O FUTURO E O PRESENTE EM QUESTÃO
Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Cada vez mais, crianças e jovens
aumentam seus conhecimentos, mas nem sempre sabem utilizá-los no cotidiano para
qualificar a vida ou mesmo compreendê-la. Nesse cenário complexo, encontra-se
a evangelização cristã. Somos filhos do nosso tempo, marcados pelas novidades e
mudanças que afetam, profundamente, nosso modo de ver a
realidade e de viver.
Esperar é próprio do ser humano. O tempo da
juventude é comumente apresentado como um tempo de projetos, de preparação para
a vida futura, para as realizações da vida adulta. É necessário aprender a
esperar.
Contudo, como falar da esperança cristã para
quem quer viver o eterno presente? Muitas
pessoas parecem experimentar o fenômeno que se pode chamar de “presentismo”.
Trata-se da experiência que limita as buscas e realizações humanas ao imediato,
ao efêmero, pouco importando projetos com pretensão de alcançar objetivos no
longo prazo. Não mais se sentem impelidos a se organizarem e a proporem novos
rumos para a história presente.
Pode-se dizer que, em muitos casos, ocorreu
a passagem de uma consciência ética, histórica e utópica para uma simples
consciência do presente. A questão sobre o futuro não é mais preocupação. A
priori, será preciso considerar a importância do presente e da experiência
do hoje. Há novidades e preocupações nessa reflexão. Talvez o que “salta
primeiro aos olhos” são os limites dessa nova relação com o futuro e a
esperança. A experiência “presentista” pode ser traduzida como uma vivência
individual que coloca, em primeiro lugar, o próprio
benefício, às vezes egoísta e narcísico, sem envolver o outro em
suas realidades pessoais.
É preciso, contudo, perceber o significado
positivo que pode haver nessas novas tendências, como, por exemplo, levar a
vida de modo mais tranquilo, vivenciando a beleza da felicidade no presente.
Descobre-se, assim, a chance que o presente traz, rejeitando qualquer posição
que imponha renúncias em nome da uma felicidade eterna e mesmo de opção
política radical, que exigiria levar a vida de modo muito sério e
tenso.
Em Jesus, encontra-se a síntese de esperar a
vida eterna e viver, aqui e agora, a beleza do
presente. A salvação implica experiência no tempo que aponta para a eternidade.
A cura de um doente, a expulsão de demônios, o perdão dos pecados e a tempestade
acalmada são indícios do futuro Reino de Deus que chegará até os
contemporâneos de Jesus. A missão da libertação iniciou naquele hoje, ocasião
em que se realizava a Escritura. (Lc 4, 21). A festa com Jesus já iniciou para
todos os tempos e em todos os lugares; é a festa da liberdade promovida pelo
Deus que veio na Encarnação e virá no final dos tempos. Essa festa, entretanto,
não pode ser apenas um projeto ideal ou um sonho longínquo.
O desejo de ter felicidade imediata pode ser uma excelente forma de acolher a vida como um dom a ser saboreado na provisoriedade. E justamente, nessa caducidade de tudo, pode-se encontrar o eterno. Entre as coisas que passam, ser capaz de abraçar o que não passa.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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