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domingo, 3 de setembro de 2023

São Gregório Magno

São Gregório Magno (A12)

03 de setembro

São Gregório Magno

Gregório nasceu no ano 540 em Roma. Sua família, de sobrenome Anícia, tradicional na alta corte romana, era rica, poderosa e influente; seu pai, que havia sido senador e prefeito da cidade, participava ativamente do seu governo. Além disso, ele viveu e foi educado num ambiente cristão: as três mulheres mais responsáveis pela sua formação espiritual e cultural, a mãe Silvia e as tias paternas Emiliana e Tarsila, são santas canonizadas. A mansão familiar erguia-se num dos lados do monte Célio, lugar privilegiado no centro da Roma antiga, de onde se avistavam, já naquela época, ruínas da antiga grandeza romana, causadas por catástrofes naturais e pelas invasões bárbaras.

De fato, durante mais de 150 anos, a península italiana foi invadida por hordas estrangeiras, que sucessivamente saquearam e dizimaram Roma: em 410, os visigodos; em 455, os vândalos; em 472, os suevos e burgúndios; em 476, os germanos; em 489, os ostrogodos; a partir de 526, godos e bizantinos ali se bateram por mais de duas décadas; por fim, os bizantinos a serviço de Constantinopla, sob o imperador Justiniano, derrotaram os ostrogodos, que haviam invadido Roma em 546, período da infância de Gregório. Seguiu-se um tempo de relativa paz que permitiu a Gregório, seguindo a tradição familiar, cursar a carreira jurídica.

De inteligência e capacidade organizativa superiores, Gregório destacou-se nos meios cultos da época, e aos 30 anos foi nomeado prefeito de Roma, exercendo o cargo com austeridade e honestidade, seguindo seus princípios católicos. Mas já nesta época, nova invasão ocorreu na Itália: em 568, os lombardos, que haviam adotado a heresia ariana (a qual considerava Jesus inferior ao Pai), e cujo método de ação era a violência extrema, com a eliminação metódica das elites latinas, conquistaram o norte do país. Inúmeros sobreviventes foram para Roma; entre eles, monges beneditinos de Montecassino, o primeiro mosteiro fundado por São Bento. Gregório doou a eles um palácio da família no monte Célio, onde fundaram o mosteiro de Santo André. A frequente convivência com eles levou Gregório a se tornar religioso.

Durante a sua atividade civil, Gregório já sentia o chamado da vocação monacal, e tendo concluído seu mandato em 575, ingressou no mosteiro de Santo André. Foi o melhor período da sua vida, como admitiu depois, quando pôde dedicar-se ao silêncio, à oração, à meditação da Palavra de Deus e às leituras sagradas. Depois de quatro anos, foi ordenado pelo Papa Bento I diácono regional, ou seja, encarregado da administração de uma das regiões eclesiásticas que nessa época dividiam a cidade de Roma. E como suas qualidades não podiam ficar escondidas, não muito tempo depois o novo Papa, Pelágio II, o enviou como Apocrisário (núncio) à capital do Império do Oriente, Constantinopla.

Passou ali seis anos lidando com as dificuldades da corte e no firme combate às influências das heresias monofisita (Cristo só teria a natureza divina, mas não a humana) e nestoriana (Cristo não seria uma única pessoa, com natureza divina e humana, mas duas pessoas, o Jesus humano o Logos divino), e conseguindo manter um estilo de vida monástico, além de escrever, neste período, a maior parte da sua obra literária. Voltou a Roma por volta de 585, sendo eleito abade em Santo André, e neste cargo ficou conhecido pela sua caridade, dedicação, firmeza e austeridade.

Em 589 chuvas de intensidade absurda provocaram uma calamidade em Roma, com destruição e fome, seguidas por uma epidemia devastadora de peste bubônica, da qual morreu o Papa Pelágio II. O clero, o senado e o povo, unanimemente, aclamaram Gregório como o novo Papa; ele, sentindo-se indigno do cargo, fugiu para as montanhas e florestas vizinhas, até ser achado e então, humildemente reconhecendo a vontade de Deus, ser sagrado em 590. Não quis receber outro título senão o de servus servorum Dei — servo dos servos de Deus.

Gregório I assumiu o pontificado numa época de caos civil e abalos heréticos na Igreja. Ele reconheceu a sua época como uma de transição, do fim do ius civitatis romano (conjunto de direitos e deveres de um indivíduo em relação à comunidade em que vive) a ser substituído pelo donum caritatis cristão (presente da caridade), se é que a civilização ocidental deveria continuar. Procurou assim elevar os espíritos às realidades sobrenaturais, para que vivessem os acontecimentos temporais sob uma perspectiva eterna; e desse modo fez o transporte definitivo da Europa pagã do mundo antigo para a nova civilização cristã sob o Evangelho, regada pelo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador.

A desolação provocada pelos lombardos continuava, e por duas vezes Roma foi por eles sitiada. Nas duas ocasiões, a intervenção de Gregório obteve o levantamento pacífico do cerco. Foram assinadas tréguas, e o Papa empenhou-se na conversão dos invasores da Itália. Conseguiu, com a ajuda da princesa Teodolinda, esposa do chefe lombardo e filha do rei católico da Baviera, o batismo do filho do casal – primeiro passo na futura conversão de todo este povo.

Protegeu os judeus, na Itália, contra a perseguição dos hereges. Na Espanha, Gregório apoiou São Leandro na conversão do rei Recaredo, visigodo e ariano, e por conseguinte desta nação; na Gália, isto é, França, manteve boas relações com os monarcas francos, conseguindo a renovação do clero em decadência, a convocação de sínodos e a extinção de persistentes e cruéis práticas pagãs; e sobretudo obteve a conversão da Grã-Bretanha (Inglaterra), ex-província do império romano, no seu tempo paganizada pelos invasores anglo-saxões: conseguiu o casamento de uma princesa católica francesa com um dos seus reis e enviou inúmeros missionários, destacando-se Santo Agostinho de Cantuária, responsável direto pela conversão de milhares de insulares . Seu desejo caridoso de chamar os infiéis a Cristo, e não de meramente combatê-los, fez florescer no Ocidente a Igreja e “o bom perfume” de Cristo (cf. 2Cor 2,14-15). Fez com que o cristianismo fosse respeitado por sua piedade, prudência e magnanimidade, sendo assim muito amado pelo povo simples e acreditado pelos pagãos.

Não menos importante foi a sua ação dentro da própria Igreja. Levando uma vida monacal, dispensou do palácio pontifício os servidores leigos, o que diminuiu os abusos cortesãos e levianos. Exigiu o trabalho, a disciplina, a moralidade (incluindo a observância do celibato pelo clero) e o respeito às tradições da Doutrina. Reformou a Liturgia, introduzindo a oração do Pai Nosso na Santa Missa, e criando o Canto Gregoriano, próprio para com a dignidade necessária elevar a música como adequado auxílio às orações litúrgicas. Escreveu a Regra Pastoral, como orientação, ainda atual, para a santidade do clero, e várias outras obras: Livro dos Diálogos, para a edificação dos fiéis; Vida de São Bento, Sacramentária Gregoriana, Comentário Sobre Jó, Comentário Sobre I Reis, Homilias sobre Ezequiel, Sermões, Cartas.

A constituição física de Gregório sempre fôra um tanto frágil, e sofreu muito com várias doenças, o que não lhe impediu de permanecer firme nas suas atividades até o falecimento, em 604. A data da sua festa é a da sua consagração Papal. Ficou conhecido como “Magno”, isto é, aquele que é superior a tudo o que lhe é congênere, o que tem importância máxima. Foi declarado Doutor da Igreja.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A obra de São Gregório I é verdadeiramente magna. Deus sempre provê as pessoas certas para as missões necessárias, e o período de afirmação para o início da Idade Média Cristã, que glorificou a Europa e o Catolicismo, irradiando seus bens para o mundo inteiro, tem seu marco no pontificado deste santo Papa. (infelizmente, as ideologias modernistas e ateias fazem de tudo para incutir a ideia de que a Idade Média na Europa foi um “período de trevas” da Humanidade, quando, ao contrário, foi um ápice da civilização e da espiritualidade; certamente este mundo não é e nunca será perfeito após o Pecado Original, e os seres humanos de todas as épocas cometerão erros e pecados, mas sem a civilização católica europeia firmada na Idade Média, e sua benéfica influência no mundo ocidental, a História não conheceria os progressos, espirituais e civilizatórios, de que pôde desfrutar. E que foram perdidos e/ou deturpados posteriormente, até a caótica atualidade, exatamente pela negação progressiva dos valores católicos e seus desdobramentos, depois deste período). Neste sentido, são perenes e esclarecedoras as palavras do próprio São Gregório: “Estamos contemplando a que extremo foi reduzida Roma, a mesma que outrora parecia ser a senhora do mundo! (…) Nela desapareceu todo o esplendor das glórias terrenas. Desprezemos com toda a alma este mundo quase extinto, e imitemos a conduta dos santos”. De acordo com o Primeiro Mandamento da Lei de Deus, São Gregório Magno desejou ardentemente o bem do próximo, sob o amor de Deus, e por isso alcançou um vasto horizonte de conversões e pacificação. Ora, o mesmo devemos fazer nós, os católicos de hoje, visando pela oração, vida santa e apostolado firme, profundo e correto, trazer para o amor de Cristo as hordas de pessoas com pensamento mundano que vagam pelo orbe. O tempo do Reinado de Maria, que Nossa Senhora nos prometeu em 1917, em Fátima, quando por gerações a maior parte da humanidade viverá em estado de graça, vai chegar, e possivelmente não demorará muito; porém entraremos nele ou pela conversão e apaziguamento verdadeiro em Deus, ou pela Sua punição a um mundo perdido e recalcitrante, como já aconteceu na época do Dilúvio. Não existe uma terceira via, portanto o momento de rezar e trabalhar, especialmente através da santificação pessoal, é agora. Este trabalho inclui, naturalmente, a santificação da própria Igreja, nos seus membros, e por isso atenção muito particular deve ser dada à Tradição, à Doutrina, à Liturgia, à sã Teologia. A dignidade e seriedade das celebrações litúrgicas, com ênfase na Santa Missa, é uma necessidade primordial. Daí a formação indispensável, do clero e dos fiéis, para a importância de tesouros eclesiásticos como o uso do Latim (aliás, língua oficial da Igreja, portanto nada mais natural que seja ensinada e conhecida) e do Canto Gregoriano (igualmente oficial no uso da Igreja), por exemplo. A verdadeira inculturação não significa tornar indigno o que é sacro, mas elevar o que é humano ao sobrenatural, também e necessariamente pela via da Cultura, da Arte.

Oração:

Senhor, Pai Eterno, que fostes o primeiro a servir, por amor gratuito, às Vossas criaturas, começando por dar a elas a sua mesma existência, concedei-nos pela intercessão e exemplos de São Gregório Magno resistir às invasões da barbárie moderna, buscando unicamente sermos como ele servos dos servos de Deus pelos Mandamentos e Sacramentos da Igreja, de modo a abandonar o que é pagão e antigo, para construir este mundo sobre a Boa Nova de Cristo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF