recebiam os sacramentos da iniciação à vida cristã,
do batismo, da crisma e da eucaristia na noite do sábado santo. Foi um dos
bispos do século IV que aprimorou a catequese para que as pessoas recebessem
bem os sacramentos na unidade com Deus Uno e Trino e com a Igreja. Na semana
após a Páscoa mantinha contato, ou formação com os que recebiam os sacramentos
nas assim chamadas catequeses mistagógicas. Nós veremos a seguir duas
catequeses mistagógicas, a quarta e a quinta, pois elas são fundamentais na
doutrina eucarística, a ação de graças ao Senhor Jesus Cristo, o pão vivo do
céu.
Um só corpo em Cristo (1 Cor 11,23)
São Cirilo
seguiu o apóstolo São Paulo no aprofundamento dos divinos mistérios nas quais
as pessoas recebiam o sacramento da eucaristia, para que assim elas se
tornassem um só corpo e um só sangue com Jesus Cristo. A Palavra de Deus
afirmou que o Senhor Jesus tomou o pão e disse para os discípulos o comerem e
também tomou o vinho afirmando que o cálice com vinho era o seu sangue para ser
bebido (1 Cor 11,24s). Jesus mesmo se manifestou ao dizer sobre o pão que era o
seu corpo e sobre o cálice com vinho era o seu sangue. Quem é que duvidaria dessas
coisas?! Será preciso ter fé na presença do Senhor pela sua vida, com o seu
corpo e o seu sangue[1].
A
transformação no corpo e no sangue de Cristo ocorreu após as palavras serem
ditas na consagração. O bispo recordava aos fieis que Jesus mudou a água em
vinho nas bodas de Caná da Galileia. Ele era convidado para esta festa de modo
que fez o milagre formidável ao transformar a água em vinho de modo que o
melhor vinho veio ao fim, o próprio Senhor Jesus[2].
Participar na comunidade pela eucaristia
São Cirilo
acentuou que é preciso o fiel participar da comunidade e ao corpo e ao sangue
de Cristo. Sob a espécie do pão, recebe a pessoa, o corpo do Senhor e sob a
espécie do vinho o fiel recebe o sangue de Cristo, para ser um só corpo um só
sangue com Cristo. Tudo isso conduzirá as pessoas tornarem-se portadores de
Cristo anunciando com o seu corpo e o seu sangue para todos os membros. A ação
visa a unidade em Cristo Jesus, em vista da participação da pessoa à natureza
divina (2 Pd 1,4)[3].
O pão e o Logos, Jesus
O pão
celeste e o cálice da salvação vêm do próprio Senhor Jesus para a vida dos
seres humanos, porque eles santificam a alma e o corpo. Da mesma forma como o
pão é próprio para o corpo humano, assim também o Senhor com o seu pão do alto
é próprio para a alma. São Cirilo dizia que aquele pão e aquele vinho, após a
consagração não seriam mais pão e vinho, mas o corpo e o sangue de Jesus. Ainda
que os sentidos exteriores vejam as mesmas coisas, no entanto, pelos olhos da
fé, são o corpo e o sangue de Cristo[4].
O corpo e o sangue de Cristo
São Cirilo
insistia na fé da presença do Senhor no pão e no vinho consagrados. Desta
forma, a pessoa que os recebessem tinha presente que o pão não é mais pão,
ainda que o gosto seja tal, mas é o corpo de Cristo e o vinho que parece vinho,
não é mais vinho, também se o gosto é como tal, mas é o sangue de Cristo. É
preciso tomar o pão como espiritual e alegrar o rosto da alma da pessoa, pelo
vinho, o sangue de Cristo[5].
A purificação das mãos
São Cirilo
deu sentido à purificação das mãos pelo ofertório, na quinta catequese
mistagógica. O sacerdote se lava as mãos como símbolo que todos os ministros
purificam-se do pecado e faltas. As mãos sendo lavadas aludem à pureza e a
importância das ações de caridade, de amor[6].
Invocação do Espírito Santo
São Cirilo
tinha presente a invocação do Espírito Santo sobre as ofertas para que estas se
transformem o pão em corpo de Cristo e o vinho em sangue de Cristo, de modo que
tudo seja santificado e transformado. Após a leitura das palavras da
consagração, de tomar e comer, tomar e beber, fazer em memória de Cristo, a
celebração eucarística invoca Deus sobre a paz comum das Igrejas, sobre a boa
ordem do mundo, sobre as autoridades, os doentes, os aflitos e sobre todos
aqueles que precisam de ajuda para a salvação de todas as pessoas. A celebração
eucarística tem presentes também a invocação a Deus em vista dos fieis defuntos
para que esses obtenham do Senhor, o descanso eterno[7].
O Pai Nosso e a comunhão
Em seguida
a comunidade reza o Pai-nosso, a oração que o Senhor Jesus Cristo ensinou aos
seus discípulos. O ministro convida os fiéis para tomar parte da mesa pelo
corpo e o sangue de Cristo. São Cirilo de Jerusalém recomendava que os fiéis se
aproximassem para receber o corpo de Cristo não com as mãos abertas, nem com os
dedos separados, mas a mão esquerda aberta, no seu côncavo[8], fizesse um trono
à direita, para que assim a pessoa recebesse o corpo de Cristo, o Rei dos reis.
Procurando não perder nada, com a ponta dos dedos pela mão direita toma o pão
consagrado, o corpo de Cristo, diz amém e comunga-o. O bispo recomendava a
conservação destas tradições para estar em comunhão com corpo de Cristo e
com a Igreja, a comunidade eclesial[9].
São Cirilo
de Jerusalém deixou uma riqueza muito grande em relação à eucaristia, através
das catequeses mistagógicas, que eram explicações em relação aos mistérios
celebrados na noite do sábado santo, celebrações coordenadas pelo bispo
diocesano. As pessoas são convidadas a receber o Senhor sacramentalmente ou
espiritualmente e assim atuar em favor daquelas que mais precisam, pelo bem,
pela justiça e pelo amor.
[1][1] Cfr.
Cirilo di Gerusalemme. IV Catechesi mistagogica, 1. In:
Gerardo di Nola. Monumenta Eucharistica. La Testimonianza dei Padri
della Chiesa. Vol. 1, Sec. I-IV. Roma, Edizioni Dehoniane, 1994, pgs.
388-389.
[2]
Cfr. Idem, 2. pg. 389..
[3]
Cfr. Idem, 3. pg. 389
[4]
Cfr. Idem, 5-6, pg. 390.
[5]
Cfr. Idem, 9, pg. 391.
[6]
Cfr. Quinta Catechesi Mistagogica, 2. In: Idem,
pg. 392.
[7]
Cfr. Idem, 7-9, pg. 394.
[8] Cfr.
São Cirilo de Jerusalèm. Catequeses mistagógicas. Petrópolis,
RJ, Vozes, 2020, pg. 31.
[9] Cfr. Quinta catechesi mistagogica, 23. In: Idem, pg. 398.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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