Das Cartas de São Cipriano, bispo e mártir
(Ep.6,1-2:CSEL3,480-482)
(Séc. III)
Todos os que desejamos alcançar as promessas do Senhor, devemos
imitá-lo em tudo
Eu
vos saúdo, irmãos caríssimos, ansioso por gozar da vossa presença, se o lugar
onde estou me permitisse ir até vós. Que me poderia acontecer de mais desejável
e alegre que estar junto a vós neste momento, para apertar essas mãos, puras e
inocentes, que por fidelidade ao Senhor recusaram os sacrifícios sacrílegos?
Que
haveria para mim de mais agradável e sublime que beijar agora os vossos lábios
que proclamaram a glória do Senhor, como também ser visto por vossos olhos que,
desprezando o mundo, se tornaram dignos de contemplar a Deus?
Mas,
como não me é dada essa alegria, eu vos envio esta carta, que me substituirá
ante os vossos olhos e ouvidos. Por ela vos felicito e ao mesmo tempo exorto a
perseverardes fortes e inabaláveis na proclamação da glória celeste. Uma vez no
caminho da graça do Senhor, deveis prosseguir com espírito forte até
conquistardes a coroa, tendo o Senhor como protetor e guia, pois ele disse: Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo (Mt
28,20).
Ó
cárcere feliz, iluminado pela vossa presença! Ó cárcere feliz, que leva para o
céu os homens de Deus! Ó trevas mais luminosas que o próprio sol e mais
brilhantes que a luz deste mundo, onde estão agora colocados os templos de
Deus, que são os vossos corpos santificados pela proclamação da fé!
Nada
mais ocupe agora vossas mentes e corações, senão os preceitos divinos e os
mandamentos celestes, pelos quais o Espírito Santo sempre vos animou a suportar
os sofrimentos. Ninguém pense na morte mas na imortalidade nem no sofrimento
passageiro, mas na glória eterna. Pois está escrito: É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus justos (Sl 115,15). E
também: É um sacrifício agradável a
Deus um espírito que sofre; Deus não desprezará um coração contrito e humilhado (Sl 50,19).
E
ainda em outro lugar fala a Escritura divina dos tormentos que consagram os
mártires de Deus e os santificam pelas provações dos sofrimentos: Embora tenham suportado tormentos diante dos homens, sua esperança
está cheia de imortalidade. Julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor
reinará sobre eles para sempre (Sb 3, 4.8).
Assim,
quando vos lembrais de que ides julgar e reinar com o Cristo Senhor, a alegria
é que deve prevalecer em vós, superando os suplícios presentes pela exultação
futura. Bem sabeis que, desde o princípio, a justiça está em luta com o mundo:
logo na origem da humanidade, o justo Abel foi assassinado, como depois dele
todos os justos, profetas e apóstolos enviados por Deus.
A
todos eles o Senhor quis dar a si mesmo como exemplo, ensinando que só aqueles
que seguissem o seu caminho poderiam entrar em seu reino: Quem ama a sua vida neste mundo, perdê-la-á. E quem odeia a sua
vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna (Jo 12,25). E ainda: Não temais os que matam os corpos, não podem, contudo, matar a
alma; temei antes aquele que pode matar na geena a alma e o corpo (Mt 10,28).
São Paulo também nos exorta a imitar em tudo o Senhor, se desejamos alcançar as suas recompensas. Diz ele: Somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros – herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se realmente sofremos com ele, é para sermos também glorificados com ele (Rm 8,17).
Fonte: https://liturgiadashoras.online/
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