Fala-se muito de Santo Agostinho, inclusive que
este santo foi fruto de muitas lágrimas de sua mãe. Mas quem foi esta mulher
capaz de gerar santos?
Redação (27/08/2020 14:00, Gaudium Press) Santa Mônica nasceu de família cristã, da
qual recebeu boa educação. Submetera-se inteiramente ao marido, suportando os
seus escárnios e transportes de cólera com uma paciência que servia de exemplo
às outras mulheres, e conquistou-o, assim, para Deus, no fim da vida.
Tinha
o talento particular de reunir as pessoas divididas. Depois que enviuvou,
dedicou-se inteiramente às obras de piedade. Dava grandes esmolas, servia aos
pobres, não faltava nenhum dia à oblação do santo altar, nem de ir duas vezes à
igreja, pela manhã e pela tarde, para ouvir a palavra de Deus e fazer suas
preces, em que consistia toda sua vida. Deus comunicava-se com ela por meio de
visões e de revelações; ela sabia distingui-las dos sonhos e dos pensamentos
naturais. Tal era Santa Mônica, na narração de Santo Agostinho.
Preocupação de Santa Mônica pelo seu filho Santo
Agostinho
Quando
viu o filho envolvido nas peias da heresia dos maniqueus, afligiu-se mais do
que se morto o visse, e não queria mais tomar as refeições com ele: mas foi consolada
por um sonho. Viu-se sobre uma prancha de madeira e ao jovem homem
resplandecente que lhe vinha ao encontro e lhe perguntava a causa de sua dor,
respondeu que chorava a perda de seu filho. “Olhai, disse ele, ele está
convosco!” Com efeito, ela o viu ao pé de si, na mesma prancha. Contou o sonho
a Agostinho, que lhe respondeu: “É que sereis o que sou agora”. Mas ela
replicou sem hesitar: “Não. Porque não me disse? Será o que ele é, mas ele irá
para onde tu estás.” Depois disto ela morou e tomou suas refeições com ele,
como anteriormente.
É impossível que o filho de tantas lágrimas pereça!
Dirigiu-se
a um santo bispo e solicitou-lhe que falasse ao filho. O bispo respondeu:
“Ainda é demasiadamente indócil e demasiadamente imbuído desta heresia, que lhe
é nova. Deixai-o, e contentai-vos em pedir por ele; ele verá, com leituras,
qual é o erro. Eu, que vos falo, em minha infância, fui entregue aos maniqueus
por minha mãe, que eles haviam seduzido; não somente li, mas transcrevi quase
todos os seus livros, e, por mim mesmo, desenganei-me.”
A
mãe não se satisfez com estas palavras, e continuou a instar para que falasse
ao seu filho. O bispo respondeu-lhe então com certo humor: “Ide, é impossível
que o filho de tantas lágrimas pereça!” Isso ela recebeu como um oráculo do
céu. Seu filho, todavia, permaneceu nove anos maniqueu, desde a idade de
dezenove anos até os vinte e oito.
Encontro de Santo Agostinho com Santo Ambrósio
No
ano 384, Agostinho veio a Milão ensinar retórica, e conheceu Santo Ambrósio,
que o desiludiu paulatinamente do maniqueísmo. Resolveu definitivamente
abandonar os maniqueus e permanecer na Igreja, na qualidade de catecúmeno, como
dizia ele, na Igreja que os pais lhe haviam recomendado, isto é, na católica,
até que a verdade se lhe revelasse mais claramente.
Santa Mônica reza pela conversão do seu filho Santo
Agostinho
Santa
Mônica veio da África encontrá-lo em Milão, com tão viva Fé, que atravessando o
mar, consolava os marinheiros, mesmo nos maiores perigos, pela certeza que Deus
lhe havia infundido de que chegaria até seu filho.
Quando
ele lhe disse que não era mais maniqueu, mas que ainda não era católico, ela
não se surpreendeu; respondeu-lhe tranquilamente que estava certa de vê-lo fiel
católico antes de deixar esta vida.
Santa Mônica se encontra com Santo Ambrósio
Entrementes,
continuava com as preces e atenta às prédicas de Santo Ambrósio, a quem amava
como anjo de Deus, sabendo que havia levado seu filho a esse estado de dúvida,
que deveria ser a crise de seu mal.
Como
tivesse o costume, na África, de levar às igrejas dos mártires pão, vinho e
carnes, queria fazer o mesmo em Milão; mas o porteiro da igreja lhe impediu e
lhe disse que o bispo o havia proibido. Ela obedeceu imediatamente, sem nenhum
apego ao costume.
