Santo Agostinho convidou o povo
de Deus a cumprir a lei de Cristo que consistia os irmãos viverem em comum, no
amor.
Dom Vital
Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
Santo
Agostinho foi um grande pastor e bispo em Hipona, no qual dirigiu a Igreja, a
diocese, por mais de trinta anos, final do século IV e início do século V. Para
todas as pessoas tinha uma palavra de fé, de esperança e de caridade. É muito
importante perceber como ele levava em consideração o amor fraterno, o ponto
fundamental que caracteriza a vida cristã, junto de Deus e junto à humanidade.
A homilia no Salmo 132
Santo
Agostinho teve uma homilia muito expressiva feita para o povo de Deus na
interpretação do Salmo 132 a qual fala da alegria do amor fraterno. As
considerações são importantes na realidade atual, familiar, eclesial e social
para que se viva o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, assim como nos
solicita o Senhor Jesus Cristo para os seus discípulos e discípulas.
O salmo é
bem simples, curto no qual fala da beleza, da situação de como é agradável a
irmãos unidos viverem em comum no amor de verdade. É palavra suave a caridade
que leva irmãos a conviverem juntos pelo mesmo objetivo, convivência. O Bispo
fez uma análise para ver se o salmo referia-se a todos os cristãos em geral, ou
se houvesse algumas pessoas perfeitas que habitavam unidas para a vivência da
palavra de Deus[1].
Tendo
presente esta indagação, Santo Agostinho afirmou que aquela palavra do
saltério, em relação à agradabilidade, quer cantada, quer ouvida, deu origem
aos mosteiros[2]. Tal som ressoou em toda a terra e reuniu as pessoas que
estavam dispersas, sendo este um clamor divino, profético, do Espírito
Santo,[3]. É claro que primeiro foi dada essa benção, para os que seguiam a
Jesus Cristo.
Perguntas levantadas
O bispo de
Hipona levantou perguntas no sentido da proveniência dos quinhentos discípulos
que viram o Senhor ressuscitado, conforme relembrou o Apóstolo Paulo, de onde veio
tanta gente? Depois os cento e vinte, reunidos no mesmo recinto após a
ressurreição e ascensão do Senhor ao céu e no dia de Pentecostes, desceu o
Espírito Santo, segundo a realização da promessa? (cf. At 1,15). O resultado
dessas ações divinas foi que as pessoas começaram a viver em comum. Muitas
coisas eram vendidas e era depositado o preço aos pés dos apóstolos e a
multidão era um só coração e uma só alma (cf. At 4,32). Sem dúvida aquelas
pessoas foram as primeiras que ouviram a palavra: “Eis como é bom, como é
agradável a irmãos unidos viverem em comum” [4].
Pessoas
posteriores, os discípulos e as discípulas do Senhor
Se para
Santo Agostinho as palavras da amabilidade dos irmãos e das irmãs viverem
juntos eram dirigidas para os primeiros cristãos, no entanto eles não foram os
únicos, porque a caridade e a união fraterna não se limitaram somente a eles,
mas a alegria da caridade e o voto feito a Deus abrangeram também muitas
pessoas posteriores[5]. Derivava deste salmo o nome de monges, no seu verdadeiro
sentido, de seguidor do Senhor, pessoa consagrada a Deus, ao próximo como a si
mesmo. Não se tratava dos circunceliões, pessoas que andavam errantes pelas
celas, pelos mosteiros, pois esses, não sendo domiciliados, cometiam o mal,
pela violência de atitudes, muitas vezes por onde passavam. Estes eram também
chamados de falsos monges pela comunidade eclesial. Era claro que no cenário
geral, familiar, comunitário e social existiam, segundo o Bispo de Hipona,
falsos monges, falsos clérigos e falsos fieis[6].
Santo
Agostinho lutou contra os circunceliões, também chamados de lutadores,
combatentes, conforme declarou o Apóstolo Paulo: “Combati o bom combate” ( 2 Tm
4,7). Agostinho afirmou que oxalá eles mesmos fossem soldados de Cristo e não
do diabo, os quais a saudação que se davam entre eles que era ‘Louvor de Deus’,
incutindo maior medo do que o provocado pelo rugido do leão. Enquanto a
saudação dos monges era ‘Graças a Deus’ louvor a Deus, porque um irmão via no
outro, uma irmã, um irmão[7] de modo que isto era motivo de dar graças a Deus,
o encontro dos que viviam com Cristo[8]. Assim eram chamados os monges, aqueles
que viviam unidos de tal sorte que formaram um só ser humano, do qual foi
escrito que eram uma só alma e um só coração (At 4,32), pois sendo muitos
corpos, não eram muitas almas, pela unidade em Cristo formada. Já os
circunceliões, espécie de monges dos donatistas, não viviam unidos aos irmãos,
mas seguiam a Donato, pois para o bispo de Hipona eles abandonaram o amor a
Cristo e aos irmãos[9].
Santo
Agostinho convidou o povo de Deus a cumprir a lei de Cristo que consistia os
irmãos viverem em comum, no amor. Tudo isso era dom de Deus, era graça, qual
orvalho que caia do céu. A terra não produz a chuva por si mesma, porque tudo
seca se do alto não descer a chuva. Cristo é, pois a luz exaltada na cruz, pois
na humilhação ocorreu a elevação. Se as pessoas quiserem viver em comum,
desejam o orvalho, a chuva que vem do alto[10]. Deste modo é preciso viver em
comum, porém com a caridade perfeita de Cristo, porque senão a vivência
fraterna não tem verdadeiro sentido, podendo viver só a palavra de uma forma
corporal[11], mas isso seria pouco. O Senhor derramou as suas graças sobre as
irmãs e os irmãos que vivem em comum, na concórdia, na caridade[12].
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[1] Santo
Agostinho, Comentário aos salmos, 9/3. São Paulo, Paulo, 1998, pg.
764.
[2] Idem,
pg. 764.
[3] Idem,
pg. 764.
[4] Idem,
pg. 765.
[5] Idem,
pg. 765.
[6] Idem,
pg. 766.
[7] Idem,
pg. 769-770.
[8] Idem,
pg. 770.
[9] Idem,
pg. 771.
[10] Idem,
pg. 775.
[11] Idem,
pgs. 775-775.
[12] Idem, pg. 776.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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