Cardeal
You Heung-Sik confirma na fé os católicos coreanos que a herdaram dos mártires
de seu país
27 de junho
de 2023 Por Fernando Geronazzo
Prefeito do Dicastério para o Clero visita São Paulo e celebra com fiéis de paróquia pessoal coreana.
Os fiéis da Paróquia Pessoal
Coreana Santo André Kim Degun, no Bom Retiro, região central de São Paulo,
receberam a visita do Cardeal Lazzarus You Heung-Sik, Prefeito do Dicastério
para o Clero, da Santa Sé. O purpurado coreano chegou à capital paulista no
sábado, 24, e, no domingo, 25, presidiu uma missa com a comunidade católica
coreana.
Esta é a quarta vez que Dom
Lazzarus visita a Paróquia destinada aos fiéis coreanos e seus descendentes em
São Paulo. Nas ocasiões anteriores, ele veio como Bispo de Daejeon, diocese
coreana da qual esteve à frente até ser nomeado Prefeito do Dicastério para o
Clero pelo Papa Francisco, em 2021, e criado cardeal da Igreja no Consistório
de 27 de agosto de 2022.
Antes da missa, houve um breve
encontro do Cardeal You Heung-Sik com o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo
Metropolitano de São Paulo. Na conversa fraterna, Dom Odilo recordou a visita
que fez à Coreia do Sul, em 2017, para o Fórum Internacional para a Partilha
sobre a Paz, promovido pela Arquidiocese de Seul. O Arcebispo também expressou
seu apreço pela comunidade católica coreana em São Paulo por seu testemunho de
fé viva na cidade.
O Cardeal Scherer lembrou,
ainda, que, em 2021, a igreja matriz da Paróquia Pessoal Coreana foi local de
peregrinação no ano jubilar do bicentenário de nascimento do mártir São Kim
Degun, primeiro sacerdote coreano.
COMUNHÃO
Na homilia da missa, Dom
Lazzarus manifestou sua alegria por reencontrar a comunidade coreana de São
Paulo. Ele recordou que sua última visita à cidade foi antes da pandemia de
COVID-19, sublinhando que, mesmo distante, esteve unido espiritualmente a todos
os fiéis que sofreram com a emergência sanitária.
“Estou muito feliz em revê-los
após esse período e os cumprimento por enfrentarem esses tempos difíceis com
força e testemunho de caridade fraterna”, afirmou.
O Cardeal You Heung-Sik também
transmitiu à comunidade a saudação do Papa Francisco, com quem se comunicou
antes de viajar ao Brasil. “O Santo Padre me pediu que enviasse a vocês a sua
bênção e que lhes pedisse que não deixassem de rezar por ele”, afirmou.
CATOLICISMO NA COREIA
Ao contrário de outros países
asiáticos, o catolicismo não chegou à Península da Coreia por meio dos
missionários europeus. No século XVI, alguns eruditos tiveram acesso a livros
de missionários cristãos da China. A princípio, os coreanos desejavam conhecer
o catolicismo como uma filosofia de vida; contudo, logo descobriram a fé e
aderiram a ela como uma nova religião.
Entre esses primeiros estudiosos
destaca-se Lee Seung-Hoon, que foi para Pequim, na China, com o desejo de
praticar efetivamente o catolicismo. Lá, adotando o nome cristão de Pedro, foi
batizado pelo missionário francês Padre Grammont, em 1784. Quando retornou à
Coreia, fundou a primeira comunidade cristã em seu país.
No entanto, a fé e o estilo de
vida católicos entraram em conflito com as ideologias políticas, culturais e
religiosas da Coreia em uma época em que predominava o Confucionismo. Por esse
motivo, a Igreja Católica coreana foi perseguida por mais de um século, tendo
mais de 10 mil fiéis martirizados por não renegarem a fé recebida no Batismo.
