Por John Touhey
Uma análise atenta de duas das obras menos conhecidas de J.R.R. Tolkien revela alguns segredos poderosos para a criação de filhos, que todos os pais e mães deveriam aproveitar.
J.R.R. Tolkien é justamente lembrado por O Hobbit e O Senhor dos Anéis. No entanto, há várias outras obras de Tolkien que também valem a pena ser procuradas. Em particular, eu recomendaria o delicioso “Leaf by Niggle”, uma fábula que revela como Tolkien imaginava o lugar da arte e dos artistas no mundo.
Também vale a pena conferir, especialmente se você for pai ou mãe, dois livros menos conhecidos, Letters from Father Christmas (Cartas do Papai Noel) e o livro de histórias Sr Bliss. Como O Hobbit, ambos os livros foram escritos para seus filhos e nos dão um vislumbre de como Tolkien abordava a tarefa de ser pai.
Cartas do Papai Noel. Em 1920, Tolkien escreveu uma carta do Papai Noel para seu filho mais velho, John. Ele continuaria a tradição com todos os seus filhos pelos próximos 20 anos. As cartas foram reunidas e publicadas postumamente em forma de livro em 1976, três anos após a morte de Tolkien.
O Sr. Bliss é provavelmente a obra menos conhecida de Tolkien. Ela foi desenhada e escrita em algum momento da década de 1930, novamente para ser compartilhada com seus filhos. Ela conta a história do Sr. Bliss, que gosta de usar chapéus muito altos, enquanto dá sua primeira volta em seu carro a motor. Supostamente, foi baseado nas desventuras do próprio Tolkien ao dirigir.
Embora nenhum dos trabalhos seja uma obra-prima no nível dos volumes da Terra Média de Tolkien, esses dois livros infantis são muito reveladores do próprio homem. De acordo com todos os relatos, Tolkien era um marido e pai dedicado e muito afetuoso. E, embora só exista um J.R.R. Tolkien, um olhar atento para Father Christmas e Sr. Bliss revela alguns segredos poderosos de paternidade que toda mãe e todo pai deveriam aproveitar.
1ABRAÇAR A IMAGINAÇÃO
Como muitos pais, quando meus filhos eram pequenos, eu chegava a extremos na época do Natal para manter a ilusão de que o Papai Noel tinha descido pela chaminé e entregado pessoalmente os presentes. Na véspera de Natal, eu acompanhava a localização do Papai Noel com eles, distribuía leite e biscoitos e esperava até que meus filhos dormissem para descer os presentes do sótão.
Eu achava que fazia um bom trabalho em manter a brincadeira do Papai Noel, mas Tolkien me envergonhou. Todos os anos, ele enviava a seus filhos pelo menos uma carta do Papai Noel. Não eram cartas simples, mas obras de arte elaboradamente compostas e lindamente ilustradas. As cartas também são feitos impressionantes de imaginação. Em cada carta, o Papai Noel atualiza as crianças de Tolkien sobre a vida no Polo Norte, as aventuras de seu amigo, o Urso Polar, e seus problemas e preocupações.
Lembro-me de um membro da família que me repreendeu uma vez por deixar meus filhos acreditarem no Papai Noel. Disseram-me que essas mentiras eram prejudiciais. Tolkien teria dado risada da crítica. Ele entendia que nossa busca pela verdade está diretamente ligada à nossa capacidade de imaginar outros lugares, coisas, situações etc. (Einstein nunca teria descoberto a teoria da relatividade sem seus experimentos mentais).
Quando os filhos de Tolkien escreviam cartas para o Papai Noel e recebiam respostas regulares, eles estavam envolvidos em um jogo maravilhoso, mas também estavam sendo direcionados pelo pai a verdades mais profundas.
Mesmo quando as crianças de Tolkien cresceram e já haviam passado da idade de fingir, o Papai Noel continuava a lhes enviar cartas. Sem dúvida, Tolkien adorava assumir sua persona de “Papai Noel” para seus filhos e eles sempre gostavam de receber as cartas, mesmo quando eram adolescentes e estavam por dentro da brincadeira.
Não tenha medo de seguir o exemplo de Tolkien e procure maneiras de estimular a imaginação de seus filhos.
2SER CRIATIVO COM ALEGRIA E SEM MEDO
Como já mencionado, as cartas do Papai Noel eram ilustradas, mas Tolkien levou seus esforços artísticos para o próximo nível ao criar o livro de histórias Sr Bliss. Os desenhos de Tolkien compõem metade do livro.
Pela maioria dos padrões, a qualidade das ilustrações é grosseira. J.R.R. Tolkien era um especialista em filologia, mas a arte da perspectiva claramente não fazia parte de sua especialidade. Ele também era melhor em desenhar ursos e ogros do que seres humanos. Os rostos das pessoas são especialmente desajeitados.
Mas, apesar de tudo isso, as ilustrações de Tolkien para o Sr. Bliss e o Papai Noel são expressivas e inegavelmente adoráveis. Mais do que tudo, elas são cheias de afeto. Você pode ver que Tolkien queria fazer algo tão belo e criativo quanto possível para seus filhos porque os amava, e que não iria permitir que suas próprias limitações como artista fossem um obstáculo.
A lição aqui é que você não precisa ser um especialista em alguma coisa para experimentá-la com seus filhos. Cozinhar juntos pode ser divertido, mesmo que você seja um desastre na cozinha e os brownies saiam queimados. Você não precisa ser um atleta para jogar futebol com seus filhos no quintal, nem um artista para fazer arte com eles.
Tudo o que importa é que você ame seus filhos e que se dedique com alegria a tudo o que estiver fazendo com eles.
3O HUMOR É MÁGICO
No início de Sr. Bliss, Tolkien escreve que a casa do Sr. Bliss tinha “uma porta da frente muito alta, porque o Sr. Bliss usava chapéus muito altos. Ele tinha fileiras deles em fileiras de pinos no saguão”.
E em uma carta, o Papai Noel fala sobre como a água começou a jorrar pelo teto porque o Urso Polar havia adormecido na banheira do andar de cima com a água correndo. Em outra carta, o Papai Noel diz que está enviando “montes” de segundas edições de O Hobbit para o Natal.
Tenho certeza de que os filhos mais novos de Tolkien gritaram de alegria com as desventuras do Urso Polar, e que Tolkien certamente deve ter dado uma risadinha, divertido com a reação deles.
Criar filhos nem sempre é tão fácil, é claro. E seu trabalho principal como pai não é fazer seus filhos rirem, especialmente quando eles estão se comportando mal. Mas o valor do humor não pode ser subestimado. Como Tolkien certamente entendeu, o riso tem um efeito quase mágico sobre pais e filhos.
O humor constrói laços familiares e também contribui para um lar feliz e alegre.
Por fim, devemos lembrar que Tolkien nunca teve medo de demonstrar afeto por seus filhos. Ele sempre reservava um tempo para eles e, supostamente, dava-lhes um beijo quando os via (para grande constrangimento deles à medida que cresciam). E quando escrevia para eles como Papai Noel, ele sempre se certificava de assinar as cartas “com muito amor para todos vocês” ou com “muito e muito amor”.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
Nenhum comentário:
Postar um comentário