Voltemos nosso olhar à Mãe Aparecida e peçamos que, como em Caná da Galileia (cf. Jo 2,1-11), Ela interceda, hoje e sempre, junto a Jesus Cristo.
No dia 12 de outubro, celebramos, no Brasil, a solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Daí a razão deste artigo que reproduz um trecho da Antologia de autores cartuxos (Cultor de Livros, 2020, p. 260-261) referente à Mãe de Deus e nossa.
O texto é de Guigo II († 1192/93) e se intitula “Mãe de misericórdia”. Desse monge temos apenas notícias escassas. Aparece a primeira vez em um documento de 1173 como procurador da Grande Cartuxa; depois, foi eleito prior da comunidade (1173/74). Em 1180, renunciou ao cargo de prior e voltou à vida de simples monge de cela. Morreu em 6 de abril de 1192 ou 1193. Dito isso, passemos à sua bela e profunda reflexão.
Ó Virgem das virgens, Senhora minha, de aparência belíssima que “até os anjos desejam contemplar” (1Pd 1,12b), dirige, peço-Te, para mim o teu olhar virginal; digna-Te a molhar a ponta do teu dedo na ânfora para umedecer, ainda que seja apenas com uma gota d’água, minha língua cansada e ressecada. Sei, minha Senhora, com que amor incomparável e benevolência olhas para cada um dos servos do grande Abraão para oferecer-lhes a bebida da tua misericórdia, não só a todo homem que pede, mas também aos seus camelos (cf. Gn 24,19).
“Toda formosa és, amada minha, não há mancha em Ti” (Ct 4,7); belíssima de rosto, castíssima de corpo, santíssima de espírito e, o que é particularmente esplêndido em Ti, prontíssima em socorrer as necessidades dos miseráveis. Com efeito, és Tu quem primeiro extrai a água dos mais profundos mananciais da misericórdia, levas tua ânfora cheia de graça às costas de tua poderosa compreensão. Que fez, pois, aquela donzela que era figura tua, ó minha Senhora? “Rapidamente”, diz a Escritura, “desceu a ânfora do seu braço” (Gn 24,18) e, não contente em dar de beber àquele que lhe pediu, “também para teus camelos” – disse – “tirarei água para que possam beber” (Gn 24,19). Isso significa, ó Santíssima Virgem, que dás de beber também a mim desfigurado pecador, corcunda e tortuoso. Verdadeiramente, te compadeces de nossas misérias além do que podemos pedir, esperar ou pensar. […]
Ó Virgem, belíssima por teu rosto e por tua virgindade, concedes-me, também Te imploro, essa bebida e prepares-me um lugar onde eu habite esta noite, já que perto de Ti, como dizes, há um lugar amplo para ficar. Esta terra em que habitamos é estreita e os homens acham, por isso, motivos para litigar: minha é a terra, meu é o manancial, minha a floresta. Mas Contigo o espaço para habitar é amplo. […] Introduze-me, Mãe Misericordiosa, na casa de teu Pai para que eu não fique de fora, não seja consumido pelo gelo e o frio, nem agredido pelos terrores da noite. Introduze-me para que, depois de haver me lavado os pés, descanse […] até que “sopre a brisa do dia e se espalhem as sombras” (Ct 2,17).
Tu me conduzirás ao Teu esposo Isaac. […] És verdadeiramente aquela que o Senhor preparou para o filho do meu Amo (cf. Gn 24,44), para ser sua mãe, sua esposa e irmã. […] És, realmente, selecionada e escolhida entre todas as mulheres; és cheia de graça, “o Senhor está contigo” (Lc 1,28).
O Senhor, Deus Pai, te preparou para o Senhor Deus, seu Filho; para nos preparares para Ele. Tu, que te dignas tomar assento nas costas deste camelo que se ajoelha diante de Ti, preparas o teu próprio Filho para nós; faze-nos favoráveis a Ele no dia em que se levantará para golpear a terra com o sopro de sua boca. (Meditatio VII, pp. 158-163).
Com essa rica meditação, voltemos nosso olhar à Mãe Aparecida e peçamos que, como em Caná da Galileia (cf. Jo 2,1-11), Ela interceda, hoje e sempre, junto a Jesus Cristo – seu Filho e nosso irmão – pelo Brasil e por todos os seus habitantes. Amém!
Nossa Senhora da Conceição Aparecida, rogai por nós!
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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