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sábado, 7 de outubro de 2023

Bem-aventurados os que choram! (Parte 2)

Bem-aventurados os que choram! (iCatólica)

Triste é quem não chora

Por Giovanni Marques Santos

O que é uma vida triste? É uma vida tão fechada em si mesma que se sente confortavelmente consolada, mesmo diante das dores do mundo. A mentalidade consumista, que identifica felicidade e acúmulo de bens, coloca a humanidade num estado de permanente insatisfação, que só se torna mais insatisfeita após ser apaziguada com a felicidade aparente das migalhas do consumo. A mesma situação aplica-se ao sensacionalismo religioso: as pessoas vão atrás de experiências religiosas que as coloquem em um estado de transe constante, uma montanha-russa de sentimentos que apenas clama por mais sentimentos: um chororô sentimentalista e autocomplacente, um “dó de si mesmo” que nada tem a ver com as lágrimas das bem-aventuranças.

Essas vidas tão consoladas, isoladas em seu individualismo, precisam ser afligidas com a provocação da Palavra de Deus. Um mundo egoísta precisa reaprender a chorar. Foi nesse sentido que se pronunciou o papa Francisco, na primeira visita de seu pontificado em 8 de julho de 2013, à ilha de Lampedusa, na Itália, onde desembarcam, todos os dias, imigrantes clamando por auxílio, quando muitas vezes não morrem afogados durante a própria viagem. Diante da dor de tantos naufrágios num mundo injusto, assim falou o papa: “Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo da globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa! (...) Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de chorar, de ‘padecer com’: a globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar! (...) Peçamos ao Senhor que apague também o que resta de Herodes no nosso coração; peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, de chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo aqueles que, no anonimato, tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada aos dramas como este: Quem chorou? Quem chorou hoje no mundo?”

Ai de vós que agora rides, porque gemereis e chorareis” (Lc 6, 25). Deus nos livre de uma vida falsamente contente e satisfeita, que não abre seu coração para Deus nem para o próximo. Na oração, peçamos a Deus as lágrimas que lavem nosso coração do pecado, demovam-nos da indiferença e nos movam à consolação e à ação em favor de quem sofre.

Fonte: Revista Ecoando. Ano 21, nº 83, Set-Nov/2023, págs. 6/7 (Paulus)

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF