Por Julia A. Borges
O livre-arbítrio é uma das esferas de maior incompreensão porque faz do ser humano autor de sua própria história, mas inserido em um enredo totalmente desconhecido.
Quantas vezes é possível morrer em uma vida? Quantas vezes o corpo carece da alma que parece se esvair diante de mais um erro, de mais um pecado? Quantas vezes as tentativas de melhorar sucumbem-se à dor de falhar novamente?
Nascer não foi nossa escolha, ninguém quis realmente estar aqui. Não houve consulta prévia, e simplesmente viemos ao mundo. Chegamos sem repertório, sem malas, sem bagagens de saberes e gostos. Chegamos crus, a tal da tábula rasa, sem rasuras e emendas, ou ao menos, achávamos e pensávamos assim.
Aos poucos, de bebês incapazes e dependentes, vamos engatinhando e subitamente já ficamos em pé sem ajuda dos nossos pais, prontos para darmos os primeiros passos rumo ao infinito e além. Começa a vontade de escrever naquele papel em branco, inicia o querer em construir a própria história. Com o tempo e criando mais maturidade e vigor, achamo-nos fortes, mergulhados e amparados pelo nosso próprio conhecimento e esperteza. Vamos caminhando com forças próprias, como soldados num combate de uma guerra que nem se entende bem qual é. Mas como jovens fortes e destemidos que somos, enfrentamos cada novo obstáculo. Desafiamos o mundo, e muitas vezes até confrontamos a tudo e a todos para defendermos as nossas certezas e verdades que naquele momento parecem tão corretas. Enfrentamos quem nos magoa, atacamos os nossos ditos rivais, só porque pensam diferente. Lutamos, lutamos e lutamos.
Assinatura do criador
Vez ou outra percebemos as fraquezas já nos envolvendo. Começamos a constatar que todo o poderio que achávamos ter não parece ser totalmente absoluto e aí começamos a entender que talvez a nossa invencibilidade puramente humana não exista. Vamos descobrindo que nossa folha em branco possuía a assinatura do nosso criador, Daquele que desde o ventre de nossa mãe já pensava em como seríamos; cor dos olhos, do cabelo, como seria o nosso corpo, o nosso sorriso. Éramos totalmente Dele, entretanto ainda não sabíamos disso de maneira tão clara.
Mas há um rival, dentre os vários com os quais buscamos guerrear, que parece ser imbatível: o tempo; porque aquele jovem de lutas, batalhas e combates se encontra agora com uma dificuldade imensa em levantar-se da cama. As pernas parecem não respeitar os comandos da mente, e a vida, antes tão fugaz, tão apressada, agora é demorada. Ouve-se e atenta-se ao tic toc do relógio. O cuco agora é o único amigo daquele que possuía tantos ao seu redor em sua mocidade. Aquela folha em branco, hoje rabiscada, amassada e com inúmeras rasuras já se encontra cheia e sem espaço para preenchimentos. Embaixo está uma assinatura que até então não havia percebido. Lá dizia: Faça valer. Assinado: Deus.
Autor de sua própria história
O livre-arbítrio é uma das esferas de maior incompreensão porque faz do ser humano autor de sua própria história, mas inserido em um enredo totalmente desconhecido. Então, se não houver sabedoria, acabada virando um jogo de culpabilidade, ou seja, se der certo foi por mérito próprio; caso dê errado é porque foi a vontade de Deus. Fato é que tentar compreender a mística com a razão humano é uma empreitada sujeita ao fracasso e com consequências desastrosas.
Se nascer não foi nossa escolha, permanecer vivos é uma decisão diária. A escrita feita nesse papel em branco só cabe a cada um, mesmo quando estiver muito penoso, será sempre necessário continuar a escrever. Não há promessas de vida fácil. Olhe para os profetas, para os santos, olhe para Jesus Cristo. Não haverá rosas, mas você poderá sentir seu aroma. Haverá batalhas, mas a paz já estará em você antes mesmo da guerra começar. Mergulhe em águas mais profundas e submeta-se à Graça e ao verdadeiro amor que vem de Deus, porque dessa forma, a inspiração de cada novo dia chegará para que sempre uma nova história possa ser escrita.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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