AUTISMO EM ADULTOS: COMO LIDAR COM O DIAGNÓSTICO TARDIO
Publicado e revisado em: 9 de junho de 2022
O diagnóstico, mesmo que tardio,
aliado à terapia, é fundamental para o autoconhecimento e desenvolvimento da
independência.
Crises
Pessoas no espectro muitas vezes
podem experimentar um esgotamento devido à sobrecarga social, sensorial ou
emocional devido a uma hipersensibilidade. Situações como uma festa com muitas
interações sociais, acúmulo de trabalho ou ambiente com muito barulho – o
estímulo varia de pessoa para pessoa – podem desencadear as chamadas crises de
meltdown, shutdown e burnout. Diferenciar cada uma dessas crises é importante
para saber como auxiliar o indivíduo.
- Meltdown: A crise é “externa”, se
assemelhando a um colapso nervoso. Geralmente, acontecem em situações que
provocam um aumento muito grande de ansiedade. Diante disso, a pessoa pode
ter acessos de raiva e/ou ataques de pânico bastante agressivos, uma
resposta do organismo aos estímulos negativos.
- Shutdown: A crise é interna, como um
“apagão”. Diante de uma situação de muito estresse e sobrecarga, a pessoa
se fecha, e pode apresentar comportamentos como o mutismo seletivo, olhar
vazio e paralisação.
- Burnout: É o esgotamento em si. Sua
manifestação pode estar ligada ao esforço exaustivo de imitar
comportamentos neurotípicos – de pessoas não autistas. Pode se assemelhar
a uma depressão, já que há perda de interesse nas atividades que davam
prazer e sentimentos associados à raiva e à depressão. Porém, diferente da
depressão, o burnout costuma durar um tempo menor, e a pessoa se recupera
após um tempo de recolhimento e repouso.
No dia a dia, essas crises podem
impactar a produtividade e a rotina do adulto autista. Por isso, quem convive
com o indivíduo – seja no trabalho, na escola ou na faculdade, e no círculo
social – deve ter sensibilidade às diferenças no modo de funcionamento da
pessoa autista, assim como aprender a identificar os sinais das crises e
respeitar esse momento.
Existe tratamento para o autismo
Como já mencionamos, o autismo é
uma condição que não tem cura. As abordagens realizadas têm o objetivo de guiar
o adulto num processo de autoconhecimento e independência, não de eliminar o
transtorno.
Como o transtorno do espectro
autista atinge vários aspectos do desenvolvimento, o ideal é que o tratamento
seja realizado por uma equipe multidisciplinar composta por psicólogo,
psiquiatra, fonoaudiólogo, terapeuta
ocupacional, nutricionista, fisioterapeuta,
entre outros. As recomendações são individuais, então cada caso é analisado
isoladamente para que seja montado um plano de intervenção que corresponda às
necessidades de cada paciente.
Gisele Belfiore, terapeuta
ocupacional na clínica especializada em TEA, conta como funciona o trabalho no
caso de pessoas diagnosticadas tardiamente.
“É importante trabalhar na
questão social, pois muitos autistas adultos têm seu diagnóstico contestado
pelas pessoas à sua volta. É comum ouvir comentários como ‘como assim você só
teve o diagnóstico na vida adulta? Você não é autista então!’. Esses
questionamentos, além de não contribuir com a situação, podem causar prejuízo
psicológico para o indivíduo, que se sente invalidado.”
Embora não exista um medicamento
específico para tratar o autismo, antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores de humor e outras classes de
medicamentos podem ser indicados no tratamento das comorbidades.
A terapia também é recomendada
para autoconhecimento e para lidar com as questões gerais da vida, que podem
ser sentidas de maneira mais intensa por quem tem o transtorno.
“Pessoas autistas são seres
humanos como quaisquer outros. Temos desejos, medos, sonhos, ansiedades que se
beneficiam do acompanhamento terapêutico”, destaca o dr. Alexandre.
Para conhecer
Por muito tempo, as
representações de pessoas autistas na cultura pop foram estereotipadas,
aumentando ainda mais o estigma sobre o diagnóstico do autismo. A própria
palavra “autismo”, aliás, tem sido discutida por movimentos de pessoas autistas
por causa da conotação negativa que costuma acompanhar o termo. Por isso, tem
sido cada vez mais comum ver por aí o termo “neurodivergente”, que parte da
ideia de que não há normalidade quando se trata do cérebro humano, mas sim
várias formas diferentes de funcionamento.
Por esse mesmo motivo, pessoas
autistas têm sentido a necessidade de criar projetos e iniciativas que falem
sobre o autismo de uma perspectiva mais realista. Aqui vão alguns desses perfis
para você conhecer e entender mais sobre o tema.
O projeto produz conteúdo
voltado principalmente para jovens e adultos autistas. Foi iniciado, no
Instagram, pelo neuropsicólogo Mayck Hartwig, especializado em adultos
autistas. Ele e Patrícia Ilus se conheceram através da rede social, e logo ela
passou a ser responsável pelas lives que contam com a participação de outras
pessoas no espectro.
“Para o mundo me dar a
acessibilidade de que eu precisava, as pessoas precisavam aprender sobre a
minha condição. É preciso que nos mostremos e falemos de nós mesmos pelo viés
da diversidade e não da pena e da punição”, destaca Patrícia.
“Um podcast sobre autismo onde
autistas conversam.” É assim que o Introvertendo se define. É
o primeiro do Brasil formado somente por pessoas do espectro. Thiago Abreu,
idealizador do projeto, conta que os cinco integrantes originais se conheceram
em um grupo de apoio para pessoas com a síndrome de Asperger. A ideia não era
falar apenas sobre autismo, mas falar com pessoas autistas.
Luciana Viegas é pedagoga, e se
descobriu autista após o diagnóstico do filho. Como mulher negra, conta que a
experiência foi solitária, e por isso começou a procurar histórias parecidas
com a sua na internet. Foi assim que criou o perfil “Uma mãe preta autista
falando”, onde discute neurodivergência, maternidade e raça. É também colunista
da revista Autismo, a primeira sobre o tema na América Latina.
Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/
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