Por Michael Rennier
Desistir até das pequenas coisas pelos amigos e pela família não é fácil, mas os Protomártires da Igreja de Roma nos ajudam a entender por que o sacrifício vale a pena.
No fim de junho, celebramos a festa Protomártires da Igreja Romana, aqueles homens e mulheres que perderam a vida por sua fé durante a perseguição cristã. E dois pensamentos vêm à minha mente todos os anos quando celebramos esta festa.
Primeiro, esses mártires são anônimos. Seus nomes estão perdidos na história. Mesmo em seus próprios dias, eles não ganharam fama por seu sacrifício. Eles não foram considerados heróis por seus contemporâneos fora da Igreja. Os romanos os prenderam e eles simplesmente desapareceram.
Em segundo lugar, aqueles primeiros mártires fizeram seu sacrifício livremente. Se tivessem negado sua fé, mesmo que temporariamente, poderiam facilmente ter evitado a morte. Eles fizeram uma escolha consciente e deliberada de se posicionar.
Por que eles estavam dispostos a passar por um sofrimento tão ingrato?
Se eu tivesse que apostar, diria que foi porque eles não pensaram em seus sacrifícios como sendo em nome de uma ideia, conjunto de regras ou compromisso moral. Eles se sacrificaram porque consideravam Jesus um amigo. E a amizade não é um objeto que pode ser recolhido ou colocado de acordo com nossa conveniência.
Evitando o sacrifício
Quando se trata de fazer um sacrifício por uma amizade, é fácil nos convencermos de que isso seria um desperdício. Esta ou aquela amizade não é valiosa o suficiente, digo a mim mesmo. Estou muito ocupado e não vale a pena. Não estou nem falando aqui de grandes sacrifícios. Estou falando dos pequenos – reservar um tempo para fazer uma ligação e manter contato. Já ouvi pessoas alegarem que não vão entrar em contato com um amigo porque esse amigo não prestou atenção suficiente a elas no passado, ou não vão convidar um amigo para jantar porque essa pessoa nunca retribui o convite.
Eu admito: eu costumava pensar assim. Se um amigo tivesse problemas para manter contato comigo, eu o descartava. Se eu sentisse que ele não me reconhecia o suficiente, eu o ignorava. Eu vim a entender, no entanto, que a vida tem um jeito de se tornar opressiva para as pessoas. Se eu tiver que fazer um pequeno sacrifício de ser o primeiro a estender a mão e sugerir que tomemos um café e coloquemos o papo em dia, por que não?
Casamento e sacrifícios
No casamento, os pequenos sacrifícios são ainda mais essenciais – limpar a cozinha, tirar o lixo, lavar a roupa, escolher o que comer no jantar, como pagar as contas.
Eu preparo casais de noivos para o matrimônio. A maior bandeira vermelha que vejo é quando os casais se recusam a fazer esses pequenos sacrifícios um pelo outro. Eles fazem planilhas de quem pagará quais contas porque não querem misturar suas finanças, têm uma tabela de tarefas para que todas sejam divididas igualmente e organizam cuidadosamente quem obtém o controle de várias áreas de suas vidas. Se uma pessoa se beneficia em uma área, uma compensação equivalente é exigida em outra.
Na minha opinião, esses casais não estão prontos para o casamento. Eles não podem, nem mesmo, ser amigos ainda. Eles ainda estão contando o custo. O relacionamento, tal como é, não se baseia no sacrifício mútuo, mas sim no quanto cada pessoa está ganhando com isso, organizando cuidadosamente as coisas para que nenhuma das pessoas se sinta prejudicada.
Eu me pergunto se, de um modo geral, perdemos nosso compromisso com o que realmente é necessário para tornar um relacionamento frutífero. O mundo moderno nos encoraja a sermos egocêntricos e somos ensinados desde cedo a pensar primeiro em nosso próprio bem-estar. Descartamos facilmente amizades e casamentos ao primeiro sinal de que algum sacrifício poderá ser necessário.
O que os Protomártires podem nos ensinar
Esse pensamento é o que me traz de volta aos Protomártires romanos. Eles formam um forte contraste com a visão moderna dos relacionamentos. Deram tudo o que tinham pela amizade.
Recentemente, tivemos ordenações de novos sacerdotes em St. Louis, e um amigo meu, padre Gerber, destacou, na homilia, que o sacerdócio não é apenas mais um trabalho. Rezar a missa não é um exemplo de homem que está simplesmente trabalhando. Em vez disso, um padre deve mostrar aos fiéis que está “apaixonado por nosso amigo”. Cristo, como sacerdote, faz o último sacrifício por nós porque essa é a base para estabelecer a amizade. É o mesmo com todas as nossas amizades. O sacrifício deve ser a base, caso contrário, não são relacionamentos verdadeiros.
Posso não ser perfeito, mas posso pelo menos prometer que, com o melhor de minha capacidade, tentarei formar a base de nossa amizade com sacrifício. Esses sacrifícios não serão usados como moeda de troca para algum benefício futuro que reivindicarei. Com o melhor de minha capacidade, eles permanecerão sem nome. Eu nem vou me importar se eles permanecerem não reconhecidos. Digo isso não porque sou um cara incrível que tem uma amizade toda planejada. Digo isso como alguém que luta muito com a amizade autêntica e vê naqueles primeiros mártires romanos um belo exemplo a seguir.
Não é tudo sobre nós. É sobre os outros. Esta é a graça da amizade. É por isso que nos dedicamos, de corpo e alma, a relacionamentos duradouros. Fazemos sacrifícios por aqueles que amamos – e eles fazem seus sacrifícios por nós. Os mártires deram tudo por seu amigo Jesus, e ele deu tudo por eles. Quem deu mais?
Acho que ninguém estava contando…
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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