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quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Questões mundiais emergentes no início do Terceiro Milênio (4/5)

G20 - Bandeiras (Vecteezy)

Arquivo 30Dias – 09/2001

Questões mundiais emergentes no início do Terceiro Milênio

Um ensaio do presidente do IOR faz um balanço dos processos de globalização em curso e das consequências políticas e sociais. Longe da demagogia global-antiglobal.

por Ângelo Caloia

POR UMA GLOBALIDADE VIRTUOSA

É claro que a resistência continua. Nem é suficiente estabelecer as regras. Precisamos de instituições e de poderes capazes de os desenvolver e de os tornar eficazes.

O problema diz respeito ao método e não ao mérito, ou seja, à forma de proceder nesse caminho. A interdependência entre a economia, a tecnologia e os direitos humanos fundamentais requer uma interpretação virtuosa que a transforme em autêntica solidariedade. Isto exige que aprendamos a coordenar o pluralismo e que sejamos capazes de promover a democracia e a solidariedade à escala global: evitando assim que a "globalização imposta", aquela que responde apenas às leis da economia, veja o homem tornar-se objeto e não sujeito.

A globalização, um fenômeno composto, não é apenas a exaltação da interdependência econômica (intensificação das trocas, gestão internacional , externalização , “ fusões e aquisições ”, alianças entre empresas, multinacionais) e da interdependência financeira (o dinheiro, ao contrário dos bens, não tem fricção), mas é apoiado por tendências subjacentes impressionantes. É essencialmente multidimensional, ou seja, diz respeito a serviços, tecnologia, pessoas, bens e envolve ambiente, cultura, saúde, bem-estar e informação. São, portanto, necessárias mudanças substanciais nas instituições, nos sistemas sociais e na forma como a política econômica é gerida.

Talvez nunca antes a perspectiva na qual precisamos de “ler” os acontecimentos quotidianos tenha sido uma perspectiva internacional. Nunca antes os acontecimentos diários foram dominados pelo que acontece a nível global. O mesmo pedido de ajuda para redefinir a arquitetura do sistema financeiro internacional, a discussão sobre o papel das organizações internacionais (financeiras e outras), o debate sobre as tarefas e responsabilidades da ONU, da OMC, do FMI, do Banco Mundial e dos do Banco Central Europeu, confirmam que todas as análises, propostas e iniciativas devem lidar com a constatação de que vivemos numa era dominada pela globalização dos fenômenos sociais.

Contudo, o julgamento sobre as consequências da globalização não parece ser unívoco. À medida que o fenômeno se intensifica e se espalha, aparecem não só os benefícios óbvios, mas também os aspectos duvidosos, controversos ou negativos, que por vezes parecem ter precedência sobre os primeiros: são os efeitos distributivos ao nível dos países individuais ou das classes sociais desfavorecidas. , o crescimento da pobreza mesmo nos países mais ricos, a centralização das decisões mais importantes em algumas empresas multinacionais, a crescente instabilidade e turbulência nos mercados monetários e financeiros, as mudanças ambientais irreversíveis, os movimentos populacionais incontroláveis, a insegurança alimentar, a propagação da corrupção.

As empresas multinacionais, um formidável veículo de crescimento, correm o risco de representar um perigo para a democracia, uma vez que aspectos importantes da soberania do Estado já estão a enfraquecer. Não é por acaso que as autoridades e os organismos de controlo se desenvolvem em todo o lado, garantindo a manutenção das condições de concorrência. No que diz respeito aos fluxos financeiros internacionais, existe, portanto, um consenso cada vez mais amplo sobre a necessidade de uma jurisdição a nível global que possa regular os movimentos especulativos de curto prazo, eliminar o chamado risco moral e recompor a supervisão demasiado fragmentada a níveis mais amplos.

Embora a nível nacional (agora europeu) ninguém duvide que o controlo do dinheiro deve ser realizado pela autoridade, na economia global a criação de dinheiro e dos seus substitutos para utilizações internacionais é deixada ao mercado. Isto alimenta uma instabilidade sistémica que prejudica o desenvolvimento e acentua questões sobre o significado e os rumos dessa força dinâmica, feita de flexibilidade e adaptabilidade, que é a economia capitalista global.

