FALAR EM PARÁBOLAS
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Jesus contou a “parábola do semeador’ (Mateus
13,1-23) e os discípulos lhe perguntam: “Por que falas ao povo em parábolas?”
Esta pergunta aponta para a metodologia de Jesus na sua missão evangelizadora.
Considerando os destinatários do seu ensinamento e o Evangelho a ser anunciado
há necessidade de usar diversas metodologias. E Jesus fez uso delas. Ele disse
o essencial do Evangelho de muitas formas diferentes, pois cada ouvinte
assimila e compreende de acordo com a sua capacidade. Jesus dá alguns exemplos de
ouvintes: “Quem tem ouvidos, ouça!” “Havereis de ouvir, sem nada entender.
Havereis de olhar, sem nada ver. Porque o coração deste povo se tornou
insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam os seus olhos, para não ver
com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo
que se convertam e eu os cure”.
Antes de contar a parábola, registra o
evangelista, que “uma grande multidão reuniu-se em volta dele. Por isso, Jesus
entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia”. O
que Jesus tinha a ensinar era muito importante, por isso criou um ambiente
favorável para que pudesse falar, ser visto e ouvido por toda a multidão. A
metodologia é uma forma de respeito a quem se dirige a mensagem. A multidão que
veio ao encontro de Jesus porque queria escutá-lo e ao organizar o ambiente
daquela forma permitiu que se comunicasse melhor e fosse ouvido e
entendido.
Jesus recorreu a muitas parábolas
principalmente para falar do Reino de Deus. Nenhuma parábola isolada, nem
explicação, nem discurso consegue dizer tudo o que comporta o Reino de Deus. O
anúncio do Reino de Deus é essencial na missão de Jesus, por isso falou dele de
muitas e variadas formas. Cada uma delas acentua uma dimensão do Reino de
Deus.
Todas as parábolas de Jesus partem de algo
familiar, muito conhecido dos ouvintes para fazê-los entender algo que não está
tão evidente, ou desconhecido. Por exemplo, a “parábola do semeador” revela o
método de plantio naquela região no tempo de Cristo. Se as parábolas querem
conduzir para além do imediato exigem um esforço de interpretação, interpelam a
inteligência, mas também a liberdade. O biblista Silvano Fausti diz que Jesus
“utiliza as parábolas, que nem prendem, nem deixam perder, nem acusam, nem
desculpam, mas simplesmente, com respeito e discrição propõem, de modo que quem
quer entender, se e quando quiser, pode pedir explicações. Mas a fenda lhe está
sempre aberta: a parábola oferece a ele a luz da verdade”.
As parábolas revelam a grandeza educativa de
Jesus que vai envolvendo os ouvintes, colocando-os a caminho. Quer fazê-los ver
algo que está próximo, mas não percebem. Quer criar um ambiente de confiança
para deixarem-se conduzir e entrar no mistério das “coisas” do Reino de Deus. O
discípulo precisa colaborar com o mestre. A parábola não quer apenas trazer uma
informação nova, um conhecimento abstrato, mas envolve uma mudança de
compreensão da realidade, uma mudança de vida, uma conversão. Quando chega
neste ponto aparecem as resistências.
A parábola do semeador acentua as resistências e acolhida da Palavra de Deus. Exemplifica os ouvintes que se colocaram no caminho do Mestre, os que vacilaram ou resistiram. Deus não obriga a crer nele, mas atrai-nos a Si com a verdade e a bondade do seu Filho Jesus Cristo, o semeador e a semente que deu 100% de fruto. Com efeito, o amor respeita sempre a liberdade.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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