Parábola do joio e do trigo (rumoasantidade) |
EVANGELHO – Mt 13,24-43
MENSAGEM
A primeira parábola que nos é
proposta é a parábola do trigo e do joio (vers. 24-30). Trata-se de um quadro
da vida quotidiana: há um “senhor” que semeia boa semente no seu campo, um
“inimigo” que semeia o joio (nome de uma erva gramínea que nasce entre o trigo
e o danifica) e “servos” dedicados, preocupados com o futuro da colheita. Tudo
parece normal; o anormal é a reação do “senhor” à “crise”: dá ordens para que
deixem crescer trigo e joio lado a lado e que só na altura da ceifa seja feita
a seleção do bom e do mal, do que é para queimar e do que é para guardar nos
celeiros.
A parábola deve ser entendida no contexto do ministério de Jesus. Ele conviveu
com os pecadores, com os marginais, com os que levavam vidas moralmente
condenáveis. Sentou-se à mesa com gente desclassificada, deixou-se tocar por
pecadoras públicas, convidou um publicano a integrar o seu grupo de discípulos…
Com esse comportamento “escandaloso”, Ele quis dizer a todos esses que a
religião oficial excluía, que Deus os amava e que os convidava a fazer parte da
sua família, a integrar a comunidade da salvação, a serem membros de pleno
direito da comunidade do “Reino”.
Os fariseus consideravam inaceitável a atitude de Jesus. Para eles, quem não
cumpria a Lei tinha de ser excluído do Povo santo de Deus e não tinha o direito
de fazer parte do “campo” de Deus. A “lógica” dos fariseus condiz com a
“lógica” de Deus?
Nesta parábola, Jesus pretende dar-nos uma lição sobre a “lógica” de Deus.
Sugere que a “lógica” de Deus não é uma “lógica” de destruição, de segregação,
de exclusão, mas é uma “lógica” de amor, de misericórdia, de tolerância. O Deus
de Jesus Cristo é um Deus paciente e misericordioso, lento para a ira e rico de
misericórdia, que dá sempre ao homem todas as oportunidades para refazer a existência
e para integrar plenamente a comunidade do “Reino”. Ele tem um plano de
salvação e de graça que oferece gratuitamente a todos os homens, bons e maus;
depois, no tempo oportuno, ver-se-á quem são os maus e quem são os bons. De
resto, não é muito fácil separar o bom e o mau, porque as duas realidades
coexistem em todos os “campos”, em todos os corações.
O “senhor” da parábola é esse Deus paciente, que dá ao homem todas as
oportunidades, que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.
Os “servos” com excesso de zelo são os crentes (que trabalham no campo do
“senhor”) rígidos e intolerantes, incapazes de olhar o mundo e o coração dos
homens com a bondade, a serenidade e a paciência de Deus.
O “campo” é o mundo e a história, onde coexistem
o trigo (os sinais de esperança, de vida, de amor que tornam este mundo mais
belo e mais feliz) e o joio (os sinais de morte, responsáveis pelo sofrimento,
pela opressão, pela escravidão). É também o coração de cada homem e de cada
mulher, capaz de opções de vida e capazes de opções de morte.
Jesus garante: os métodos de Deus não passam pelo castigo imediato, pela
intolerância face às opções dos homens, pela incompreensão dos erros dos seus
filhos; os métodos de Deus passam por deixar os homens crescer em liberdade,
integrando a comunidade dos filhos de Deus.
Nos vers. 36-43, temos a aplicação que Mateus faz da parábola do trigo e do
joio à vida da sua comunidade.
Nesta “explicação”, o eixo central da parábola original passa a ser outro. A
problema já não é se na “lógica” de Deus o trigo e o joio podem crescer juntos,
mas é a questão do “juízo” que espera bons e maus: Mateus insiste que, no “dia
da colheita” (imagem que, nos profetas, se identifica com o dia do “juízo de
Deus” sobre os homens e o mundo), os bons receberão a recompensa e os maus
receberão o castigo.
Estamos nos finais do séc. I (década de 80). Já passou o entusiasmo dos
primeiros anos; a vida das comunidades cristãs é marcada pela monotonia, pela
falta de entusiasmo e empenho, pela mediocridade, pelo laxismo. Os cristãos
aburguesaram-se e nem sempre vivem de forma empenhada e comprometida a sua fé.
Como despertar de novo nos crentes o entusiasmo inicial?
Mateus vai usar os métodos dos pregadores do seu tempo… Recorrendo à linguagem
e aos símbolos da apocalíptica, Mateus lembra aos cristãos da sua comunidade o
juízo futuro de Deus. Os símbolos utilizados (o joio queimado no fogo, a
fornalha ardente, o choro e o ranger de dentes) destinam-se a impressionar os
crentes, a obrigá-los a inflectir os seus esquemas de vida e a voltar à
fidelidade ao Evangelho. Portanto, não temos aqui uma descrição de como será o
“fim do mundo”; o que temos aqui é um convite urgente e emocionado à conversão,
ao aprofundamento do compromisso com Jesus e com o Evangelho.
O Evangelho deste domingo propõe-nos ainda duas outras parábolas: a parábola do
grão de mostarda (vers. 31-32) e a parábola do fermento (vers. 33). São duas
parábolas muito semelhantes, quer quanto ao conteúdo, quer quanto à forma.
Numa e noutra, o quadro é o mesmo: sublinha-se a desproporção entre o início e
o resultado final. O grão de mostarda é uma semente muito pequena, que no
entanto pode dar origem a um arbusto de razoáveis dimensões; o fermento
apresenta um aspecto perfeitamente insignificante, mas tem a capacidade de
fermentar uma grande quantidade de massa. Estas duas comparações servem para
apresentar o dinamismo do “Reino”. O “Reino” anunciado por Jesus compara-se ao
grão de mostarda e ao fermento: parece algo insignificante, que tem inícios muito
modestos e humildes, mas contém potencialidades para encher o mundo, para o
transformar e renovar. Trata-se de um dinamismo de vida nova que começa como
uma pequena semente lançada à terra numa província obscura e insignificante do
império romano, mas que vai lançar as suas raízes, invadir história dos homens
e potenciar o aparecimento de um mundo novo.
Com estas parábolas, Jesus responde às objecções daqueles que não acreditavam
que da mensagem de um carpinteiro de Nazaré, pudesse surgir uma proposta de
vida, capaz de fermentar o mundo e a história. Ele garante-nos que o “Reino” é
uma realidade irreversível, que veio para ficar e para transformar o mundo.
Escutar estas parábolas é receber uma injeção de ânimo e de esperança, capaz de
levar a um compromisso mais sério e mais exigente com o “Reino”.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a
partir dos seguintes dados:
• O Evangelho deste domingo
garante-nos, antes de mais, que o “Reino” é uma realidade irreversível, que
está em processo de crescimento no mundo. É verdade que é difícil perceber essa
semente a crescer ou esse fermento a levedar a massa, quando vemos
multiplicarem-se as violências, as injustiças, as prepotências, as escravidões…
É difícil acreditar que o “Reino” está em processo de construção, quando o
materialismo, a futilidade, o comodismo, a procura da facilidade, o efémero
sobressaem, de forma tão marcada, na vida de grande parte dos homens e das
mulheres do nosso tempo… A Palavra de Deus convida-nos, contudo, a não perder a
confiança e a esperança. Apesar das aparências, o dinamismo do “Reino” está
presente, minando positivamente a história e a vida dos homens.
• Na verdade, falar do “Reino”
não significa falarmos de um “condomínio fechado”, ao qual só tem acesso um
grupo privilegiado constituído pelos “bons”, pelos “puros”, pelos perfeitos”, e
de onde está ausente o mal, o egoísmo e o pecado… Falar do “Reino” é falar de
uma realidade em processo de construção, onde cada homem e cada mulher têm o
direito de crescer ao seu ritmo, de fazer as suas escolhas, de acolher ou não o
dom de Deus, até à opção final e definitiva. É falarmos de uma realidade onde o
amor de Deus, vivo e atuante, vai introduzindo no coração do homem um dinamismo
de conversão, de transformação, de renascimento, de vida nova.
• Neste Evangelho temos também
uma lição muito sugestiva sobre a atitude de Deus face ao mal e aos que fazem o
mal. Na parábola do trigo e do joio, Jesus garante-nos que os esquemas de Deus
não preveem a destruição do pecador, a segregação dos maus, a exclusão dos
culpados. O Deus de Jesus Cristo é um Deus de amor e de misericórdia, sem
pressa para castigar, que dá ao homem “todo o tempo do mundo” para crescer,
para descobrir o dom de Deus e para fazer as suas escolhas. Não percamos nunca
de vista a “paciência” de Deus para com os pecadores: talvez evitemos ter de
carregar sentimentos de culpa que oprimem e amarguram a nossa breve caminhada
nesta terra.
• A “paciência de Deus” com o
joio convida-nos também a rejeitarmos as atitudes de rigidez, de intolerância,
de incompreensão, de vingança, nas nossas relações com os nossos irmãos. O
“senhor” da parábola não aceita a intolerância, a impaciência, o radicalismo
dos “servos” que pretendem “cortar o mal pela raiz” e arrancar o mal (correndo
o risco de serem injustos, de se enganarem e de meterem mal e bem no mesmo
saco). Às vezes, somos demasiados ligeiros em julgar e condenar, como se as
coisas fossem claras e tudo fosse, sem discussão, claro ou escuro… A Palavra de
Deus convida-nos a moderar a nossa dureza, a nossa intolerância, a nossa
intransigência e a contemplar os irmãos (com as suas falhas, defeitos,
diferenças, comportamentos religiosa ou socialmente incorretos) com os olhos
benevolentes, compreensivos e pacientes de Deus.
• Convém termos sempre presente
o seguinte: não há o mal quimicamente puro de um lado e o bem quimicamente puro
do outro… Mal e bem misturam-se no mundo, na vida e no coração de cada um de
nós. Dividir as nações em boas (as que têm uma política que serve os nossos
interesses) e más (as que têm uma política que lesa os nossos interesses), os
grupos sociais em bons (os que defendem valores com os quais concordamos) e
maus (os que defendem valores que não são os nossos), os indivíduos em bons (os
amigos, aqueles que nos apoiam e que estão sempre de acordo conosco) e maus
(aqueles que nos fazem frente, que nos dizem verdades que são difíceis de
escutar, que não concordam conosco)… é uma atitude simplista, que nos leva
frequentemente a assumir atitudes injustas, que geram exclusão, marginalização,
sofrimento e morte. Mais uma vez: saibamos olhar para o mundo, para os grupos,
para as pessoas sem preconceitos, com a mesma bondade, compreensão e tolerância
que Deus manifesta face a cada homem e a cada mulher, independentemente das
suas escolhas e do seu ritmo de caminhada.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
(Parte)
Fonte: www.dehonianos.org
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