30 de setembro
São Jerônimo
Sofrônio Eusébio Jerônimo
nasceu em Estridão ou Estridônia, entre a Dalmácia e a Panônia (atualmente uma
região entre Croácia e Hungria), entre os anos 340 e 347. Sua família era católica, culta e rica, e ele, filho único, teve a
oportunidade de estudar em Roma, onde estudou Retórica, Oratória e Gramática
com grandes mestres, além de Filosofia, e da dedicação à leitura de
grandes autores, como Virgílio, Terêncio, Cícero e Platão.
Entregou-se a uma vida um
tanto desregrada, mas, arrependendo-se, voltou à Fé da infância passou a se
dedicar unicamente aos estudos dos textos santos. Foi batizado já adulto, como era costume na época, por volta dos
25 anos. Formou uma grande biblioteca. Seguiu para Tréveros,
uma das mais conceituadas academias do Ocidente, para estudar Teologia. Em
seguida, viajou para a Gália, atual França, onde se uniu a um grupo de monges.
Formou ali uma comunidade dedicada ao estudo da Bíblia e das obras teológicas.
Por volta de 373-374
peregrinou à Terra Santa, mas uma doença o reteve durante muito tempo em
Antioquia (atualmente Antáquia na Turquia), onde aprendeu o Grego. Seu temperamento forte e radical o levou a buscar uma vida
eremítica no deserto de Cálcida, na Síria. Ali com muita
dificuldade, esforço e empenho, aprendeu Hebraico com um convertido judeu. Sua
vida ascética, de jejuns e orações, era tão extrema que quase morreu.
Depois de uns quatro anos,
em 379, em Antioquia, aceitou o sacerdócio pelas mãos
do bispo Paulino, mas somente após a promessa de que não teria trabalhos
pastorais: sua vocação era a vida eremítica/monacal centrada na
ascese, oração e estudos. Seguindo para Constantinopla,
atual Istambul na Turquia, conheceu São Gregório Nazianzeno, que lhe
estimulou ainda mais o amor pelo estudo das Sagradas Escrituras.
Chamado pelo Papa São Dâmaso
I a Roma, em 382, para participar de um sínodo, acabou
como seu secretário particular e incumbido por ele de traduzir a Bíblia para o
Latim, uma vez que sua erudição, firmeza doutrinária e conhecimento do Grego e
do Hebraico, as línguas originais das Escrituras, o tornavam
particularmente apto a fazer este grandioso e necessário serviço. Iniciou o
trabalho em Roma, em 383, e só o terminou em Belém da Judéia, entre 404-406, um
período de cerca de 23 anos.
A versão final, conhecida
por Vulgata (do Italiano “comum”, “corrente”, isto é acessível à leitura mais
popular na Europa), embora não seja na íntegra de sua lavra, é a primeira tradução para o Latim, e a base para todas as
traduções nas línguas modernas. Durante séculos foi a
referência da Igreja, aprovada e oficializada no Concílio de Trento
(1545-1563). E ainda hoje, embora revisada, é o texto oficial da Igreja de
língua latina. Isto porque é extremamente fiel aos textos originais, além de
apresentar riqueza de informações pertinentes.
Santo Isidoro de Sevilha (cerca de 560 a 636),
na sua monumental obra Etimologias, diz que “Jerônimo
era perito em três línguas, por isso sua interpretação é preferível à dos
outros: ele apreende melhor o sentido das palavras e suas expressões são claras
e transparentes. Além do que, sendo cristão, sua interpretação é verdadeira”.
Jerônimo ficou em Roma até
385, partindo depois para Jerusalém, acompanhado de Santa Paula e outros
peregrinos. Depois de visitarem os lugares santos, ele
viajou para o deserto da Nítria, Egito, visitando colônias monásticas, até
voltar definitivamente para Belém em 386.
Santa Paula era rica, e pôde
ajudar na construção de três mosteiros femininos e um masculino em Belém, no
qual Jerônimo morou por 34 anos. Também foram erguidas hospedarias para os
peregrinos, e ele se dedicou a este acolhimento, à oração, penitência e enorme
atividade literária, além do ensino da cultura clássica e cristã.
A sua grande biblioteca,
formada ao longo dos anos, crescera ainda mais. As
controvérsias dogmáticas da época repercutiram em Belém, e Jerônimo, engajado
nos problemas doutrinários da sua época, sempre defendeu vigorosamente a Fé,
por escritos, sendo um polemista agressivo e eficaz. Os hereges pelagianos
incendiaram seu mosteiro em 414, colocando sua vida e risco, e sucederam-se
ataques dos Hunos, dos montanheses da Isáuria e
dos piratas sarracenos, que obrigaram os monges a fugir temporariamente.
Seus últimos trabalhos foram
relativos à organização do Ofício eclesiástico, com seus cânticos para o ano
todo, por encomenda do Papa São Dâmaso I. Enviado a Roma de Belém, a composição
foi aprovada pelo Sumo Pontífice e pelos cardeais, que determinaram
a sua autenticidade perpétua. Depois disso, mandou construir para si um túmulo
na entrada da gruta do sepulcro de Jesus. Faleceu na sua cela, perto da Gruta
da Natividade, lúcido até o final, com idade entre 80 e 90 anos, no dia 30 de
setembro, por volta do ano 420.
São Jerônimo é o padroeiro dos Estudos
Bíblicos, e o Dia da Bíblia foi colocado no dia da sua morte. É também patrono das Escolas
Superiores e Faculdades Teológicas. Além dos Santos Ambrósio, Agostinho e
Gregório Magno, é também um dos quatro Padres da Igreja Ocidental com o título
de Doutor da Igreja.
Sendo um autor de cultura
enciclopédica, sua vasta obra inclui, além da Vulgata, biografias de 135 outros
autores, cristãos, judeus e pagãos, no livro De Viris Illustribus, o Chronicon,
sobre a História Universal desde o nascimento de Abraão
até o ano 325 (uma tradução e reelaboração em Latim de uma obra em Grego),
comentários, homilias, epístolas, tratados e cartas, muitas delas em
correspondência com Santo Agostinho.
Seu temperamento e
personalidade muito fortes gerava ódio nos inimigos e amor nos amigos, como por
exemplo o carinho que lhe foi registrado por Santo Agostinho e pelo
bem-aventurado Próspero. Um discípulo de São Martinho, Sulpício
Severo, dele escreve: “… Jerônimo (...), cujos combates e lutas contra os maus
eram incessantes.
Os hereges o odiaram porque
ele sempre os atacou; os clérigos, porque sempre lhes repreendeu os crimes e a
maneira de viver. Mas todas as pessoas de bem o admiravam e
amavam. (...) Ele está sempre lendo, sempre no meio dos livros, sempre lendo ou
escrevendo, não repousa nem de dia nem de noite.”
De si próprio, São
Jerônimo deixou registrado: “Dou graças a Deus de ser
digno do ódio do mundo. Falam de mim como de um malfeitor, mas sei que, para
chegar ao Céu, é preciso suportar tanto a boa quanto a má reputação”.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Independentemente de
qualquer outra obra, a Vulgata já daria a São Jerônimo um lugar especialíssimo
entre os maiores escritores católicos e santos de todos os tempos, sendo para
sempre merecedor de um agradecimento sem medida pela Igreja. O Papa São Dâmaso
I, no seu tempo, percebeu o perigo gravíssimo que a falta de uma leitura
correta da Bíblia poderia trazer, com deturpações monstruosas passando-se por
“palavras de Deus”, e afastando as almas da salvação. Também hoje há inúmeras
traduções bíblicas suspeitas, outras com erros graves mesmo, e portanto vale a
pena o católico buscar com prudência o que lhe está sendo oferecido como
inspirado pelo Espírito Santo. Como escreveu São Jerônimo, “Cristo é o poder de
Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras, ignora o poder e a
sabedoria de Deus; portanto, ignorar as Escrituras Sagradas é ignorar a
Cristo.” A formação, o estudo e o ensino da Doutrina, que obviamente remete à
Bíblia, não é um luxo para os fiéis, mas sim uma necessidade fundamental, especialmente
nos dias atuais, onde tão facilmente a divulgação de erros é não só permitida
como fomentada. Enfim, se não na mesma forma dos jejuns, penitências e cansaços
extremos de São Jerônimo, somos todos, os católicos, obrigados em consciência a
viver, como ele, a radicalidade na vivência e na defesa da Fé, e para isso
precisamos conhecê-la corretamente. A imensa caridade de São Jerônimo, na sua
santa preocupação e santo empenho de escrever a Verdade para os irmãos, também
se manifestou nos oferecimentos das suas aspérrimas penitências, e no carinho
com que acolheu os peregrinos na Terra Santa, preocupando-se em providenciar
hospedarias para eles. E belíssima é a sua declaração “...para chegar ao Céu, é
preciso suportar tanto a boa quanto a má reputação.” – pois revela não apenas a
sua disposição de enfrentar as injustiças por causa de Jesus, mas também a
profunda humildade, que é a primeira e mais necessária das virtudes, para não
se deixar levar pela vaidade, particularmente como intelectual que era, pois é
notório que grandes pensadores e acadêmicos sofrem facilmente as seduções da
vanglória. E não poucos, por causa disso, querendo transmitir não com
fidelidade a Palavra de Deus, mas a sua própria “interpretação”, entregam-se a
“releituras” das coisas da Igreja, cuja inspiração vem de outro espírito que
não é o Santo.
Oração:
Senhor Deus, cuja perfeição é imutável, e que nos quisestes transmitir a Verdade do Vosso infinito amor, concedei-nos por intercessão de São Jerônimo a graça de, neste mesmo amor, buscar sinceramente o Vosso conhecimento, e com coragem enfrentarmos as asperezas, os antagonismos e as tentações do deserto desta vida, na certeza de que a fidelidade a Vós, na caridade também do apostolado aos irmãos, nos levará a repousar infinitamente junto ao lugar de onde constantemente nasceis para nós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
Fonte: https://www.a12.com/
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