Santo
Ambrósio, de resto, havia abolido esses repastos nas igrejas, porque, em lugar
dos antigos ágapes sóbrios e modestos, não ofereciam senão oportunidade para
devassidão. Amava, por seu lado, Santa Mônica pela piedade e boas obras, e
sempre felicitava Agostinho de ter mãe como aquela; porque toda sua vida fora
virtuosa.
Santo Agostinho se converte e volta para a África com sua mãe Santa Mônica
Santo
Agostinho, após o batismo, tendo examinado em que lugar poderia servir a Deus
mais utilmente, resolveu voltar para a África com a mãe, o filho, o irmão e um
jovem chamado Evódio. Ele era também de Tagasta; sendo agente do imperador,
converteu-se, recebeu o batismo antes de Santo Agostinho, e deixou o cargo para
servir a Deus.
Quando
chegaram a Óstia, descansaram do longo caminho que haviam feito desde Milão e
se prepararam para o embarque.
O Colóquio de Óstia entre Santa Mônica e Santo
Agostinho
Um
dia, Santo Agostinho e sua mãe, debruçados ambos sobre uma janela que dava para
o jardim da casa, entretinham-se com uma doçura extrema, esquecendo todo o
passado e conduzindo o pensamento para o futuro. Buscavam saber qual seria a
vida eterna dos santos.
Elevaram-se
acima de todos os prazeres dos sentidos; percorreram gradativamente todos os
corpos, o próprio céu e os astros. Chegaram até as almas, e, passando por todas
as criaturas, mesmo espirituais, alcançaram a sabedoria eterna, pela qual elas
são, e que é sempre, sem diferença de tempo.
Santa Mônica e a conversão de Santo Agostinho: já
nenhum prazer me prende a esta vida
Ali
permaneceram um momento no auge da satisfação espiritual, e suspiraram
contrafeitos ao serem obrigados a voltar ao ruído da voz, onde a palavra começa
e acaba. Então a mãe lhe disse:
“Meu
filho, pelo que me diz respeito, já nenhum prazer me prende a esta vida. Não
sei o que faço aqui, nem porque existo. O que me fazia ansiar aqui permanecer
era ver-vos cristão católico antes de morrer. Deus concedeu-me mais; vejo-vos consagrado
a seu serviço, após haverdes desprezado a felicidade terrena.”
Morte de Santa Mônica
Aproximadamente
cinco anos após, caiu doente com febre. Um dia perdeu os sentidos; ao voltar a
si, encarou Agostinho e seu irmão Navígio, e lhes disse: “Onde estava eu?”
Depois, vendo-os compungidos de dor, ajuntou: “Deixareis vossa mãe aqui.”
Navígio manifestou o desejo de que ela morresse de preferência no seu país. Mas
ela encarou-o com olhar santo e severo, como a repreendê-lo e disse a
Agostinho: “Vê o que ele diz!” Enfim, dirigindo-se a ambos: “Colocai este corpo
onde vos aprouver; não vos inquieteis. Peço-vos somente que vos lembreis de mim
no altar do Senhor, onde quer que estejais.”
Morreu
no nono dia da enfermidade, na idade de cinquenta e seis anos, e no
trigésimo-terceiro de Santo Agostinho; isto é, no mesmo ano de seu batismo,
387.
Assim
que expirou, Agostinho fechou-lhe os olhos. O jovem Adeodato lançava gritos
lancinantes; mas os circunstantes o fizeram calar, não vendo motivo algum para
lágrimas nesta morte, e Agostinho conteve as suas, fazendo violência a si
próprio.
Santo Agostinho reza por sua falecida mãe, Santa
Mônica
Evódio
tomou do Saltério e principiou a cantar o salmo centésimo: “Cantarei em tua
honra, Senhor, a misericórdia e a justiça.” Toda a casa respondia, e em poucos
instantes se congregou grande número de pessoas piedosas de ambos os sexos.
Levaram o corpo; ofereceu-se pela defunta o sacrifício de nossa redenção; fizeram-se
as preces ao pé do sepulcro, segundo o costume, em presença do corpo, antes de
enterrá-lo. Santo Agostinho manteve os olhos enxutos durante toda a cerimônia;
mas enfim, à noite, deixou correr livremente as lágrimas para aliviar a dor.
Orou por sua mãe, como fazia ainda tempos após, descrevendo todas as
circunstâncias que cercaram essa morte no primeiro livro de suas Confissões;
pediu aos leitores que se lembrassem no santo altar, de Mônica, sua mãe, e de
seu pai, Patrício.
(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VIII, p. 82 à 87)
Fonte: https://gaudiumpress.org/
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