"Hoje está claro que na
liturgia se ventila uma nova compreensão de Deus, da Igreja e do mundo. Na
nossa relação com Cristo, com a Igreja, com os outros e conosco mesmo, no campo
da liturgia, buscamos entender o destino da fé e da Igreja", afirmou em
Porto Alegre o subsecretário do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina
dos Sacramentos, dom Aurelio García Macías.
Jackson
Erpen - Cidade do Vaticano
No âmbito
do Sínodo sobre a sinodalidade, cuja primeira fase foi concluída no domingo 29
de outubro, padre Gerson Schmidt* nos propôs algumas reflexões
sobre "liturgia e
sinodalidade". Neste contexto, trazemos as palavras do cardeal
austríaco Christoph Schönborn O.P., durante o briefing sobre o
Sínodo de 23 de outubro, realizado na Sala de Imprensa da Santa
Sé:
“Um aspecto que descobrimos mais
neste Sínodo, nesta Assembleia Sinodal é aquilo que as Igrejas Orientais – das
quais sou muito próximo - sempre viveram. Sinodalidade sem liturgia não existe,
porque o coração da sinodalidade é a assembleia dos fiéis, e a assembleia não é
um lugar de debates, em primeiro lugar, mas é a celebração comum. E portanto, o
que estamos vivendo agora nesta fase do Sínodo, de ter a peito a liturgia, a fé
celebrada, antes de ser a fé discutida.”
No programa
de hoje, o sacerdote gaúcho conclui sua série de reflexões sobre este tema, com
um aprofundamento sobre o Congresso Internacional de Liturgia realizado em
Porto Alegre na PUCRS, em agosto último:
"Nos
próximos três meses, vamos mudar nossa temática e voltar à Constituição
conciliar Sacrossanctum
Concilium, tendo em vista o lançamento da Terceira Edição do
Missal Romano para o Brasil, que acontecerá no Advento desse ano. As semanas
que antecedem o rico tempo do Advento, preparativo para o Natal e início do Ano
Litúrgico, poderão nos preparar para melhor celebrar a liturgia e ver algumas
mudanças também na nova edição do Missal Romano, que tem sua rica tradição na
história celebrativa da Igreja. De início, convém logo dizer que a Igreja no
Brasil não edita um novo missal, linguagem errônea se for utilizada. Realiza
uma Terceira Edição melhorada, com alguns pontos adaptados, segundo à renovação
querida pela Constituição Sacrossanctum Concilium do Concilio
Vaticano II. A liturgia atualiza o mistério de Deus estudado na Teologia.
Antes de
tudo, queremos lembrar alguns pontos importantes que aconteceram em
aprofundamento teológico por meio de um Congresso litúrgico na capital gaúcha,
em Porto Alegre. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS), por meio da Escola da Humanidades e a Comissão de Liturgia da
Arquidiocese de Porto Alegre, promoveram dos dias 28 a 30 de agosto o CONGRESSO
INTERNACIONAL TEOLÓGICO-LITÚRGICO. O evento foi organizado pela Arquidiocese de
Porto Alegre, pelo Curso de Graduação em Teologia e pelo Programa de
Pós-Graduação em Teologia da PUCRS, tendo a frente a equipe arquidiocesana
coordenada por Pe. Gustavo Haas, responsável pelo setor. O congresso teve por
objetivo refletir sobre a intrínseca relação entre a celebração litúrgica (lex
orandi) e a fé da Igreja (lex credendi) no contexto da celebração
dos 60 anos da Sacrosanctum Concilium, da rica Carta
Apostólica Desiderio Desideravi do Papa Francisco e
a publicação da 3ª edição típica do Missal Romano para o Brasil.
Centenas de
participantes estiveram estudando e aprofundando o tema litúrgico no Congresso,
oriundos de todo o Brasil: padres, religiosos, professores, seminaristas,
estudantes, leigos em geral. O Congresso contou com a assessoria renomada de
especialistas em liturgia, de modo particular de dom Aurelio García Macías, do
Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, oriundo da
Espanha, que palestrou em dois momentos sobre “OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO
LITÚRGICA HOJE” e “MISSAL ROMANO: UMA TRADIÇÃO ININTERRUPTA DA LEX ORANDI DA
IGREJA”.
“A
celebração litúrgica forma ou deforma os fiéis”, afirmou dom Aurelio, no
Congresso, também recordando que nos séculos anteriores, a liturgia era um
assunto simplesmente pragmático, para procurar uma forma de celebração mais
acessível ao homem, cuidando das rubricas e vestimentas litúrgicas, do como
celebrar concretamente. Havia uma busca de uma forma mais prática do modo de se
celebrar. Hoje está claro que na liturgia se ventila uma nova compreensão de
Deus, da Igreja e do mundo. Na nossa relação com Cristo, com a Igreja,
com os outros e conosco mesmo, no campo da liturgia, buscamos entender o
destino da fé e da Igreja. “A questão da liturgia nos tem requerido hoje uma
relevância e importância que antes não podíamos prever. Certamente em outras
épocas históricas, as questões teológicas se debatiam em campos diferentes. Por
exemplo: no primeiro milênio, o que preocupava os cristãos foi a Cristologia”,
dizia Dom Aurélio no Congresso. Os Concílios de Niceia e Calcedônia se
preocuparam na definição da natureza de Cristo, declarando-O como
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. “O debate teológico, nos
primeiros séculos e Milênio, estava na Cristologia. Onde estava o debate
teológico no segundo Milênio? Na Eucaristia”, disse o assessor do Dicastério
para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, no evento em Porto Alegre.
Perguntou
aos participantes do Congresso, onde estaria o debate teológico no Terceiro
Milênio, buscando envolver seus ouvintes, deixando uma pausa para reflexão dos
participantes. “Está na liturgia - respondeu. Não são questões litúrgicas
simplesmente, mas questões teológicas”. Citou o cardeal Ratzinger que afirmou
que atualmente no campo da liturgia é que está o destino da fé e da Igreja”.
Bento XVI, no primeiro volume de sua Opera Omnia[1],
afirmou que “na relação com a liturgia se decide o destino da fé e da Igreja”.
No espanhol parece ser mais explicativo essa máxima do cardeal Ratzinger: “«en
el trato que le demos a la liturgia se decide el destino de la fe y de la
Iglesia». Ou seja: no trato, no tratamento que damos à liturgia é que se decide
os rumos da fé e da Igreja. Cristo está presente na Igreja através dos
sacramentos. Deus é o sujeito da história, e não nós. A liturgia não é uma ação
do homem, mas de Deus. A centralidade na liturgia não está no homem, mas na
Glória de Deus. Mas a glória de Deus é a santificação do homem, que passa
também pela liturgia. Podemos concluir com essa máxima, um slogan que diz:
“Se queres reformar o modo como uma comunidade vive, começa por reformar
o modo como reza”."
*Padre
Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além
da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em
Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] BENTO XVI, Dorso do volume XI, “Teologia da Liturgia”, de sua Opera omnia,
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/
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