Os Mártires do Século XX
O presente artigo considera o fato do martírio
no século XX, paralelo ao dos primeiros séculos. A igreja quer reconhecer e
homenagear os heróis da fé, que sofreram em campos do concentração, prisões e
outras ocasiões, e dos quais alguns ainda vivem, merecendo toda a estima dos
contemporâneos.
6. Outros heróis da fé
Enumeraremos ainda sete vultos
dignos do nome de cristãos.
6.1. São Maximiliano Kolbe (+ 1941),
franciscano polonês
Era franciscano conventual
quando foi levado para o campo de concentração de Auschwitz. O Caso é
particularmente interessante, pois Fr. Maximiliano não morreu diretamente por
ódio à fé, mas porque se ofereceu para morrer em lugar de um pai de família, terminando
assim os seus dias no Bunker (subterrâneo) da fome. O caso foi examinado pelos
peritos da Igreja: verificaram que a morte de Frei Maximiliano fora
consequência da sua caridade e não da sua fé; por isto Paulo VI o beatificou na
qualidade de confessor da fé ou zeloso pastor, não de mártir; havia, sim,
praticado a virtude em grau heroico e, em consequência, morrera. A causa
continuou a ser examinada sob João Paulo II, de modo a chegar à seguinte
conclusão: Frei Maximiliano, se não morreu por causa da fé, morreu por causa de
uma virtude (a caridade) associada à fé; por isto seu caso entra na definição
de mártir e, como mártir, foi canonizado em 1982. O fato se justificava
claramente: sim, o martírio é a suprema prova de amor a Deus,… amor este que
Frei Maximiliano vivenciou de maneira perfeita, impelido pela fé, quando quis
tomar o lugar de um pai de família condenado à morte; doando sua vida,
tornou-se mártir da caridade, ou seja, testemunha do absoluto amor de Cristo.
6.2. Franz Jägerstätter (+ 1943), leigo
austríaco
Nascido em 1907 na Áustria,
Franz levou uma vida dissipada durante a juventude. Finalmente descobriu a
grandeza da mensagem católica. Por ocasião do Anschluss (anexo da Áustria à
Alemanha nazista), foi o único de sua aldeia que teve a coragem de votar contra
Hitler. Em 1939, quando estourou a Segunda guerra mundial, declarou que não se
alistaria no exército de um regime ateu e anticristão. Apesar de tudo, foi
recrutado para combate, mas recusou-se ao porte de armas. Foi encarcerado e
resistiu denodadamente a toda pressão nacional-socialista. Aos 6 de julho de
1943 foi transferido para uma prisão em Berlim e condenado à morte por Ter
rejeitado uma proposta nazista que lhe salvaria a vida. Foi decapitado aos 9 de
agosto de 1943.
6.3. Isidoro Bakanga, leigo congolês
No começo do século XX no Congo
um jovem aprendiz de pedreiro descobriu o Cristo anunciado pelos missionários.
Tornou-se catequista convicto e irradiou a sua fé. A sua conduta de vida
incomodava os homens corruptos que se valiam do Evangelho para explorar seus
conterrâneos. O gerente de uma firma colonial mandou espancá-lo até que
morresse. Isidoro faleceu perdoando aos seus carrascos. João Paulo II
declarou-o bem-aventurado em 1994.
6.4. Ghassibé Kayrouz (+ 1985), leigo maronita
libanês
Ghassibé Kayrouz nasceu no
Líbano na aldeia de Nahba (província de Bekaa), em que cristãos e muçulmanos
viviam em boa paz desde muito tempo. Impressionado pela guerra civil no seu
país, entrou na Companhia de Jesus e dedicou-se a apaziguar os ânimos dos compatriotas
agressivos. Percebeu que esta missão podia custar-lhe a vida e, por isto, ainda
jovem, antes do Natal de 1984, escreveu um testamento em que exprimia a sua fé
católica e perdoava de antemão a quem o matasse. Assim ofereceu sua vida por
todos os libaneses (muçulmanos e cristãos); dizia: “No céu não terei repouso
enquanto a situação permanecer tal no Líbano”. Foi assassinado alguns dias mais
tarde.
Pouco depois Nicolas Kluiters,
um Religioso holandês que seguira Ghassibé em sua caminhada espiritual, foi
degolado e lançado num poço de 97m de profundidade.
6.5. John Bradburne, leigo do Zimbabwe
(África)
Nascido em 1920, da família
anglicana, no Zimbabwe, John tomou parte heroica na Segunda guerra mundial.
Resolveu fazer-se católico e consagrar toda a sua vida à procura de Deus.
Durante quinze anos levou vida de peregrino pelas estradas da Europa. Chegou
assim até Jerusalém. Tocava flauta e compôs dezenas de milhares de versos em
honra da Virgem Maria. Queria ir aonde Deus o chamasse.
Em 1962 voltou para a África,
onde queria viver solitário, como eremita. Mas deparou-se com colônias de
leprosos, que lhe mudaram o curso da vida. Decidiu dedicar-se a eles, apesar
dos diversos obstáculos que encontrava. Era, por uns, tido como louco inofensivo;
por outros, como um Santo. A guerra civil estourou no Zimbabwe; então John e
uma médica italiana resolveram ficar com os leprosos. A presença e o testemunho
de fé cristã desses dois mensageiros incomodava a quem os via de modo que foram
assassinados.
6.6. Daphrosa e Cipriano Rugamba, leigos de
Rwanda, 1994
Durante o genocídio de Rwanda em
1994, o casal católico Daphrosa e Cipriano muito se empenhou pela reconciliação
de Hutus e Tutsis. Cipriano era um artista conhecido. O casal, com seus seis
filhos, foi indicado como alvo aos atiradores, que os mataram quando estavam em
adoração diante do Ssmo. Sacramento.
6.7. Jesus Jiménez, leigo de El Salvador, 1979
Jesus Jiménez nasceu em El
Salvador, de família camponesa. Era muito dado à leitura da Palavra de Deus e à
adoração da Eucaristia. O seu pároco, o Pe. Rutilio Grande, confiou-lhe a
orientação de uma comunidade eclesiástica de base em 1973. Em breve, porém,
estourou a guerra civil e o Pe. Rutilio Grande foi assassinado pela Guarda
Nacional. Jesus Jiménez procurou então coordenar as comunidades duramente
provadas pela guerra civil, a todos levando o reconforto do Evangelho. A 1º de
setembro de 1979 foi assassinado quando voltava de uma reunião pastoral.
Contava 32 anos e era pai de quatro filhos. O seu cadáver foi pendurado numa
haste e lançado no corredor de um presbitério.
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
Nº 456, Ano 2000, Pág. 194.
Fonte: https://cleofas.com.br/
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