Não há dúvida de que existem vantagens decorrentes de uma maior liberdade de escolha e de uma concorrência econômica mais viva, quando, no entanto, isso é acompanhado em todo o lado pelo respeito pelas regras. Pode certamente haver um dividendo: o desafio reside em torná-lo eficaz e, acima de tudo, em fazer com que todos participem, colocando mesmo os países mais pobres no caminho de uma integração justa e eficiente.

Não faltam problemas. Os custos do ajustamento (as reformas necessárias) não serão nem leves nem de curto prazo. O crescimento do desemprego será tanto mais acentuado quanto mais rígida for a utilização de mão-de-obra menos qualificada e quanto maior for a produtividade do capital subjacente à inovação tecnológica. No fundo pesará a realocação espacial de recursos em curso (deslocalização das fases de produção e importações de áreas de baixo custo).

A nível financeiro, a dimensão e a volatilidade dos movimentos de capitais já desencadearam crises de grande alcance (desde a do México em 1994 até às dificuldades mais recentes na Ásia, na Rússia e na América Latina). Podemos recordar, por último mas não menos importante, as dificuldades da política económica e a já mencionada erosão da soberania do Estado.

Com tudo isto, a globalização não parece opcional em comparação com outros cenários.
As restrições sistêmicas são frutos do voluntarismo político. A revogação de sistemas resultantes de decisões concertadas não teria êxito e atrairia sanções.

Os recuos protecionistas no comércio só poderiam levar a condições de ingovernabilidade a nível global e ampliar as grandes disparidades que ainda existem entre os vários países. Muitos dos efeitos que consideramos negativos teriam ocorrido de qualquer maneira, como resultado das novas condições tecnológicas, sociais e de aspiração das pessoas.

Certamente há uma acentuação desses efeitos. No entanto, é preciso dizer que, embora no século passado tendessem a persistir, as fortes reações de hoje obrigam muitas vezes aqueles que não têm regras a atribuí-las a si próprios. A cultura, a religião, as experiências passadas, o aumento da consciencialização fazem com que alguns comportamentos deixem de ser aceites, enquanto as forças psicológicas e sociais levam à adopção de acordos voluntários e de regras mais humanas e civis. É então mais provável que os efeitos negativos resultem em equilíbrios mais avançados: especialmente se os comportamentos individuais e sociais se tornarem mais coerentes e maduros e se as fortes pressões dos cidadãos com valores induzirem os governos a implementarem políticas que sejam mais sensíveis às evidências atuais.

A globalização pode, portanto, tornar-se uma oportunidade capaz de tornar mais virtuosa a colaboração entre homens e nações. Certamente, é o método mais incisivo para combater os privilégios e as rendas posicionais que se aninham em diferentes países. Contudo, a globalização não deve ser um álibi fácil para nos fecharmos atrás das forças impessoais do mercado ou, pior ainda, para tirarmos vantagens indevidas da ausência de regulamentações precisas. Num mundo cada vez mais interligado do ponto de vista económico, tecnológico e financeiro, é necessária uma mudança significativa e convicta no comportamento individual. Todos os atores económicos (empresários e gestores, unidades de consumo, sindicatos, investidores financeiros, decisores públicos) devem sentir-se envolvidos nas suas respectivas esferas de autonomia,

Só uma tal redefinição de comportamento poderá tornar a globalização mais favorável e compatível com os objetivos de crescimento harmonioso da comunidade mundial. Devem ser acompanhadas de inovações institucionais.

Na verdade, duas grandes dinâmicas, a integração e a cooperação internacional, procuram hoje mediar a liberdade nos mercados e nas regras institucionais. A integração viu nascer zonas de comércio livre e uniões aduaneiras (EFTA, NAFTA), mercados comuns (CEE) e, mais recentemente, a União Monetária Europeia.

A cooperação assistiu ao aumento e ao crescimento do papel dos organismos responsáveis ​​pela cooperação comercial (GATT, OMC), pela cooperação monetária ou financeira (Fundo Monetário Internacional, Banco de Pagamentos Internacionais) e pela cooperação para o desenvolvimento (Banco Mundial, BEI). Sem esquecer o G7 que se prepara para se tornar o G20: também este é um caminho que poderá levar a uma interpenetração e a uma solidariedade internacionais cada vez maiores.

Fonte: http://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF