DIMENSÃO CONTEMPLATIVA DA VIDA
Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)
Existe um salmo na Bíblia, que chama a
atenção, é o Salmo 8. Fala da grandeza do ser humano na criação: “Quando
vejo os teus céus, obra de teus dedos, a lua e as estrelas, as coisas que
criastes, que é o ser humano para que dele te lembres, o filho do homem para
que o visites?”
Na agitação da vida cotidiana, característica
de nossa época, pouco tempo temos para pensar, meditar ou refletir no mistério
que envolve nossa vida. Os filósofos antigos diziam, “quanto mais sei, mais sei
que nada sei”. E aconselhavam o autoconhecimento, como fonte de sabedoria e
equilíbrio mental. É preciso resgatar a dimensão contemplativa de nossa
vida.
A grandeza e miséria do homem é o paradoxo que
está no centro da reflexão e mensagem do filósofo cristão Blaise Pascal,
nascido há quatro século, na França. Foi grande matemático e inventor da
máquina de calcular. Nunca silenciava nele a questão, antiga e sempre nova, que
ressoa no ânimo humano: «Que é o homem para Te lembrares dele, o filho do homem
para com ele Te preocupares?». Esta pergunta está gravada no coração de cada
ser humano, em todo o tempo e lugar, de qualquer civilização e língua,
independentemente da sua religião.
Pascal desde criança e por toda a vida,
procurou a verdade. Conhecer a verdade é essencial para o ser humano que deseja
saber. Era um homem de fé, mas uma fé que se ilumina com a razão e deixa que a
razão ilumine a fé. Pesquisou, especialmente nos campos da matemática,
geometria, física e filosofia.
Num século de grandes progressos em muitos
campos da ciência, acompanhados, porém dum crescente espírito de ceticismo
filosófico e religioso, Blaise Pascal mostrou-se incansável investigador do
verdadeiro. Como tal, permanece sempre «inquieto», atraído por novos e mais
amplos horizontes. Começou a falar do homem e de Deus, chegou à certeza de que
não só conhecemos a Deus unicamente por Jesus Cristo, mas também nos conhecemos
a nós mesmos apenas por Jesus Cristo.
A filosofia de Pascal, toda ela em paradoxos,
deriva dum olhar simultaneamente humilde e lúcido, que procura alcançar a
realidade iluminada pelo raciocínio. Parte da constatação de que o homem é como
um estranho para si mesmo, grande e miserável; grande pela sua razão, a sua
capacidade de dominar as paixões, grande até na medida em que se reconhece miserável.
De modo particular aspira a algo mais do que satisfazer os próprios instintos
ou resistir-lhes.
Nem a inteligência geométrica nem o raciocínio
filosófico permitem ao homem chegar, sozinho, a uma visão perfeitamente nítida
do mundo e de si mesmo. A pessoa que se debruça sobre os detalhes dos seus
cálculos, não beneficia da visão de conjunto que permite entrever todos os
princípios.
A verdadeira luz que ilumina o mistério da
nossa vida e morte provém da ressurreição de Cristo que é revelação de Deus.
Só a graça de Deus permite ao coração do homem ter acesso à ordem do
conhecimento divino, à caridade. Isto levou um importante comentarista,
contemporâneo de Pascal, a escrever que o pensamento só consegue pensar
cristãmente, se tiver acesso àquilo que Jesus Cristo implementa: a
caridade.
O Papa Francisco dedicou sua Carta
Apostólica ‘Sublimitas et miseria hominis’ à obra do filósofo
e teólogo francês, no quarto centenário de seu nascimento. O papa o define “um
companheiro de estrada que acompanha nossa busca pela verdadeira
felicidade”.
De Pascal fica-nos o conselho de não cedermos ao materialismo mas resgatarmos a dimensão contemplativa da vida. Pois, o ser humano tem uma alma e faz perguntas não só sobre a vida, mas também sobre o sentido da vida.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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