Reflexão
para meditar na quinta-feira da 8ª semana do Tempo Comum. Os temas propostos
são: um cego à beira do caminho; a cura do coração; uma atitude que é fruto da
fé.
01/06/2023
“JESUS saiu
de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu,
Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho” (Mc 10, 46).
Habituado talvez a um ambiente mais tranquilo, Bartimeu fica curioso com a
agitação do lugar. Não vê nada, mas podemos imaginar o que ouve: o tumulto da
multidão que se aproxima, os passos na areia, as queixas dos que dizem para
desocupar o caminho e muitos outros pormenores que, devido à sua cegueira,
aprendeu a perceber pelo ouvido. Embora se sinta limitado, mantém-se atento à
realidade: o seu coração é sensível e não para de procurar. Quando descobre que
a causa do tumulto é Jesus de Nazaré, não hesita em começar a gritar: “Jesus,
filho de Davi, tem piedade de mim!” (Mc 10, 47). Reage com um grito que não é
apenas um pedido de misericórdia, mas também uma confissão: ouviu “Jesus de
Nazaré”, mas proclama-o como “Filho de Davi”, antecipando as aclamações do povo
quando o Senhor entrar em Jerusalém. Isto mostra que os seus sentidos internos
estavam de algum modo preparados para reconhecer o Mestre.
As palavras de Bartimeu, porém, não foram bem recebidas pelos presentes: “Muitos o repreendiam para que se calasse” (Mc 10, 48). Não sabemos por que as pessoas não queriam que ele falasse. Talvez pensassem que aquele cego só queria uma esmola, ou que o Mestre não tinha tempo a perder com alguém como ele. Apesar de todas as censuras, Bartimeu não se deixa levar pelo ambiente. Sabia que o Messias esperado estava passando diante dele e não podia perder esta oportunidade. “Não te dá vontade de gritar, a ti, que também estás parado à beira do caminho, desse caminho da vida que é tão curta; a ti, a quem faltam luzes; a ti, que precisas de mais graças para te decidires a procurar a santidade? Não sentes a urgência de clamar: Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim? Que maravilhosa jaculatória, para que a repitas com frequência!”.
A REAÇÃO de
Jesus deve ter surpreendido os que O acompanhavam: parou e mandou-o chamar.
Acaba de ouvir uma súplica cheia de fé e quer falar com aquele homem,
aproximar-se dele, ouvi-lo, saber o que ele quer. Todos os seus sentidos se
dirigem para Bartimeu. Quando as pessoas que o rodeavam tentaram silenciar o
cego, o Senhor respondeu chamando-o. Não o incomoda que lhe peçamos ajuda,
porque ele veio precisamente para nos salvar, para curar os nossos sentidos com
os Seus.
Entretanto,
Bartimeu, que não tinha cessado de gritar, ouve palavras que revigoram a sua
esperança: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama” (Mc 10, 49). A sua insistência
já deu o seu primeiro fruto, e não foi a cura da sua cegueira. “Um tremor apodera-se
do seu coração, porque ele percebe que é olhado pela Luz, por aquela luz quente
que nos convida a não ficarmos fechados na nossa cegueira escura. A presença
próxima de Jesus permite sentir que, longe dele, falta algo importante. Ele
faz-nos sentir necessitados de salvação, e este é o início da cura do coração”.
Quando ouviu que o Mestre o chamava, Bartimeu agiu com decisão: “O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus” (Mc 10, 50). Aquela capa não era apenas o que o cego possuía: era a sua casa, o lugar onde se deitaria para passar a noite ou o refúgio para se proteger do mau tempo. Contudo, perante essa chamada do Senhor, soube reconhecer o que verdadeiramente importa. “Não te esqueças – comentava São Josemaria – de que, para chegar até Cristo, é preciso sacrifício, jogar fora tudo o que estorva”. Embora pareça que Bartimeu estava cometendo uma loucura, ao renunciar ao pouco que tinha, no fundo estava fazendo o que era mais sensato: aproximar-se d’Aquele que lhe pode devolver a capa da sua humanidade, que ficara rasgada pela cegueira. Na pessoa de Jesus, Bartimeu encontra a sua nova casa, o seu novo refúgio que vai sarar a sua humanidade ferida. Pela graça dos sacramentos, o próprio Jesus renova esse oferecimento. Nessa mediação da Igreja, voltamos a ouvir estas palavras: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama” (Mc 10, 49).
LOGO QUE
Bartimeu se encontra cara a cara com Jesus, o Mestre pergunta-lhe: “O que
queres que eu te faça?” (Mc 10, 51). A fé do cego podia ter vacilado em vários
momentos da sua vida e talvez ainda fosse fraca, sem ter consciência disso. “É
evidente o que quero, podia ter pensado. Se este homem é o Messias, devia
saber…”. Mas Bartimeu não cria esses problemas e responde simplesmente:
“Mestre, que eu veja” (Mc 10, 51).
Cristo
escuta o pedido do cego e não o recusa. Tinha desejado acolher a sua fraqueza,
mas parece que desejava com mais intensidade receber esse ato de fé na sua
capacidade para o curar e reconhecer quem era. “Jesus disse: "Vai, a tua
fé te curou". No mesmo instante, ele recuperou a vista” (Mc 10, 52). Com
estas palavras, Jesus interpreta com autoridade a atitude de Bartimeu e oferece
um ensinamento aos que contemplam a cena. A perseverança de Bartimeu na oração
– mesmo diante da rejeição dos outros –, bem como a sua prontidão para obedecer
à chamada e o seu desprendimento de tudo o que possui não eram consequência de
um carácter irreflexivo, de ambições pessoais ou de desejo de protagonismo, mas
sim da sua fé. Uma fé que se teria ido enraizando pouco a pouco no seu coração
depois de ter ouvido falar de Jesus. Quem sabe se já teria gritado por dentro
para clamar pela sua cura. Em todo o caso, a fé que o moveu a pedir com
insistência e a superar as dificuldades, depois de ser reforçada pela ação de
Cristo, leva-o também a transformar-se em discípulo: “E seguia Jesus pelo
caminho” (Mc 10, 52), conclui o relato.
O Evangelho não torna a falar desta personagem. Podemos supor que já não estaria à beira do caminho pedindo esmola, mas que iria ao encontro das pessoas para lhes contar o que tinha significado na sua vida esse encontro com Jesus. Se antes não conseguia calar-se ao saber que o Messias estava perto, que faria depois de ter sido chamado e curado pelo Mestre? A Virgem Maria nos ajudará a nos aproximarmos do seu Filho com a fé de Bartimeu para lhe pedirmos luz e força para segui-lo no caminho.
[1] São
Josemaria, Amigos de Deus, n. 195.
[2] Francisco,
Homilia, 4-III-2016.
[3] San Josemaria, Amigos de Deus, n. 196.
Fonte: https://opusdei.org/pt-br
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