"Por que, então, não olhar
todos conjuntamente para a nossa Mãe comum, que intercede pela unidade da
família de Deus e que a todos «precede», à frente do longo cortejo das
testemunhas da fé no único Senhor, o Filho de Deus, concebido no seu seio virginal
por obra do Espírito Santo?”, pergunta São João Paulo II em sua Encíclica
Redemptoris Mater.
Jackson
Erpen - Cidade do Vaticano
“Desejo realçar, por outro lado,
quanto a Igreja católica, a Igreja ortodoxa e as antigas Igrejas orientais se
sentem profundamente unidas no amor e louvor à Theotókos. Não só «os dogmas
fundamentais da fé cristã acerca da Trindade e do Verbo de Deus, que assumiu a
carne da Virgem Maria, foram definidos nos Concílios ecuménicos celebrados no
Oriente», mas também no seu culto litúrgico «os Orientais exaltam com hinos
esplêndidos Maria sempre Virgem ... e Santíssima Mãe de Deus» (...). Os Padres
gregos e a tradição bizantina, contemplando a Virgem Santíssima à luz do Verbo
feito homem, procuraram penetrar na profundidade daquele vínculo que une Maria,
enquanto Mãe de Deus, a Cristo e à Igreja: ela é uma presença permanente em
toda a amplidão do mistério salvífico. (Papa João Paulo II, Redemptoris Mater,
31”
A Carta
Encíclica Redemptoris Mater de São João Paulo II (1987),
depois de meditar sobre a presença constante de Maria na Igreja, centra-se na
questão da unidade dos cristãos e investiga como Nossa Senhora pode ajudar a
Igreja neste caminho. Para as Igrejas e comunidades que não aderem plenamente
ao mistério de Maria, ela deve ser um exemplo de “obediência de fé”; para as
Igrejas Orientais, porém, Nossa Senhora constitui um ponto de encontro
privilegiado.
Padre
Gerson Schmidt* tem nos proposto uma série de reflexões sobre a Virgem Maria, quer
abordando os títulos a ela atribuídos, como seu papel na história da salvação.
No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre
nos fala sobre "Maria, caminho para a unidade dos cristãos":
"Já
abordamos em nossos estudos que na conclusão da Lumen Gentium, os padres conciliares
afirmaram que Maria é medianeira na ordem da unidade dos cristãos. Diz assim o
número 69, com o título “Medianeira para a unidade da Igreja” –
“E é uma grande alegria e consolação para este sagrado Concílio o fato de não
faltar entre os irmãos separados quem preste à Mãe do Senhor e Salvador o
devido culto; sobretudo entre os Orientais, que acorrem com fervor e devoção a
render culto à sempre Virgem Mãe de Deus (194). Dirijam todos os fiéis
instantes súplicas à Mãe de Deus e mãe dos homens, para que Ela, que acompanhou
com suas orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os
anjos e bem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de todos os
santos, até que todos os povos, tanto os que ostentam o nome cristão, como os
que ainda ignoram o Salvador, se reúnam felizmente, em paz e harmonia, no único
Povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade”.
Para a
busca ecumênica da unidade, querida pelo Concilio, nos valemos da Carta
Encíclica de São João Paulo II Redemptoris Mater, de 1987, referendando a
intenção do Vaticano II. Diz assim a carta encíclica de João Paulo II: “O
movimento ecumênico, com base numa consciência mais lúcida e difundida da
urgência de se chegar à unidade de todos os cristãos, teve a sua expressão
culminante, por parte da Igreja católica, na obra do Concílio Vaticano II: é
preciso que os mesmos cristãos aprofundem em si próprios e em cada uma das suas
comunidades aquela «obediência de fé» de que Maria Santíssima é o primeiro e o
mais luminoso exemplo. E uma vez que ela «brilha agora diante do Povo de Deus
ainda peregrinante como sinal de esperança segura e de consolação», «é motivo
de uma grande alegria e de consolação para o sagrado Concílio o fato de não
faltar entre os irmãos desunidos quem tribute à Mãe do Senhor e Salvador a
devida honra, sobretudo entre os Orientais»”[1](cf. Lumen
gentium, 68-69).
E no número
30 dessa carta ao Povo Santo sobre “A Bem-aventurada Virgem Maria na vida da
Igreja que está a caminho” – título da obra – o Papa ainda diz: “Os cristãos
sabem que a unidade entre eles só poderá ser reencontrada verdadeiramente se
estiver fundada sobre a unidade da sua fé. Eles devem resolver discordâncias
não leves de doutrina, quanto ao mistério e ao ministério da Igreja e quanto à
função de Maria na obra da salvação. (Papa aqui referenda o Conc. Ecum.
Vat. II, Decr. sobre o Ecumenismo Unitatis redintegratio,
20). A função e o papel de Maria na obra da salvação é bem destacada pelos
padres conciliares no final da Lumen Gentium, inserindo-a dentro da
grande Constituição sobre a Igreja. E continua João Paulo II: “Os diálogos já
entabulados pela Igreja católica com as Igrejas orientais e com as Igrejas e
Comunidades eclesiais do Ocidente vão convergindo, cada vez mais, para estes
dois aspectos inseparáveis do próprio mistério da salvação. Se o mistério do
Verbo Encarnado nos faz vislumbrar o mistério da maternidade divina e se a
contemplação da Mãe de Deus, por sua vez, nos introduz numa compreensão mais
profunda do mistério da Encarnação, o mesmo se deve dizer do mistério da Igreja
e da função de Maria na obra da salvação. Ao aprofundar um e outro e ao tentar
esclarecer um por meio do outro, os cristãos, desejosos de fazer ― como lhes
recomenda a sua Mãe ― o que Jesus lhes disser (cf. Jo 2, 5), poderão progredir
juntos naquela «peregrinação da fé» de que Maria é sempre o exemplo e que deve
conduzi-los à unidade, querida pelo seu único Senhor e tão desejada por aqueles
que estão prontos a ouvir atentamente o que o Espírito diz hoje às Igrejas (cf.
Apoc 2, 7. 11. 17)”. Vemos que nessa carta, o Papa insiste no termo
“peregrinação da fé” feita por Maria, a ser seguida pelos cristãos. A
contemplação da Mãe introduz o cristão numa compreensão mais profunda do
mistério da encarnação, consequentemente, da salvação. O mistério da salvação
passa pelo mistério da encarnação, que necessariamente passa pelo ventre da
mulher cheia de graça.
“Entretanto
– conclui o Papa - é um bom presságio que estas Igrejas e Comunidades eclesiais
estejam concordes em pontos fundamentais da fé cristã, também pelo que diz
respeito à Virgem Maria. Elas, de fato, reconhecem-na como Mãe do Senhor e
acham que isso faz parte da nossa fé em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro
homem. Ademais, volvem para ela o olhar, aceitando ser Aquela que, aos pés da
Cruz, acolhe o discípulo amado como seu filho, o qual, por sua vez, a recebe a
ela como mãe. Por que, então, não olhar todos conjuntamente para a nossa Mãe
comum, que intercede pela unidade da família de Deus e que a todos «precede», à
frente do longo cortejo das testemunhas da fé no único Senhor, o Filho de Deus,
concebido no seu seio virginal por obra do Espírito Santo?”, pergunta o Papa
polonês em sua Encíclica Redemptoris Mater, dentro do espírito
do Concílio Vaticano II."
*Padre
Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além
da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em
Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
_________________
[1] Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 68, 69. Sobre o papel de Maria Santíssima na promoção da unidade dos cristãos e sobre o culto de Maria no Oriente, cf. Leão XIII, Carta Enc. Adiutricem populi (5 de Setembro de 1895): Acta Leonis, XV, 300-312.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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