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domingo, 29 de outubro de 2023

O Relatório de Síntese: uma Igreja que envolve todos e está próxima das feridas do mundo (PARTE I)

A assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade reunida na Sala Paulo VI (Vatican Media)

Foi publicado o Relatório de Síntese na conclusão da XVI Assembleia Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade. Em vista da segunda sessão em 2024, são oferecidas reflexões e propostas sobre temáticas como o papel das mulheres e dos leigos, o ministério dos bispos, o sacerdócio e o diaconato, a importância dos pobres e migrantes, a missão digital, o ecumenismo e os abusos.

Salvatore Cernuzio - Vatican News

Mulheres e leigos, diaconato, ministério e magistério, paz e meio ambiente, pobres e migrantes, ecumenismo e identidade, novas linguagens e estruturas renovadas, antigas e novas missões (também digitais), ouvir todos e aprofundar - não superficialmente - sobretudo, mesmo as questões mais "polêmicas". Há um olhar renovado sobre o mundo e a Igreja e às suas instâncias, no Relatório de Síntese aprovado e publicado neste sábado (28) pela XVI Assembleia Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade. Após quatro semanas de trabalho, que começaram em 4 de outubro na Sala Paulo VI, o evento eclesial conclui neste sábado (28), no Vaticano, a sua primeira sessão.

Cerca de 40 as páginas do documento, fruto do trabalho da assembleia que "se realizou enquanto velhas e novas guerras assolam o mundo, com o drama absurdo de inúmeras vítimas". "O grito dos pobres, dos que são obrigados a migrar, dos que sofrem violência ou sofrem as consequências devastadoras das mudanças climáticas ressoou entre nós, não só através da mídia, mas também das vozes de muitos, pessoalmente envolvidos com suas famílias e povos nesses trágicos acontecimentos", diz o documento (Premissa).

A esse desafio e a muitos outros, a Igreja universal tentou oferecer uma resposta nos Círculos Menores e nas intervenções. Tudo foi reunido no Relatório de Síntese, dividido em três partes, que traça o caminho para o trabalho a ser realizado na segunda sessão em 2024.

Os trabalhos na Sala Paulo VI (Vatican Media)

Ouvir todos, começando pelas vítimas de abusos

Como na Carta ao Povo de Deus, a assembleia sinodal reafirmou "a abertura para ouvir e acompanhar todos, inclusive aqueles que sofreram abusos e ferimentos na Igreja" (1 e). Ao longo do caminho a ser percorrido "rumo à reconciliação e à justiça", "é preciso abordar as condições estruturais que permitiram tais abusos e fazer gestos concretos de penitência".

O rosto de uma Igreja sinodal

A sinodalidade é um primeiro passo. Um termo que os próprios participantes do Sínodo admitem ser "desconhecido para muitos membros do Povo de Deus" e "desperta confusão e preocupação em alguns" (1 f), entre aqueles que temem um afastamento da tradição, um rebaixamento da natureza hierárquica da Igreja (1 g), uma perda de poder ou, ao contrário, imobilidade e falta de coragem para mudar. Em vez disso, "sinodal" e "sinodalidade" são termos que "indicam um modo de ser Igreja que articula comunhão, missão e participação". Portanto, uma maneira de viver a Igreja, valorizando as diferenças e desenvolvendo o envolvimento ativo de todos. Começando pelos presbíteros e bispos: "uma Igreja sinodal não pode prescindir de suas vozes" (1 n), se lê no documento. "Precisamos entender as razões da resistência à sinodalidade por parte de alguns deles".

Missão

A sinodalidade anda de mãos dadas com a missão, portanto, é necessário que "as comunidades cristãs compartilhem a fraternidade com homens e mulheres de outras religiões, convicções e culturas, evitando, por um lado, o risco da autorreferencialidade e da autopreservação e, por outro, o da perda de identidade" (2 e). Nesse novo "estilo pastoral", parece importante para muitos tornar "a linguagem litúrgica mais acessível aos fiéis e mais incorporada à diversidade de culturas" (3 l).