Atualmente, a Coreia do Sul tem
cerca de 50 milhões de habitantes, dos quais aproximadamente 5 milhões são
católicos (10,7% da população).
MÁRTIRES
São Kim Degun, também conhecido
como Santo André Kim Taegon, nasceu em 21 de agosto de 1821. Filho de uma
família nobre coreana, converteu-se ao catolicismo, dedicando-se à
evangelização de sua pátria, onde o Cristianismo era duramente perseguido.
Em 16 de setembro de 1846, Santo
André e mais 102 católicos foram martirizados. O jovem padre tinha 25 anos de
idade e um ano de sacerdócio. Ele foi canonizado com seus companheiros em 6 de
maio de 1984, por São João Paulo II, durante sua visita à Coreia do Sul na
comemoração dos 200 anos do catolicismo nesse País.
O Cardeal You Heung-Sik atribui
aos mártires coreanos a força e inspiração dos fiéis católicos no país
asiático. “O sangue dos mártires nos encoraja para testemunhar que não é
possível ser cristão sem unir a fé e a vida. Ser um bom católico significa
viver a Palavra de Deus, testemunhar a fé com o amor de Jesus, sendo
necessário, na maioria das vezes, navegar contra a corrente de tantas coisas
que fazem mal à humanidade”, afirmou.
COREIA DO NORTE
Antes do atual cargo na Cúria
Romana, Dom Lazzarus também foi o chefe do Comitê para a Paz da Conferência
Episcopal Coreana e visitou a Coreia do Norte quatro vezes.
As duas Coreias são totalmente
separadas desde a guerra ocorrida entre 1950 e 1953, quando as tropas
norte-coreanas ultrapassaram a fronteira que separa os dois países, dando
início à invasão da Coreia do Sul.
Na Coreia do Norte, sob regime
comunista, a Igreja Católica é proibida de atuar livremente. Só podem exercer
culto público os que fazem parte da Associação Católica da Coreia do Norte,
instituição controlada pelo governo do ditador Kim Jong-un. Os demais católicos
vivem a fé clandestinamente. Segundo essa associação nacional, existem 3 mil
católicos inscritos no País, mas estima-se que o número real não passe de 800,
sendo a maioria idosos batizados antes da Guerra da Coreia.
(Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)
SEM PASTORES
Embora vacantes, as três
dioceses católicas da Coreia do Norte continuam instituídas à espera de um dia
poderem ser retomadas. Até 2012, o Anuário Pontifício indicava como Bispo de
Pyongyang Dom Francis Hoong-ho, desaparecido desde 1949 após ser capturado pelo
governo norte-coreano. Em 2013, a Santa Sé recebeu a confirmação de sua morte e
seu nome foi incluído na lista de 81 mártires coreanos, cuja causa de
beatificação está em andamento.
“Há mais de 70 anos, não temos
notícias dos nossos irmãos na Coreia do Norte. É uma situação muito difícil. Lá
não há bispos, nem sacerdotes. Para nós, é muito doloroso”, manifestou o
Cardeal You Heung-Sik, reforçando o empenho da Igreja na Coreia do Sul, da
Santa Sé e do próprio Papa na busca do diálogo e da reconciliação entre os dois
países.
“Enviamos continuamente
mensagens para a Coreia do Norte, na tentativa de abrir um diálogo multilateral
e diplomático para resolver essa situação. Eu também já me coloquei à
disposição do Santo Padre para, em seu nome, intermediar o diálogo entre as
Coreias. Se ele considerar necessário, estarei pronto para ir nessa missão em
favor do nosso povo coreano”, salientou Dom Lazzarus.
A programação da visita do cardeal coreano ao Brasil contou, ainda, com uma peregrinação ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. No domingo, 2 de julho, às 10h30, ele celebrará novamente a Eucaristia na Paróquia Pessoal Coreana, e, na noite da mesma data, embarcará rumo à Guatemala, na América Central.
Fonte: https://osaopaulo.org.br/
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