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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Bem-aventurados os que choram! (Parte 1)

Bem-aventurados os que choram! (iCatólica)

Chorar é diferente de ser triste

Por Giovanni Marques Santos

    Já dizia o poeta Vinícius de Moraes, em seu “Samba da benção”, que “é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz do coração”. E ele está certo: a alegria ilumina a vida. Para os discípulos de Cristo, a alegria é praticamente um mandamento para quem acolhe seu Evangelho: “Eu vos tenho ensinado todas essas coisas para que a minha alegria permaneça em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11). A alegria, a paz, a mansidão são frutos do amor de Deus derramado em nosso coração.

    No entanto, nem só de rosas são feitos os caminhos dos seguidores de Jesus. A todo tempo, estamos expostos aos duros contragolpes da vida, num mundo que se encontra sob pesada influência do mal, do pecado e da morte. Quando menos esperamos, vários males – dificilmente vêm sozinhos – assaltam-nos inesperadamente, perturbando nossa vida, enchendo-nos de sofrimento e aflição. Isso sem falar nos constantes massacres da dignidade humana que nos chegam pelos noticiários todos os dias: guerras, fome, doenças, violência urbana, consumo de drogas.

    Em momentos de grandes crises, pode ser que você já tenha feito a experiência da fortaleza que nos dão a fé, a esperança e o amor. Encontramos força que não sabemos ter, quando nos colocamos em uma dinâmica de cuidado amoroso para o próximo que sofre ou mesmo quando somos diretamente atingidos pelo problema. A amizade com Deus proporciona-nos uma serenidade que nos ajuda a enfrentar as tempestades da vida.

    Serenidade, porém, é algo muito diferente de indiferença ou frieza. Não pode ser frio ou indiferente quem tem amor no coração. A Bíblia nos relata que o humaníssimo Filho de Deus chorou três vezes: diante da morte de seu amigo Lázaro e da angústia das irmãs dele, Marta e Maria (cf. Jo 11, 32-36); perante a dureza de coração do povo de Jerusalém, imerso em sua arrogância, incapaz de perceber a chegada da salvação (cf. Lc 19, 41-42); antes de sua crucificação, na agonia do horto das Oliveiras(cf. Hb 5, 7). As lágrimas são uma reação importante, até mesmo necessária, diante da percepção de uma aparente vitória do mal, que nosso coração recusa com profundidade. Não aceitamos que o mal seja forte, que ele nos oprima ou oprima nossos irmãos, por isso, choramos.

    “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5, 4). Chorar é um dom, um grande dom que devemos mesmo pedir a Deus: chorar pelo mal que nos atinge e, principalmente, chorar pelo mal com que atingimos os outros. O choro nos reconecta com nossa verdade, para além de nossas máscaras. Reconecta-nos com o profundo amor de Deus por nós, ajudando-nos a perceber que ninguém existe para sofrer o mal e muito menos para fazê-lo.

    Chorar, assim, por estranho que pareça, é condição para a alegria em Deus. Como pode ser feliz quem não se compadece da dor do próximo? Como pode ser feliz quem não sente seu coração sangrar de arrependimento por uma ofensa cometida? O verdadeiro discípulo de Jesus, tal como seu Mestre, chora diante da aflição e do pecado. Esse choro é belo, virtuoso, necessário, pois é ele que nos abre para a consolação do Espírito Santo, ternura de Deus que cura e fortalece nosso coração.

Fonte: Revista Ecoando. Ano 21, nº 83, Set-Nov/2023, págs. 6/7 (Paulus)

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF