Triste é quem não chora
Por Giovanni Marques Santos
O que é uma vida triste? É uma
vida tão fechada em si mesma que se sente confortavelmente consolada, mesmo
diante das dores do mundo. A mentalidade consumista, que identifica felicidade
e acúmulo de bens, coloca a humanidade num estado de permanente insatisfação,
que só se torna mais insatisfeita após ser apaziguada com a felicidade aparente
das migalhas do consumo. A mesma situação aplica-se ao sensacionalismo
religioso: as pessoas vão atrás de experiências religiosas que as coloquem em
um estado de transe constante, uma montanha-russa de sentimentos que apenas
clama por mais sentimentos: um chororô sentimentalista e autocomplacente, um
“dó de si mesmo” que nada tem a ver com as lágrimas das bem-aventuranças.
Essas vidas tão consoladas, isoladas
em seu individualismo, precisam ser afligidas com a provocação da Palavra de
Deus. Um mundo egoísta precisa reaprender a chorar. Foi nesse sentido que se
pronunciou o papa Francisco, na primeira visita de seu pontificado em 8 de
julho de 2013, à ilha de Lampedusa, na Itália, onde desembarcam, todos os dias,
imigrantes clamando por auxílio, quando muitas vezes não morrem afogados
durante a própria viagem. Diante da dor de tantos naufrágios num mundo injusto,
assim falou o papa: “Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito
dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo da
globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao
sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é
responsabilidade nossa! (...) Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de
chorar, de ‘padecer com’: a globalização da indiferença tirou-nos a capacidade
de chorar! (...) Peçamos ao Senhor que apague também o que resta de Herodes no
nosso coração; peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, de
chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo aqueles que, no
anonimato, tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada aos dramas como
este: Quem chorou? Quem chorou hoje no mundo?”
Ai de vós que agora rides, porque
gemereis e chorareis” (Lc 6, 25). Deus nos livre de uma vida falsamente
contente e satisfeita, que não abre seu coração para Deus nem para o próximo.
Na oração, peçamos a Deus as lágrimas que lavem nosso coração do pecado, demovam-nos
da indiferença e nos movam à consolação e à ação em favor de quem sofre.
Fonte: Revista
Ecoando. Ano 21, nº 83, Set-Nov/2023, págs. 6/7 (Paulus)
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