A CATEQUESE E A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)
Não são poucos os párocos que acusam o
afastamento dos jovens logo após a crisma. Parece que a celebração da crisma é
uma meta a ser alcançada e, daí basta, entra-se em férias da Igreja. Há um
grupo que continua, mas se afastam da vivência dos sacramentos.
Esse é um fato que merece ser refletido com
espírito crítico sobre a metodologia da catequese, seu conteúdo e o andamento
da gestão da Iniciação à Vida Cristã na paróquia.
As Paróquias, são chamadas a ser, de verdade,
“espaços da iniciação cristã, da educação e celebração da fé, abertas à
diversidade de carismas, serviços e ministérios, organizadas de modo
comunitário e responsável, integradoras de movimentos de apostolado já
existentes, atentas à diversidade cultural de seus habitantes, abertas aos projetos
pastorais e supra-paroquiais e às realidades circundantes” (Aparecida,
170).
“Uma comunidade que assume a iniciação cristã
renova sua vida comunitária e desperta seu caráter missionário. Isso requer
novas atitudes pastorais por parte dos bispos, presbíteros, diáconos, pessoas
consagradas e agentes de pastoral” (Aparecida, 291).
A iniciação à vida cristã promovida pela
pastoral catequética, partindo de Jesus Cristo, passa pela acolhida da
dignidade humana (vocação humana), encara os desafios à maturidade humana, se
alimenta da Palavra de Deus, se robustece através da participação na
Eucaristia, estimula formas de engajamento na comunidade eclesial e social,
apresenta formas de experiências de solidariedade e cresce no fervor
missionário (cf. Aparecida, 292).
Continuando uma série de reflexões já
publicadas sobre a catequese, retomemos esse assunto na perspectiva da Doutrina
Social da Igreja que tem muito a oferecer à catequese. A sensibilidade da
Doutrina Social da Igreja enriquece profundamente a Catequese. Não podemos
pensar numa Iniciação à Vida Cristã sem a assimilação das exigências do Pai
Nosso. Isso não deve ser reduzido a um puro rito. Não é uma experiência
puramente intelectual, mas deve ser socioafetiva. A crise da pastoral juvenil
em muitas paróquias, a meu ver, tem uma direta relação com o dinamismo da
pastoral catequética. Nesta primeira reflexão, observemos alguns horizontes da
catequese sensível à Doutrina Social da Igreja.
A catequese busca apresentar e aprofundar
a identidade da fé cristã, seu dinamismo e seus efeitos na vida do
discípulo de Jesus Cristo. A experiência da fé não dispensa a razão. A fé não
pode ser irracional. Fé e razão se complementam. A razão livra a fé da
superstição e alienação; e esta, por sua vez, preserva a razão da prepotência e
da cegueira. Sem a catequese a fé se torna mal-educada, míope, enganosa,
agressiva, intolerante, contrariando a Deus. Todavia, a catequese não deve se
limitar com a dimensão meramente doutrinal, mas deve se abrir ao dinamismo que
brota da sensibilidade da Doutrina Social da Igreja (cf. Aparecida, 299).
A fé tem muitas dimensões: cognitiva,
afetiva, celebrativa, moral, comunitária, social. Seria insignificante uma
experiência de fé aprisionada no íntimo do crente. Por isso diz São Tiago: “A
fé sem obras é morta” (Tg 2,17). Jesus alertou seus discípulos dizendo-lhes:
“Não basta dizer: Senhor, Senhor” (Mt 7,21). Isso nos fala de vida, atitudes,
experiências!
A catequese não é somente estudo e reflexão
sobre doutrina, mas deve ser sempre um processo de iniciação
no dinamismo da vida da Igreja e do Reino de Deus; isso significa que o
catequizando deve fazer a experiência dos múltiplos compromissos que brotam da
fé, mantendo seu vínculo com a Igreja. Dependendo da sua situação existencial,
é chamado a estar engajado e servindo com alegria. Para muitos, por motivos de
doenças ou outras situações, eles mantém seu sentido de pertença através da
oração. Isso também é uma forma de engajamento. Contudo, não é admissível um
cristão, reduzir seu dinamismo de fé ao conhecimento, assumindo uma postura
doutrinalista, criticista e sem amor à Igreja com a sua totalidade de dimensões
como serva do Reino de Deus.
