03 de setembro
São Gregório Magno
Gregório nasceu no ano 540 em Roma. Sua família, de
sobrenome Anícia, tradicional na alta corte romana, era rica, poderosa e
influente; seu pai, que havia sido senador e prefeito da cidade, participava
ativamente do seu governo. Além disso, ele viveu e foi
educado num ambiente cristão: as três mulheres mais responsáveis pela sua
formação espiritual e cultural, a mãe Silvia e as tias paternas Emiliana e
Tarsila, são santas canonizadas. A mansão familiar erguia-se num dos
lados do monte Célio, lugar privilegiado no centro da
Roma antiga, de onde se avistavam, já naquela época, ruínas da
antiga grandeza romana, causadas por catástrofes naturais e pelas invasões
bárbaras.
De fato, durante mais de 150 anos, a península
italiana foi invadida por hordas estrangeiras, que sucessivamente
saquearam e dizimaram Roma: em 410, os visigodos; em
455, os vândalos; em 472, os suevos e burgúndios; em 476, os germanos; em 489,
os ostrogodos; a partir de 526, godos e bizantinos ali se
bateram por mais de duas décadas; por fim, os bizantinos a serviço de
Constantinopla, sob o imperador Justiniano, derrotaram os
ostrogodos, que haviam invadido Roma em 546, período da infância de Gregório.
Seguiu-se um tempo de relativa paz que permitiu a Gregório, seguindo a tradição
familiar, cursar a carreira jurídica.
De inteligência e capacidade organizativa superiores,
Gregório destacou-se nos meios cultos da época, e aos 30 anos foi nomeado prefeito de Roma, exercendo o cargo com
austeridade e honestidade, seguindo seus princípios católicos. Mas
já nesta época, nova invasão ocorreu na Itália: em 568, os lombardos, que
haviam adotado a heresia ariana (a qual considerava Jesus inferior ao
Pai), e cujo método de ação era a violência extrema, com a eliminação
metódica das elites latinas, conquistaram o norte do país. Inúmeros
sobreviventes foram para Roma; entre eles, monges beneditinos de Montecassino,
o primeiro mosteiro fundado por São Bento. Gregório doou a eles um palácio
da família no monte Célio, onde fundaram o mosteiro de Santo André. A
frequente convivência com eles levou Gregório a se tornar religioso.
Durante a sua atividade civil, Gregório já sentia o
chamado da vocação monacal, e tendo concluído seu mandato em 575, ingressou no
mosteiro de Santo André. Foi o melhor período da sua
vida, como admitiu depois, quando pôde dedicar-se ao silêncio, à oração, à meditação
da Palavra de Deus e às leituras sagradas. Depois de quatro
anos, foi ordenado pelo Papa Bento I diácono regional, ou seja, encarregado da
administração de uma das regiões eclesiásticas que nessa época dividiam a
cidade de Roma. E como suas qualidades não podiam ficar
escondidas, não muito tempo depois o novo Papa, Pelágio II, o
enviou como Apocrisário (núncio) à capital do Império do Oriente,
Constantinopla.
Passou ali seis anos lidando com as dificuldades da
corte e no firme combate às influências das heresias monofisita (Cristo só teria a natureza divina, mas não a humana) e
nestoriana (Cristo não seria uma única pessoa, com
natureza divina e humana, mas duas pessoas, o Jesus humano o Logos divino),
e conseguindo manter um estilo de vida monástico, além de escrever, neste
período, a maior parte da sua obra literária. Voltou a Roma por volta de 585,
sendo eleito abade em Santo André, e neste cargo ficou
conhecido pela sua caridade, dedicação, firmeza e austeridade.
Em 589 chuvas de intensidade absurda provocaram uma
calamidade em Roma, com destruição e fome, seguidas por uma epidemia
devastadora de peste bubônica, da qual morreu o Papa Pelágio II. O clero, o senado e o povo, unanimemente, aclamaram Gregório como
o novo Papa; ele, sentindo-se indigno do cargo, fugiu para as montanhas e
florestas vizinhas, até ser achado e então, humildemente reconhecendo a vontade
de Deus, ser sagrado em 590. Não quis receber outro título senão o de servus servorum Dei — servo dos servos de
Deus.
Gregório I assumiu o pontificado numa época de caos
civil e abalos heréticos na Igreja. Ele reconheceu a sua época como uma de transição, do fim do ius civitatis romano (conjunto de direitos e
deveres de um indivíduo em relação à comunidade em que vive) a ser substituído
pelo donum caritatis cristão (presente da
caridade), se é que a civilização ocidental deveria
continuar. Procurou assim elevar os espíritos às realidades sobrenaturais,
para que vivessem os acontecimentos temporais sob uma perspectiva eterna; e desse modo fez o transporte definitivo da Europa pagã do
mundo antigo para a nova civilização cristã sob o Evangelho, regada
pelo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador.
A desolação provocada pelos lombardos continuava, e
por duas vezes Roma foi por eles sitiada. Nas duas ocasiões, a intervenção de
Gregório obteve o levantamento pacífico do cerco. Foram assinadas tréguas, e o Papa empenhou-se na conversão dos
invasores da Itália. Conseguiu, com a ajuda da princesa Teodolinda,
esposa do chefe lombardo e filha do rei católico da Baviera, o batismo do filho
do casal – primeiro passo na futura conversão de todo este povo.
Protegeu os judeus, na Itália, contra a perseguição
dos hereges. Na Espanha, Gregório apoiou São Leandro na
conversão do rei Recaredo, visigodo e ariano, e por conseguinte desta nação; na
Gália, isto é, França, manteve boas relações com os monarcas
francos, conseguindo a renovação do clero em decadência, a convocação de
sínodos e a extinção de persistentes e cruéis práticas pagãs; e sobretudo
obteve a conversão da Grã-Bretanha (Inglaterra), ex-província do império romano, no seu tempo paganizada pelos
invasores anglo-saxões: conseguiu o casamento de uma princesa católica francesa com
um dos seus reis e enviou inúmeros missionários, destacando-se Santo Agostinho de Cantuária, responsável direto pela
conversão de milhares de insulares . Seu desejo caridoso de chamar os infiéis a
Cristo, e não de meramente combatê-los, fez florescer no Ocidente a Igreja e “o
bom perfume” de Cristo (cf. 2Cor 2,14-15). Fez com que o
cristianismo fosse respeitado por sua piedade, prudência e magnanimidade, sendo
assim muito amado pelo povo simples e acreditado pelos pagãos.
Não menos importante foi a sua ação dentro da
própria Igreja. Levando uma vida monacal, dispensou do palácio pontifício os
servidores leigos, o que diminuiu os abusos cortesãos e levianos. Exigiu o trabalho, a disciplina, a moralidade (incluindo a
observância do celibato pelo clero) e o respeito às tradições da Doutrina.
Reformou a Liturgia, introduzindo a oração do Pai Nosso na Santa Missa, e
criando o Canto Gregoriano, próprio para com a dignidade necessária elevar a
música como adequado auxílio às orações litúrgicas. Escreveu a Regra Pastoral, como orientação, ainda atual, para a
santidade do clero, e várias outras obras: Livro dos Diálogos,
para a edificação dos fiéis; Vida de São Bento, Sacramentária Gregoriana,
Comentário Sobre Jó, Comentário Sobre I Reis, Homilias sobre Ezequiel, Sermões,
Cartas.
A constituição física de Gregório sempre fôra um
tanto frágil, e sofreu muito com várias doenças, o que não lhe impediu de
permanecer firme nas suas atividades até o falecimento, em 604. A data da sua festa é a da sua consagração Papal.
Ficou conhecido como “Magno”, isto é, aquele que é superior a tudo o que lhe é
congênere, o que tem importância máxima. Foi declarado Doutor da Igreja.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
A obra de São Gregório I é
verdadeiramente magna. Deus sempre provê as pessoas certas para as missões
necessárias, e o período de afirmação para o início da Idade Média Cristã, que
glorificou a Europa e o Catolicismo, irradiando seus bens para o mundo inteiro,
tem seu marco no pontificado deste santo Papa. (infelizmente, as ideologias
modernistas e ateias fazem de tudo para incutir a ideia de que a Idade Média na
Europa foi um “período de trevas” da Humanidade, quando, ao contrário, foi um
ápice da civilização e da espiritualidade; certamente este mundo não é e nunca
será perfeito após o Pecado Original, e os seres humanos de todas as épocas
cometerão erros e pecados, mas sem a civilização católica europeia firmada na
Idade Média, e sua benéfica influência no mundo ocidental, a História não
conheceria os progressos, espirituais e civilizatórios, de que pôde desfrutar.
E que foram perdidos e/ou deturpados posteriormente, até a caótica atualidade,
exatamente pela negação progressiva dos valores católicos e seus
desdobramentos, depois deste período). Neste sentido, são perenes e
esclarecedoras as palavras do próprio São Gregório: “Estamos contemplando a que
extremo foi reduzida Roma, a mesma que outrora parecia ser a senhora do mundo!
(…) Nela desapareceu todo o esplendor das glórias terrenas. Desprezemos com
toda a alma este mundo quase extinto, e imitemos a conduta dos santos”. De
acordo com o Primeiro Mandamento da Lei de Deus, São Gregório Magno desejou
ardentemente o bem do próximo, sob o amor de Deus, e por isso alcançou um vasto
horizonte de conversões e pacificação. Ora, o mesmo devemos fazer nós, os
católicos de hoje, visando pela oração, vida santa e apostolado firme, profundo
e correto, trazer para o amor de Cristo as hordas de pessoas com pensamento
mundano que vagam pelo orbe. O tempo do Reinado de Maria, que Nossa Senhora nos
prometeu em 1917, em Fátima, quando por gerações a maior parte da humanidade
viverá em estado de graça, vai chegar, e possivelmente não demorará muito;
porém entraremos nele ou pela conversão e apaziguamento verdadeiro em Deus, ou
pela Sua punição a um mundo perdido e recalcitrante, como já aconteceu na época
do Dilúvio. Não existe uma terceira via, portanto o momento de rezar e
trabalhar, especialmente através da santificação pessoal, é agora. Este trabalho
inclui, naturalmente, a santificação da própria Igreja, nos seus membros, e por
isso atenção muito particular deve ser dada à Tradição, à Doutrina, à Liturgia,
à sã Teologia. A dignidade e seriedade das celebrações litúrgicas, com ênfase
na Santa Missa, é uma necessidade primordial. Daí a formação indispensável, do
clero e dos fiéis, para a importância de tesouros eclesiásticos como o uso do
Latim (aliás, língua oficial da Igreja, portanto nada mais natural que seja
ensinada e conhecida) e do Canto Gregoriano (igualmente oficial no uso da
Igreja), por exemplo. A verdadeira inculturação não significa tornar indigno o
que é sacro, mas elevar o que é humano ao sobrenatural, também e
necessariamente pela via da Cultura, da Arte.
Oração:
Senhor, Pai Eterno, que fostes o primeiro a servir, por amor gratuito, às Vossas criaturas, começando por dar a elas a sua mesma existência, concedei-nos pela intercessão e exemplos de São Gregório Magno resistir às invasões da barbárie moderna, buscando unicamente sermos como ele servos dos servos de Deus pelos Mandamentos e Sacramentos da Igreja, de modo a abandonar o que é pagão e antigo, para construir este mundo sobre a Boa Nova de Cristo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
Fonte: https://www.a12.com/
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