Francisco falou no início da
Congregação do Sínodo na tarde desta quarta-feira e reiterou a importância das
mulheres na Igreja: "Elas sabem esperar, descobrir o caminho, além do
limite, com medo e coragem". Em seguida, lamentou o "escândalo"
dos padres que experimentam em alfaiatarias batinas de renda. Finalmente, ele
lembra a importância do povo de Deus: "quando você quiser saber o que a
Igreja diz, leia o magistério, mas para pensar como a Igreja se dirigia ao
povo".
Salvatore
Cernuzio – Vatican News
A mulher,
"reflexo" de uma Igreja que tem um rosto feminino. Os sacerdotes e o
"escândalo" das roupas eclesiásticas de alfaiataria e, às vezes, das
atitudes "machistas e autoritárias". A Igreja às vezes reduzida a um
"supermercado da salvação" com uma lista de preços para os
sacramentos. Depois, o clericalismo, que é como um "chicote" e que
"arruína" o povo santo de Deus. O povo de Deus, de fato, "santo
e pecador", "infalível na crença", com tanta
"paciência", deve suportar "maus-tratos e a marginalização do
clericalismo institucionalizado".
Estas são
algumas das reflexões que o Papa ofereceu na tarde desta quarta-feira aos
participantes do Sínodo reunidos na Sala Paulo VI para a 17ª Congregação Geral,
durante a qual se seguiram os discursos com as "impressões gerais"
sobre o Relatório Síntese que será publicado no sábado, 28 de outubro. Antes,
porém, a palavra do Pontífice que, sentado à mesa central, em espanhol, quis
chamar a atenção para a "Igreja como povo de Deus". Aquele povo ao
qual os membros do Sínodo dirigiram uma Carta nesta quarta, e na qual
reiteraram a vontade de ouvir "todos".
A Igreja como o povo fiel de Deus
"Gosto
de pensar na Igreja como o povo fiel de Deus, santo e pecador, um povo chamado
e convocado com a força das bem-aventuranças e de Mateus 25", começou
Francisco.
Jesus, para
sua Igreja, não adotou nenhum dos esquemas políticos de seu tempo: nem
fariseus, nem saduceus, nem essênios, nem zelotes. Nenhuma "corporação
fechada"; ele simplesmente assumiu a tradição de Israel: "Vocês serão
o meu povo e eu serei o seu Deus".
Santo e pecador
"Gosto",
confessa o Papa, "de pensar na Igreja como um povo simples e humilde que
caminha na presença do Senhor. E é "ainda mais belo" falar do povo
santo de Deus". "Santo e pecador, todos", mas um povo "fiel".
Digo povo
fiel para evitar cair nas muitas abordagens e esquemas ideológicos com os quais
a realidade do povo de Deus é "reduzida".
Infalível na crença
Uma das
características desse povo é sua "infalibilidade": "Sim, é
preciso dizer: é infalível na fé...". "Infallibilitas in
credendo", como diz a Lumen Gentium.
Quando você
quiser saber o que a Santa Mãe Igreja quer dizer, leia o Magistério, mas se
quiser pensar como crê a Igreja, dirija-se ao povo.
Esse povo
fiel "tem uma alma", diz o Papa Francisco, e "porque podemos
falar da alma de um povo, podemos falar de uma hermenêutica, de um modo de ver
a realidade, de uma consciência". Uma "consciência da
dignidade", como demonstram o batismo dos filhos, o sepultamento dos
mortos.
A fé transmitida pelas mães e avós
Desse povo
também vêm "os membros da hierarquia", desse povo eles receberam a
fé, enfatiza o Papa. Como em tantas outras ocasiões, recorda as mães, as avós:
"Tua mãe e tua avó, diz Paulo a Timóteo". "A fé é transmitida em
um dialeto feminino. Como a mãe dos Macabeus que falava em dialeto com seus
filhos", enfatiza Francisco: "gosto muito de pensar que, no santo
povo de Deus, a fé é sempre transmitida em dialeto e, geralmente, em dialeto
feminino. Isso não se deve apenas ao fato de que a Igreja é mãe e são precisamente
as mulheres que melhor a refletem". Daí um aparte sobre a importância das
mulheres na Igreja.
A Igreja é
mulher, mas porque são as mulheres que sabem esperar, que sabem descobrir os
recursos da Igreja, do povo fiel, que vão além do limite, talvez com medo, mas
corajosas, e no claro-escuro de um dia que inicia, aproximam-se de um túmulo
com a intuição (ainda não esperançosa) de que pode haver algo vivo. A mulher é
um reflexo da Igreja, a Igreja é feminina, é uma esposa e mãe.
A lista de preços dos sacramentos
Portanto,
"quando os ministros "excedem em seu serviço e maltratam o povo de
Deus, desfiguram o rosto da Igreja, arruínam-na com atitudes machistas e
ditatoriais", lamenta o Pontífice. "É doloroso", acrescenta,
"encontrar em alguns escritórios paroquiais a 'lista de preços' dos
serviços sacramentais como em um supermercado. Ou a Igreja é o povo fiel de
Deus em caminho, santo e pecador, ou acaba sendo uma empresa de vários
serviços, e quando os agentes pastorais tomam esse segundo caminho, a Igreja se
torna o supermercado da salvação e os sacerdotes simples funcionários de uma
multinacional".
Clericalismo "chicote" e "flagelo
Esse é o
"grande fracasso" ao qual o clericalismo leva. Igual amargura, ou
melhor, “dor”, o Papa expressa por aqueles "jovens sacerdotes" que se
veem nas lojas de alfaiataria eclesiástica "experimentando batinas e
chapéus ou vestidos com rendas". "Chega", diz ele, "isso é
realmente um escândalo.
"O
clericalismo é um chicote, é um flagelo, uma forma de mundanismo que suja e
danifica a face da esposa do Senhor, escraviza o santo povo fiel de Deus".
O mundanismo maltrata o povo de Deus
Povo que,
no entanto, "continua a avançar com paciência e humildade": "com
quanta paciência devem tolerar o desperdício, os maus-tratos, as exclusões por
parte do clericalismo institucionalizado", exclama o Papa Francisco.
"E com que naturalidade falamos dos 'príncipes da Igreja', ou das
promoções episcopais como promoções de carreira! Os horrores do mundo, o
mundanismo que maltrata o povo santo e fiel de Deus."
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