A catequese é uma atividade que está a serviço
da missão da Igreja. O Reino de Deus tem uma dimensão social,
porque onde se evangeliza também se deve estimular a promoção da justiça, da
paz, da solidariedade; a luta contra a miséria, a fome e a corrupção; o combate
à violência, a todas as formas de opressão e escravidão. A catequese, portanto,
tem uma irrenunciável dimensão social. O Reino de Deus é a transformação do
mundo segundo a vontade de Deus, em vista da Civilização do Amor.
A catequese está a serviço da promoção da vida
e da missão do discípulo de Jesus Cristo que está inserido numa história concreta com sua cultura, economia, política etc. Por isso deverá,
onde vive, ser “sal e luz”, sabendo testemunhar sua fé em Jesus Cristo. Ele
pediu ao Pai para não tirar seus discípulos do mundo: “Não peço que os tires
do mundo, mas que os guardes do Maligno. Assim como eu não sou do mundo, eles
também não são. Que eles sejam teus por meio da verdade; a tua mensagem é a
verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei” (Jo
17,15-23).
A dimensão social da Catequese nos apresenta
os múltiplos desafios da fé presentes na sociedade: a fé tem
uma direta relação com todas as realidades da vida da pessoa humana e da
sociedade. O cristão não deve viver no anonimato, indiferente a tudo, demonizando
as realidades mundanas (típicas do mundo). Hoje há muitos e graves fenômenos
sociais que agridem a dignidade humana. A catequese não pode ficar a alheia a
esses fenômenos.
A dimensão social da Catequese tem seu
fundamento na Sagrada Escritura. O amor a Deus é inseparável
do amor ao próximo; isso aparece muito claramente na literatura dos profetas, com
forte sensibilidade social em todos eles e culmina com a vida de Jesus Cristo.
Nos Atos dos Apóstolos, vemos que da Ascensão
do Senhor, brota uma advertência à responsabilidade social da
fé dos discípulos de Jesus Cristo. Após a ascensão de Jesus os apóstolos
continuavam olhando para o céu, mas foram advertidos por dois homens vestidos
de branco: “homens da Galiléia, por que ficam aí, parados, olhando para o céu?”
(At 1,11). Quem tem fé não deve ficar parado, acomodado, olhando para o alto,
ou seja, sem fazer nada e esperando a Salvação. O tempo da fé é também o tempo
da prática do amor! A compreensão desse dinamismo de fé é de fundamental
importância para os nossos catequizandos, sobretudo, adolescentes e jovens
crismandos.
A religião cristã não deve ser alienada,
negando os compromissos concretos consequentes do amor ao
próximo que se faz luta pela justiça, promoção e defesa da dignidade humana. É
necessário sim, buscar as coisas do alto (cf. Cl 3,1), mas sendo dinamizados
pela Esperança lutando pela transformação das realidades deste mundo, sendo
assim, “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14). Esse é o compromisso da
Igreja com o Reino de Deus (cf. Rm 12,2). Por outro lado, a catequese dando
atenção à dignidade humana, deve também fazer objeto de reflexão o grave
problema da baixa autoestima, do vazio existencial, da automutilação,
tentativas de suicídio, drogadição etc, que vivem muitos adolescentes e jovens
crismandos. Por isso a catequese deve fazer-se ajudar pela psicologia. Há
muitas formas de atividades como serviço da psicologia à catequese.
A contemplação divina e o culto religioso não
podem ser estéreis, sem impacto social, sem compaixão, sem a experiência
da “boa samaritanidade” (cf. Lc 10,35-46). Ai de nós se
exaltarmos o nome de Jesus, mas formos egoístas, avarentos, frios diante dos
necessitados; seremos rejeitados (cf. Mt 25,31-46). Quando a Catequese é bem
assimilada em sintonia com a Doutrina Social da Igreja promove-se católicos
engajados nas pastorais, líderes sensíveis, pessoas disponíveis a trabalhar,
abertas à missionariedade, atentas aos desafios da sociedade… Em muitas
comunidades católicas (e paróquias) já é notório o envelhecimento das
lideranças. A catequese deve ser fonte de rejuvenescimento das forças vivas da
paróquia.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
Na sua paróquia como está o percentual de
jovens que se afastam após a Crisma?
Aos párocos: os catequistas da sua paróquia já
receberam alguma formação sobre a Doutrina Social da Igreja, são portadores
dessa sensibilidade?
É possível catequizar sem levar em conta a situação existencial do catequizando: sim, não, por quê?
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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