Alguns participantes do Sínodo (Vatican Media)

Os pobres ao centro

Um amplo espaço no Relatório é dedicado aos pobres, que pedem à Igreja "amor" entendido como "respeito, acolhimento e reconhecimento" (4 a). "Para a Igreja, a opção pelos pobres e descartados é uma categoria teológica antes de ser cultural, sociológica, política ou filosófica" (4 b), reitera o documento, identificando como pobres também os migrantes, os indígenas, as vítimas de violência, de abusos (especialmente mulheres), de racismo e tráfico, pessoas com vícios, minorias, idosos abandonados, trabalhadores explorados (4 c). "Os mais vulneráveis dos vulneráveis, para os quais é necessária uma defesa constante, são as crianças no ventre materno e suas mães", diz o texto da assembleia, que afirma estar "ciente do grito dos 'novos pobres' produzido pelas guerras e pelo terrorismo, também causado por 'sistemas políticos e econômicos corruptos'".

Compromisso dos crentes com a política e o bem comum

Nesse sentido, exorta-se um comprometimento da Igreja tanto com a "denúncia pública das injustiças" perpetradas por indivíduos, governos e empresas quanto com o engajamento ativo na política, nas associações, nos sindicatos e nos movimentos populares (4g). Sem descuidar da ação consolidada da Igreja nos campos da educação, da saúde e da assistência social, "sem qualquer discriminação ou exclusão de quem quer que seja" (4 k).

Uma pausa nos trabalhos do Sínodo (Vatican Media)

Migrantes

O foco se concentra nos migrantes e refugiados, "muitos dos quais carregam as feridas do desenraizamento, da guerra e da violência". Eles "se tornam uma fonte de renovação e enriquecimento para as comunidades que os acolhem e uma oportunidade de estabelecer um vínculo direto com Igrejas geograficamente distantes" (5d). Diante de atitudes cada vez mais hostis em relação a eles, o Sínodo convida "a praticar uma acolhida aberta, a acompanhá-los na construção de um novo projeto de vida e a construir uma verdadeira comunhão intercultural entre os povos". Fundamental nesse sentido é o "respeito às tradições litúrgicas e às práticas religiosas", bem como à linguagem.

Por exemplo, uma palavra como "missão", nos contextos em que "a proclamação do Evangelho tem sido associada à colonização e até mesmo ao genocídio", está carregada de "um doloroso legado histórico" e dificulta a comunhão (5 e). "Evangelizar nesses contextos requer o reconhecimento dos erros cometidos, aprendendo uma nova sensibilidade para essas questões", afirma o documento.

Combater o racismo e a xenofobia

Pede-se igual empenho e cuidado da Igreja "em educar para uma cultura do diálogo e do encontro, combatendo o racismo e a xenofobia, especialmente nos programas de formação pastoral" (5 p). Também é urgente "identificar os sistemas que criam ou mantêm a injustiça racial dentro da Igreja e combatê-los" (5 q).

Igrejas Orientais

Ainda sobre o tema da migração, o olhar vai para a Europa Oriental e os recentes conflitos que causaram o fluxo de numerosos fiéis do Oriente católico para territórios de maioria latina. "É necessário", diz o pedido dos padres, "que as Igrejas locais de rito latino, em nome da sinodalidade, ajudem os fiéis orientais que emigraram a preservar a sua identidade", sem passar por "processos de assimilação" (6c).

Alguns participantes da assembleia sinodal (Vatican Media)

No caminho da unidade dos cristãos 

No que diz respeito ao ecumenismo, fala-se de uma "renovação espiritual" que requer "processos de arrependimento" e "cura da memória" (7c); em seguida, cita a expressão do Papa de um "ecumenismo do sangue", ou seja, "cristãos de diferentes pertenças que juntos dão a vida pela fé em Cristo" (7d) e se relança a proposta de um martirológio ecumênico (7o). O Relatório também reitera que a "colaboração entre todos os cristãos" é um recurso "para curar a cultura do ódio, da divisão e da guerra que coloca grupos, povos e nações uns contra os outros". Ele não esquece a questão dos chamados casamentos mistos, que são realidades nas quais "podemos evangelizar uns aos outros" (7 f).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF