No dia em que Francisco nos
convida a dedicar ao clamor pela reconciliação no Oriente Médio, lembremos as
circunstâncias em que o Sucessor de Pedro mobilizou espiritualmente católicos e
não católicos para pedir o dom da fraternidade. Da Síria ao Sudão do Sul e ao
Congo, do Líbano ao Afeganistão, o apelo do Pontífice é para dizer não à
violência, "uma derrota para a humanidade".
Antonella
Palermo - Cidade do Vaticano
A busca
pela paz como um "incômodo" que não deixa o coração descansar. Foi
isso que, nos dez anos de seu pontificado, o Papa Francisco se empenhou em
fazer, sem perder uma oportunidade, convidando várias vezes, tanto cristãos
como não cristãos, a viver dias de jejum e de oração justamente para invocar
esse dom tão precioso.
Jejum e
oração: um binômio no qual um alimenta o outro, reciprocamente, criando um
espaço de descontinuidade dos ritmos cotidianos e uma postura aberta à
acolhida. Experimentar uma condição de fraqueza é uma forma de desarmamento,
uma consciência do sofrimento alheio que estimula a empatia e a fraternidade,
um sentimento de privação que afasta o egocentrismo e convida a se sentir
vinculado, e não em conflito, com o outro.
7 de setembro de 2013: paz na Síria, acabem com o barulho das armas
Era 2012, a
guerra civil na Síria estava se intensificando: 75% dos rebeldes contra o
regime no poder tinham um componente salafista extremista, e o conflito estava
se tornando regional. Em 7 de setembro, o Papa Francisco convocou o que hoje
lembramos como o primeiro Dia de Oração e Jejum pela paz "na amada nação da
Síria, no Oriente Médio, no mundo inteiro!". Na vigília no
sagrado da Praça São Pedro, milhares de pessoas se reuniram para direcionar seu
olhar interior para essa mesma região que ainda hoje sofre as consequências da
destruição, da dor e da morte. "O mundo de Deus é um mundo em que cada um
se sente responsável pelo outro, pelo bem do outro", lembrou o Papa.
"Quando a harmonia é quebrada, acontece uma metamorfose: o irmão a ser
protegido e amado se torna o adversário a ser combatido, a ser suprimido."
Em seguida, a denúncia ao fato de que "aperfeiçoamos nossas armas, nossa
consciência adormeceu, tornamos mais sutis nossas razões para nos
justificar". E o grito: "A violência e a guerra só trazem morte,
falam de morte! [...] a guerra é sempre uma derrota para a humanidade".
23 de fevereiro de 2018: Sudão do Sul e República Democrática do Congo,
não à violência
Era a
primeira sexta-feira da Quaresma. O Papa e a Cúria Romana estavam concluindo os
exercícios espirituais no que havia sido pensado como um dia especial de jejum e oração pelos povos sul-sudanês e
congolês. A preocupação do Pontífice por esses dois países, onde
apenas cinco anos depois seria realizada a tão desejada viagem apostólica,
ainda se expressava no convite a semear a paz nos lugares onde a guerra civil e
a instabilidade política, ao contrário, semeiam morte, insegurança e terror. Já
em 23 de novembro de 2017, o sucessor de Pedro participou, na Basílica
Vaticana, da iniciativa de oração por essas nações, pedindo também aos não
católicos e não cristãos que encontrassem formas adequadas para "dizer concretamente
'não' à violência". "Porque", advertiu o Papa, "as vitórias
obtidas por meio da violência são falsas vitórias; enquanto trabalhar pela paz
é bom para todos!". Seus pensamentos naquela ocasião se dirigiram
especialmente às mulheres que são vítimas de violência em zonas de guerra, às
"crianças que sofrem por causa de conflitos aos quais são alheias, mas que
lhes roubam a infância e, às vezes, até a vida". O apelo era para que
fossem eliminadas todas as formas de hipocrisia, mantendo o silêncio ou negando
os massacres de mulheres e crianças. "Aqui", denunciou o Papa,
"a guerra mostra sua face mais horrível". E então o apelo aos
governantes para que fossem permeados por um espírito nobre, íntegro, firme e
corajoso na busca pela paz, "por meio do diálogo e da negociação".
4 de setembro de 2020: reconstruir o Líbano, para o bem comum
Um mês após
a tragédia que atingiu o Líbano, com a explosão no porto da cidade de Beirute,
durante a Audiência Geral de 2 de setembro de 2020, o Papa
Francisco convocou um dia universal de jejum e oração a ser dedicado em
solidariedade, em 4 de setembro, ao País dos Cedros. Porque, como
repetiu São João Paulo II em 1989, "o Líbano não pode ser abandonado em
sua solidão". Nesse caso, embora não houvesse nenhum conflito em
andamento, a estabilidade política, econômica e social do país estava em risco.
Considerando que a tolerância, o respeito, a coexistência e o pluralismo
moldaram a sociedade libanesa, tornando-a única na região, "para o bem do
país", disse Francisco, "mas também do mundo, não podemos permitir
que esse patrimônio se disperse". O encorajamento foi para continuar a ter
esperança e encontrar a força necessária para recomeçar. O pedido aos políticos
e líderes religiosos foi para que "se engajem com sinceridade e
transparência no trabalho de reconstrução, deixando de lado os interesses
partidários e olhando para o bem comum e o futuro da nação". Para a
comunidade internacional, a exortação do Pontífice para apoiar o país e
ajudá-lo a sair da grave crise. No dia 4 de setembro, seria o cardeal Parolin
quem representaria o Papa no país do Oriente Médio e levaria sua mensagem para
que o Líbano "realize sua vocação de fraternidade".
29 de agosto de 2021: apelo pelo povo afegão "tão
provado"
"Intensificar
a oração e praticar o jejum, a oração e o jejum, a oração e a penitência, este
é o momento de fazê-lo": assim disse o Papa Francisco no Angelus do último
domingo de agosto, há dois anos, no auge da crise no Afeganistão. Para o país asiático,
que estava passando por semanas terríveis com o retorno violento do Talibã ao
poder, o pontífice recomendou que se pedisse misericórdia e perdão ao Senhor.
"Estou falando sério", especificou na ocasião, convencido de que a
oração e o jejum são eficazes se observados com sinceridade de fé, e que
portanto devem ser levados a sério. Portanto, não foi anunciada nenhuma data
específica para se reunir dessa maneira, mas o povo de Deus foi mobilizado para
não mostrar indiferença a uma população "tão provada". E também neste
caso, a preocupação do Papa foi, acima de tudo, com as mulheres e as crianças,
a quem pediu que não se esgotasse o envio de sua ajuda e de sua acolhida. A
Comunidade de Santo Egídio, acolhendo com particular solicitude o convite de
Bergoglio, reuniu-se no dia 15 de setembro em Roma, no coração do Trastevere,
segundo as intenções do Pontífice, na certeza de que o jejum e a oração não são
experiências anacrônicas ou espiritualistas.
2 de março de 2022: paz na Ucrânia, Deus nos quer irmãos, não inimigos
"Que a Rainha da Paz preserve o mundo da loucura da guerra": as palavras de Francisco na Audiência Geral de 23 de fevereiro do ano passado, quando o cenário na Ucrânia parecia estar comprometido. O anúncio do Papa foi o de viver a Quarta-feira de Cinzas, 2 de março, fazendo oração e jejum pela paz no país. Palavras tragicamente proféticas: no dia seguinte ao apelo, o exército russo invadiu a nação ucraniana. Que aqueles com responsabilidade política façam um sério exame de consciência diante de Deus, disse o sucessor de Pedro, que "é o Deus da paz e não da guerra, o Pai de todos, não apenas de alguns, que quer que sejamos irmãos e não inimigos. Rezo a todas as partes envolvidas", continuou o Pontífice, "para que se abstenham de qualquer ação que cause ainda mais sofrimento às populações, desestabilizando a convivência entre as nações e desacreditando o direito internacional". Muitos outros, dezenas e dezenas de apelos de cortar o coração, viriam a seguir. E o povo de Deus não se cansa de vigiar e implorar, ainda, por misericórdia, conversão e reconciliação.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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