DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA
Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Os problemas sociais não são estranhos à
legitima preocupação da Igreja, vista como instituição religiosa, justamente
porque não se pode reduzir o fato religioso à esfera exclusiva do privado.
Embora somente após o Papa Leão XIII se tenha desenvolvido um corpo doutrinal–social,
a Igreja sempre se interessou pela dimensão do agir humano na sociedade. O
Evangelho alarga e dá significado pela reconciliação e libertação, pela justiça
e paz, pela pessoa, pelas relações sociais e por toda a Criação.
O ensinamento da Igreja sobre as realidades
sociais se revela aberto ao tempo histórico e, simultaneamente, projetado para
um sentido superior, além da visibilidade desse mundo que passa.
A Doutrina Social da Igreja não
é, portanto, um código social que elenca as regras sobre o viver comum no
Planeta. Tampouco é uma projeção social de um humanismo fechado sobre uma
religião ou crença. Trata-se, na verdade, de uma indicação sintética e
germinal, de um humanismo que tem sua fonte no mistério insondável da criação
do mundo e na redenção mediante a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Esse
novo humanismo é definido no compêndio Doutrina Social da Igreja como
integral e solidário.
A Doutrina Social da Igreja é
um conjunto de princípios de reflexão, de critérios de julgamento e diretrizes
de ação cujo objeto principal é a dignidade da pessoa humana, imagem de Deus, e
a defesa de seus direitos inalienáveis.
A Igreja tem a missão de propor uma nova
ordem à prática do consumo, de rever a manipulação dos seres e das coisas. De
acordo com a lógica da encarnação, a Igreja acolhe, em Cristo, os riscos de
assumir um compromisso social baseado no amor. Esse gesto comporta
incompreensão, rejeição e banalização. Esses entraves, contudo, não conseguem
paralisar a ação pública da Igreja.
A presença da Igreja na sociedade se traduz
pela lógica da gratuidade. Ela estimula cada cristão a encontrar o adequado
comportamento no uso das riquezas, do poder, da sexualidade e do Planeta.
Estimula, também, a criação de obras e instituições que expressem a caridade,
preferindo aqueles que estão excluídos da lógica hegemônica. Nesse caso, a
Igreja foge à tentação de ter uma presença apenas espiritual diante de uma
marginalidade utópica que a modernidade lhe concede.
Constantemente, a Igreja
precisa inventar modalidades que vão além do culto e da doutrina. Isso pode
levar ao compromisso temporário com responsabilidades e iniciativas que
visualizem sua missão numa determinada sociedade. Muitas são as expressões da
ação social da Igreja para remediar situações de extrema miséria.
A opção pelos pobres é fundamental para a
Doutrina Social da Igreja. Os pobres e os fracos têm o primeiro direito de
reivindicação perante a consciência e as práticas eclesiais. Essa expressão foi
a específica contribuição da Igreja latino-americana para toda a comunidade
católica. Ela foi absorvida pela Igreja na sua totalidade como explicitação
atual do Capítulo 25 de Mateus que preconiza o juízo final a partir do
envolvimento com os pequenos e pobres.
A solidariedade é o princípio definidor da formação do mundo novo. É uma expressão moral de interdependência de que somos uma só família, sejam quais forem as diferenças de raça, nacionalidade, ou poder econômico. Os povos das terras mais distantes não são inimigos ou intrusos; os pobres não são fardos, mas irmãos e irmãs, com direitos à vida e à dignidade.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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