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domingo, 23 de julho de 2023

O futuro e o presente em questão

O futuro e o presente (Nérus)

O FUTURO E O PRESENTE EM QUESTÃO

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Cada vez mais, crianças e jovens aumentam seus conhecimentos, mas nem sempre sabem utilizá-los no cotidiano para qualificar a vida ou mesmo compreendê-la. Nesse cenário complexo, encontra-se a evangelização cristã. Somos filhos do nosso tempo, marcados pelas novidades e mudanças que afetam, profundamente, nosso modo de ver a realidade e de viver. 

Esperar é próprio do ser humano. O tempo da juventude é comumente apresentado como um tempo de projetos, de preparação para a vida futura, para as realizações da vida adulta. É necessário aprender a esperar.  

Contudo, como falar da esperança cristã para quem quer viver o eterno presente? Muitas pessoas parecem experimentar o fenômeno que se pode chamar de “presentismo”. Trata-se da experiência que limita as buscas e realizações humanas ao imediato, ao efêmero, pouco importando projetos com pretensão de alcançar objetivos no longo prazo. Não mais se sentem impelidos a se organizarem e a proporem novos rumos para a história presente. 

Pode-se dizer que, em muitos casos, ocorreu a passagem de uma consciência ética, histórica e utópica para uma simples consciência do presente. A questão sobre o futuro não é mais preocupação. A priori, será preciso considerar a importância do presente e da experiência do hoje. Há novidades e preocupações nessa reflexão. Talvez o que “salta primeiro aos olhos” são os limites dessa nova relação com o futuro e a esperança. A experiência “presentista” pode ser traduzida como uma vivência individual que coloca, em primeiro lugaro próprio benefício, às vezes egoísta e narcísico, sem envolver o outro em suas realidades pessoais.  

É preciso, contudo, perceber o significado positivo que pode haver nessas novas tendências, como, por exemplo, levar a vida de modo mais tranquilo, vivenciando a beleza da felicidade no presente. Descobre-se, assim, a chance que o presente traz, rejeitando qualquer posição que imponha renúncias em nome da uma felicidade eterna e mesmo de opção política radical, que exigiria levar a vida de modo muito sério e tenso.  

Em Jesus, encontra-se a síntese de esperar a vida eterna e viver, aqui e agora, a beleza do presente. A salvação implica experiência no tempo que aponta para a eternidade. A cura de um doente, a expulsão de demônios, o perdão dos pecados e a tempestade acalmada são indícios do futuro Reino de Deus que chegará até os contemporâneos de Jesus. A missão da libertação iniciou naquele hoje, ocasião em que se realizava a Escritura. (Lc 4, 21). A festa com Jesus já iniciou para todos os tempos e em todos os lugares; é a festa da liberdade promovida pelo Deus que veio na Encarnação e virá no final dos tempos. Essa festa, entretanto, não pode ser apenas um projeto ideal ou um sonho longínquo.  

O desejo de ter felicidade imediata pode ser uma excelente forma de acolher a vida como um dom a ser saboreado na provisoriedade. E justamente, nessa caducidade de tudo, pode-se encontrar o eterno. Entre as coisas que passam, ser capaz de abraçar o que não passa.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF