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segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Deve-se seguir sempre a consciência? (Parte 3)

(Crédito: Presbíteros)

Deve-se seguir sempre a consciência?

Por Robert Spaemann

Se a consciência não é simplesmente um produto da educação nem se identifica com o “super eu”, será então algo inato? Uma espécie de instinto social inato? Também não é este o caso, já que um instinto se segue instintivamente; mas o “eu não posso atuar de outro modo” dos que atuam por instinto se diferencia como o dia da noite do “eu não posso atuar de outro modo” de que obra em consciência.

Aquele que se sente arrastado, privado de liberdade; bem que queria atuar de outro modo, mas não pode. Está em discórdia consigo mesmo. E o “aqui estou eu, não posso agir de outro modo” do que atua em consciência é, pelo contrário, expressão de liberdade. Diz o equivalente a: “não quero outra coisa”. “Não posso querer outra coisa e também não quero poder outra coisa.” Esse homem é livre. Como afirmavam os gregos, esse homem é amigo de si mesmo.

Então, de onde vem a consciência? Mas também poderíamos perguntar: de onde vem a linguagem? Por que falamos? Dizemos, naturalmente, que falamos porque o aprendemos dos nossos pais. Quem jamais ouviu uma pessoa falar, segue mudo e, se não se comunica de alguma maneira, então não chega sequer a pensar. Entretanto, ninguém afirmará que a linguagem é uma hetero-determinação interiorizada.

E que seria uma hetero-determinação? Seguramente não se pode dizer que o homem seja, por si mesmo, uma essência que fala ou que pensa. A verdade é a seguinte: o homem é um ser que necessita da ajuda dos outros para chegar a ser o que propriamente é. Isto vale também para a consciência. Em todos os homens há como um germe de consciência, um órgão do bem e do mal. Quem conhece as crianças sabe que isso se aprecia facilmente neles. Têm um agudo sentido para a justiça e se revelam quando a vêem lesionada. Tem sentido para o autêntico e para o falso, para a bondade e para a sinceridade; mas esse órgão se atrofia se não vêem os valores encarnados numa pessoa com autoridade. Entregues demasiado cedo ao direito do mais forte, perdem o sentido da pureza, da delicadeza e da sinceridade. Por isso, a palavra é antes de tudo um meio de transparência e de verdade. Mas quando, por medo às ameaças, aprendem que é necessário mentir para livrar-se delas, ou experimentam que seus pais não lhes dizem a verdade e empregam a mentira na vida diária como normal instrumento de progresso, desaparece o brilho de suas consciências, que se deformam: a consciência perde a delicadeza. A consciência delicada e sensível é característica de um homem interiormente livre e sincero, coisa que nada tem a ver com o escrupuloso que, em vez de contemplar o bom e o reto, observa sempre a si mesmo e contempla com angústia cada um dos seus próprios passos. Eis aqui uma espécie de enfermidade.

Pois bem, há pessoas que em por enfermidade uma má consciência. Consideram tarefa do psicólogo tirar da pessoa essa má consciência, o assim chamado “sentido de culpabilidade”. Mas em realidade, o que é uma enfermidade é não poder ter uma má consciência ou sentimento de culpabilidade, quando se tem realmente uma culpa. O mesmo que é uma enfermidade e um perigo para a vida o não sentir dor. Para o que está são, a má consciência é sinal de uma culpa, de um comportamento que se opõe ao próprio ser e à realidade.

A revisão dessa atitude é denominada arrependimento. Como demonstrou o filósofo Max Scheler, não consiste num remover sem sentido o passado, quando o mais adequado seria simplesmente tentar de fazer melhor no futuro. E não se pode fazer algo melhor se persiste o mesmo posicionamento que o levou a atuar mal em ocasiões anteriores. O passado não pode ser reprimido: é necessário olhá-lo conscientemente, ou seja, deve-se mudar conscientemente uma má atitude. E como não se trata de algo puramente racional, mas que intervém também a constituição emocional, a mudança de atitude significa uma espécie de dor por haver atuado injustamente. O psicólogo Mitscherlich trata o papel da tristeza.

No fundo esperamos esse arrependimento. Não confiaríamos num homem que, depois de atormentar uma criança, paralisando-a psiquicamente, explicasse logo, rindo, que basta uma vítima e que às demais tratará bem. Se a dor do passado não lhe comove e cambia sua má consciência, isso significa que seguirá sendo o que era.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF